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Política fluvial torna-se palavra-chave na Alemanha

(sv)18 de setembro de 2002

Após encontro de políticos e representantes de associações ambientais, governo anuncia pacote de medidas para prevenção de enchentes. Tema suscita discussão sobre rumos da política ambiental após as próximas eleições.

Eclusa em Eberswalde, na via fluvial que liga Berlim ao extremo leste do paísFoto: WSA Eberswalde

Mais espaço para os rios. Foi essa a premissa básica estabelecida no último domingo (15), em Berlim, pelos ministros alemães do Meio Ambiente, Economia, Transportes, Agricultura e Defesa do Consumidor, ao lado dos Secretários do Meio Ambiente de vários estados da federação. Com a participação de associações de ambientalistas, foi realizada na capital alemã a "Conferência Nacional dos Rios".

Programa de cinco pontos -

O resultado do encontro foi resumido em um "programa de cinco pontos", com o qual o atual governo pretende levar a cabo as "lições recebidas durante as recentes inundações provocadas pelo rio Elba". Pretende-se, com o documento, dar novo curso à "política fluvial " no país. O termo, aliás, tornou-se nas últimas semanas uma das palavras-chave da política alemã.

Entre os planos do governo, está planejada uma ampliação das zonas a serem atingidas pelos rios do país, caso o volume de água destes venha a extrapolar o previsto. Pretende-se também reduzir ao máximo as superfícies habitadas suscetíveis de inundações, não permitindo, por exemplo, a criação de células urbanas nestas regiões.

Tráfego fluvial -

Um dos pontos mais polêmicos discutidos pela Conferência de Berlim diz respeito à ampliação dos rios para o tráfego fluvial. Até o início do próximo ano, o ministério dos Transportes deverá expor um novo planejamento de organização do tráfego nos rios do país, de forma a causar cada vez menos danos ao meio ambiente. A comissão sugere, inclusive, que a construção de diques, no futuro, seja feita com maior distância das margens dos rios, para que as águas, em caso de inundação, possam escoar com mais facilidade e rapidez.

Agricultura extensiva - Além disso, a preservação de várzeas e o resgate do estado natural dos rios deverão contribuir para que eventuais enchentes mantenham-se restritas a determinadas superfícies, não causando assim prejuízos a áreas habitadas. A ministra alemã da Agricultura e Defesa do Consumidor, Renate Künast, anunciou ainda o início de um programa que restringe o uso de áreas próximas a margens de rios apenas à agricultura extensiva.

Os especialistas reunidos em Berlim planejam também acatar de imediato a oferta da União Européia de co-financiar projetos de prevenção de enchentes em todo o território alemão. O presidente da organização de proteção ao meio ambiente NABU, Gerd Billen, saudou a iniciativa do governo de dar início ao programa, que deverá contar com a participação ativa da federação, dos estados e das comunidades.

Críticas -

Embora elogiado por ambientalistas, o programa apresentado foi criticado por políticos da oposição, como o secretário bávaro do Meio Ambiente, Werner Schnappauf, da consevadora União Social Cristã (CSU). Para Schnappauf, a conferência não passa de "uma agitação do governo para disfarçar a sua inatividade de anos na prevenção de enchentes". Também a Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK) rejeitou as propostas do governo de impedir a construção de novas áreas residenciais e comerciais em regiões suscetíveis de serem inundadas.

Campanha eleitoral -

O pacote de medidas anunciado em Berlim faz parte de um dos pontos mais sensíveis da campanha eleitoral alemã. Defensores do atual governo de coalizão verde-social-democrata vêem uma eventual subida ao poder do candidato da oposição, Edmund Stoiber, como um dia negro na tradição verde do país.

Quanto mais se aproximam as eleições, mais cresce o medo de um retrocesso em quesitos como o abandono da energia nuclear, o incentivo ao uso de energias renováveis e o "imposto ecológico", introduzido no país pelo atual governo. A associação de defesa do meio ambiente BUND teme "retrocessos evidentes". Andreas Troge, presidente do Departamento Nacional do Meio Ambiente e membro da União Democrata Cristã (CDU), prefere não acreditar em uma "volta ao passado em termos ecológicos".

Pressão internacional -

Em entrevista ao semanário Die Zeit, Troge ressalta que seu partido não poderia simplesmente abdicar de todo o programa do atual governo verde-social-democrata, mesmo porque "todo governo está atado a contratos internacionais". Helmut Wieder, do Centro de Pesquisas de Berlim (WZB), duvida até mesmo de que a oposição venha a abolir o imposto ecológico, como propaga em campanha eleitoral.

Embora a reforma ambiental iniciada por verdes e social-democratas não seja nada radical, trata-se de um "passo significativo na direção certa", segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). À parte as críticas, o ministro verde Jürgen Trittin e sua equipe, com a implantação da Lei das Energias Renováveis, conseguiram transformar a Alemanha no campeão mundial de construção de moinhos de vento. Segundo informações do Die Zeit, circula no gabinete federal uma lista na qual Trittin é considerado o ministro mais bem-sucedido da coalizão de governo.

Consumo e desperdício -

No entanto, resta saber se o saneamento de rios, o abandono da energia nuclear, a construção de estações de tratamento de água e os impostos ecológicos irão resolver a longo prazo um problema que está muito mais atrelado a um estilo de vida baseado no consumo e no desperdício. Segundo observações do Departamento Nacional do Meio Ambiente, "as pessoas devoram energia e produzem um lixo ilimitado". Este comportamento representa um dos encargos mais pesados para o equilíbrio natural. A longo prazo, de acordo com os especialistas, a natureza "pode não agüentar mais".

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