UE no impasse entre livres fronteiras e ajuda a refugiados
6 de fevereiro de 2016
Ministros europeus do Exterior se reúnem em Amsterdã na busca de solução conjunta para a crise migratória intensificada. Debates já revelam graves ameaças tanto para o Espaço de Schengen quanto para a coesão europeia.
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Os ministros do Exterior da União Europeia participam de um encontro informal neste sábado (06/02), em Amsterdã, na busca de soluções para a nova onda migratória que se anuncia. Um grande temor que paira é o eventual fim do Espaço de Schengen, livre de controles de fronteiras entre grande parte dos Estados da Europa. Também participam do encontro diversos países dos Bálcãs e a Turquia.
A Hungria apoia a sugestão da Áustria de que se detenham os refugiados chegados pela Grécia na fronteira com a Macedônia, mediante a mobilização de policiais e soldados. Se Atenas não quiser ou não estiver em condições de defender os limites externos da UE, então o bloco precisará de "uma outra linha de defesa", declarou o chefe da diplomacia húngara, Peter Szijjarto, acrescentando que esta terá que ser erguida "na Macedônia e na Bulgária, ao que tudo indica".
Nesta sexta-feira, o ministro do Exterior austríaco, Sebastian Kurz, anunciara que a Macedônia e outros Estados balcânicos estariam dispostos a cooperar com a UE na proteção de fronteiras. Também ele se referiu às dificuldades da Grécia na proteção das fronteiras externas do bloco com a Turquia. Se o país não conseguir isso em breve, "vamos encontrar outros meios", ameaçou o político conservador de 29 anos.
Migração "na carona" da guerra civil síria?
Na conferência em Amsterdã, o comissário da UE para Ampliação, Johannes Hahn, rebateu: as nações dos Bálcãs não podem virar "estacionamento de refugiados". Ele alertou contra um "efeito dominó", caso Estados europeus isolados tentem impor medidas individuais. "Precisamos encontrar uma solução europeia", o que significa também o fortalecimento das fronteiras externas, pleiteou o político austríaco.
À margem da conferência, Hahn mencionou que, dos refugiados chegados à Grécia, atualmente menos de 40% são sírios, sendo que parte deles possivelmente apresentou um passaporte falso. "Esta é uma dimensão adicional, que, por assim dizer, na carona da crise dos refugiados, tenha se estabelecido um fluxo intensificado de migração."
O comissário ressalvou, contudo, que essa situação poderá mudar rapidamente, em face das violentas confrontações na província síria de Aleppo. Hahn apelou a Ancara para que abra suas fronteiras com a Síria àqueles que fogem dos conflitos. Continua valendo a Convenção de Genebra, "segundo a qual devem se acolher os refugiados".
A chefe da política externa da UE, Federica Mogherini, igualmente recordou a Turquia o "dever moral e legal" de ajudar os refugiados. Dezenas de milhares de sírios estão aguardando permissão para ingressar no território turco.
Reunião sob impasse
O chefe da diplomacia de Luxemburgo, Jean Asselborn defendeu o diálogo com Moscou para que tenha fim a ofensiva do governo sírio em Aleppo. Com grande probabilidade, os combates na província no norte da Síria deverão resultar numa "grande onda humana vindo em nossa direção", antevê Asselborn. Enquanto aliada do regime do presidente Bashar al-Assad, a Rússia apoia as tropas governamentais sírias.
Assim, a capacidade de decisão e ação na capital holandesa é restringida por uma trama de interesses e motivações conflituosos, tendo, de um lado, a pressão dos acontecimentos imediatos e, do outro, o princípio ético e humanitário do auxílio aos necessitados.
Os ministros europeus do Exterior enfrentam, ainda, um outro sério impasse: como não sobrecarregar ainda mais os Estados-membros da UE que já acolheram um grande número de migrantes, preservando, ao mesmo tempo, as livres fronteiras garantidas pelo Tratado de Schengen.
AV/rtr/afp/dpa
As fronteiras mais protegidas do mundo
Elas não dividem apenas países, mas separam pais de filhos, ricos de pobres, cristãos de muçulmanos. Conheça algumas das fronteiras mais vigiadas e controversas.
Foto: Wualex
Sérvia-Hungria: coração da rota dos Bálcãs
Numa imagem simbólica da atual crise, migrantes entram na União Europeia ao cruzarem trilhos entre a Sérvia e a Hungria. Em setembro, a fronteira foi fechada, obrigando os refugiados a buscarem novas rotas. Em agosto deste ano, a quantidade de pessoas detectadas nas fronteiras da Europa ultrapassou o número registrado em todo o ano passado: foram 350 mil, sem contar as que entraram despercebidas.
Foto: DW/J. Stonington
A ponte coreana sem volta
A fronteira entre as Coreias do Sul e do Norte está fechada e altamente militarizada há 62 anos. Esta placa marca uma "ponte sem volta", vista na foto do lado sul-coreano. Desde o fim da década de 1990, cerca de 28 mil norte-coreanos fugiram para o país vizinho. Recentemente, ambos os países concordaram em permitir que familiares se reunissem perto da fronteira.
Foto: Edward N. Johnson
A longa fronteira entre EUA e México
Muros e cercas protegem um terço de toda a fronteira, ou 1.126 quilômetros, depreciativamente chamados de "parede de tortilla" pelos americanos. Com 18.500 oficiais posicionados ao longo dela, a fronteira é uma das mais vigiadas do mundo. Mesmo assim, milhões tentam a sorte nos Estados Unidos. Em 2012, 6,7 milhões de mexicanos viviam no país vizinho como imigrantes ilegais.
Foto: Gordon Hyde
700 deportações por dia
A fronteira entre EUA e México é fonte de atritos políticos e de profundas tensões. Esta cena pacífica, no lado mexicano, ilude. A cada dia, 700 pessoas são deportadas de volta para o México. Para aqueles que passaram muitos anos em território americano, não é fácil se readaptar à velha casa.
Foto: DW/G. Ketels
Marrocos-Espanha: Pobreza e campos de golfe
Duas realidades econômicas distintas se chocam nos enclaves espanhóis de Melilla e Ceuta, que fazem fronteira com o Marrocos. Refugiados de toda a África buscam uma maneira de colocar os pés num país europeu para ali pedirem asilo. Muitos tentam pular as cercas ao redor dos enclaves. Com uma série de barreiras e o Marrocos agindo de forma mais ativa, menos cenas como esta têm ocorrido.
Foto: picture-alliance/dpa
Brasil-Bolívia: qual lado é menos verde?
De acordo com imagens de satélite, o limite do desmatamento brasileiro é definido pela fronteira com a Bolívia. Nos últimos 50 anos, o Brasil desmatou, legal e ilegalmente, 20% da Floresta Amazônica no país. Contudo, a Bolívia também está ameaçada pelo desmatamento e precisa ser estudada com mais profundidade, segundo cientistas.
Foto: Nasa
Haiti-Rep. Dominicana: Uma ilha, dois mundos
Apesar de ambos os países dividirem a mesma ilha, a realidade entre eles é bem distinta. A República Dominicana é um paraíso turístico, enquanto o Haiti é um dos países mais pobres do planeta. Logo, muitos haitianos se mudam para o país vizinho. Em 2015, o governo dominicano enrijeceu as leis de migração, fazendo com que cerca de 40 mil haitianos voltassem para casa.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bueno
Tensão entre Egito e Israel
Com deserto de um lado e uma aglomeração urbana do outro, a fronteira entre Egito e Israel separa uma maioria islâmica de uma maioria judaica. A paz que reinou na região por mais de 30 anos foi substituída recentemente por violência, militarização e tensões diplomáticas. No fim de 2013, Israel conclui a construção de uma cerca dividindo os dois territórios.
Foto: NASA/Chris Hadfield
Paquistão-Índia: 'linha de controle'
Durante o primeiro conflito armado entre Paquistão e Índia, entre 1947 e 1949, a região da Caxemira foi dividida por uma "linha de controle" entre a parte paquistanesa, com maioria muçulmana, e a parte indiana, de maioria hindu e budista. A linha, contudo, não impediu ataques terroristas que visavam instaurar uma Caxemira islâmica – resultando na morte de cerca de 43 mil pessoas desde 1993.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Singh
Saara Ocidental: o muro marroquino
Até 1976, o Saara Ocidental era uma colônia espanhola. Para reivindicar o território, o rei do Marrocos enviou 350 mil pessoas à região. Os nativos, porém, iniciaram um movimento de independência chamado de Frente Polisário. O conflito dividiu o Saara Ocidental entre a República Árabe Saaraui Democrática e o Marrocos. Entre os dois territórios há uma barreira de areia, altamente militarizada.
Foto: Getty Images/AFP/P. Hertzog
Israel-Cisjordânia: Conflito sob pedras
Desde 2002, foram construídos muros e cercas controversas, que já atingem uma extensão de 759 quilômetros. Em áreas densamente povoadas, como nesta foto, de Jerusalém, um muro de concreto de nove metros de altura fortifica a fronteira entre Israel e a Cisjordânia. Em 2004, a Justiça decidiu que a construção de um muro nas áreas palestinas não é compatível com as leis internacionais.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sultan
Três países, uma só fronteira
Em algumas partes do mundo, as fronteiras não são demarcadas por patrulhas, cercas ou muros. Esta pedra com três faces sinaliza a divisa entre três países: Alemanha, Áustria e República Tcheca – parte do espaço Schengen. O trânsito livre entre essas fronteiras só foi limitado recentemente por causa da crise dos refugiados na Europa.