Políticos criticam troca de patrocínio da seleção alemã
22 de março de 2024
Anúncio de que americana Nike substituirá alemã Adidas após mais de 70 anos de parceria repercute mal entre membros do governo da Alemanha. Ministro da Economia e vice-chanceler lamenta falta de "patriotismo".
"Eu teria apreciado um pouco mais de patriotismo local", lamentou nesta sexta-feira (22/03) o ministro da Economia e vice-chanceler federal alemão, Robert Habeck, ao comentar o negócio.
Na quinta-feira, a Federação Alemã de Futebol (DFB) anunciou que deixará de ser patrocinada pela Adidas, pondo fim a uma parceria de mais de sete décadas, e passará a usar uniformes, chuteiras e outros itens esportivos fornecidos pela Nike.
O acordo de patrocínio com a Nike terá início em 2027 e se estenderá até pelo menos 2034, disse a DFB em comunicado.
Acordo milionário
Com o novo acordo, a seleção alemã para o ranking dos times de futebol mais bem pagos do mundo. De acordo com o jornal Handelsblatt, a Adidas vai pagar à DFB cerca de 100 milhões de euros por ano, ou um total de mais de 800 milhões pelos 8 anos de contrato – frente aos cerca de 50 milhões de euros anuais oferecidos pela Adidas, conforme o diário. Em comparação: o Real Madrid supostamente recebe da Adidas 120 milhões de euros por temporada e o Barcelona, 105 milhões de euros da Nike.
O anúncio ocorre menos de três meses antes do início da Eurocopa masculina de 2024 na Alemanha (14 de junho a 14 de julho).
"Quase não consigo imaginar uma camisa da seleção alemã sem as três listras" da marca alemã Adidas, reagiu Habeck. "Para mim, Adidas e preto-vermelho-amarelo", as cores da bandeira alemã, "sempre foram inseparáveis ", acrescentou o político do Partido Verde.
"Decisão errada"
O ministro da Saúde, Karl Lauterbach, um social-democrata, também expressou sua decepção. Classificando em sua conta no X como "uma decisão errada" a escolha de uma empresa americana para vestir a 'Mannschaft', lamentando que "o comércio destrua uma tradição e um pedaço da pátria".
"O futebol alemão sempre fez parte da história econômica da Alemanha. A equipe nacional joga com as três listras – isso era tão claro quanto dizer que a bola é redonda e que uma partida dura 90 minutos", afirmou Markus Soder, governador do estado da Baviera, no sul da Alemanha, onde fica a sede da Adidas.
md (AFP, SID)
Beckenbauer, o "Kaiser" do futebol alemão
Campeão mundial de futebol como jogador e técnico da Alemanha é figura cultuada entre os torcedores. Mas Franz Beckenbauer também acumulou alguns arranhões em sua imagem durante a longa carreira.
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Talento único
Franz Anton Beckenbauer nasceu em 11 de setembro de 1945 em Munique. Ele teve enorme sucesso na carreira de jogador entre 1965 e 1983. Em seu estilo elegante mas, às vezes, arrogante também, não havia lugar para complacência. Seu jeito de jogar ofensivo e passes precisos e brilhantes o tornaram mundialmente famoso.
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Apogeu nos gramados
No Bayern de Munique, Beckenbauer foi campeão da Copa da Alemanha quatro vezes, e uma vez campeão com o Hamburgo SV. Nos EUA, ao lado de Pelé, conquistou três títulos pelo New York Cosmos. Ele também acumula quatro títulos europeus. Seus maiores êxitos são as conquistas da Copa da Europa em 1972 e a Copa do Mundo de 1974, como capitão da seleção alemã.
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Projetos paralelos
Publicitários e produtores logo descobriram o potencial do craque alemão. De sopas instantâneas a uma rede de telefonia móvel, Beckenbauer emprestou seu nome a vários produtos durante décadas. Sem falar de suas aventuras no mundo a música. O sotaque bávaro carregado e com os "Rs" fortes era uma característica peculiar.
Mil vezes 'Kaiser'
"Se funcionar, funcionou", era uma das máximas de Beckenbauer. Em 1977, o líbero lançou até seu próprio boneco vestido com o uniforme da seleção alemã. À época, torcedores e mídia já o chamavam de "Kaiser" (imperador), por sua inteligência futebolística, personalidade e sucesso. Mas o ingresso definitivo no Olimpo do futebol seria em 1990.
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Triunfo em Roma
Como treinador, Beckenbauer garantiu à Alemanha sua terceira Copa do Mundo em 1990, na Itália. Na final contra a Argentina, ele conseguiu vingar a derrota no Mundial anterior. Após conquistar o título em Roma, curtiu a vitória sozinho e em silêncio. O 'Kaiser' foi o segundo craque a se sagrar campeão mundial como jogador e técnico, atrás do tetracampeão brasileiro Zagallo.
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Técnico e dirigente
Após a vitória no Mundial, o bávaro se dedicou à carreira de técnico, primeiro no Olympique de Marselha e, a partir de 1991, no Bayern de Munique, assumindo como interino em duas ocasiões, sagrando-se campeão alemão e da Copa da Uefa. Ele presidiu o Bayern entre 1994 e 2009, tornando-se mais tarde presidente honorário do clube.
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'Kaiser' se suja com corrupção
Como vice-presidente da Associação Alemã de Futebol, conseguiu trazer a Copa do Mundo de 2006 para seu país, o que lhe rendeu grande prestígio. Mas, 9 anos depois, foi revelado que ele teria se envolvido num escândalo de corrupção, ao liberar o pagamento de milhões de dólares a um oficial corrupto da Fifa no Catar. Carnavalescos de Mainz satirizaram a "lavanderia do Kaiser" no desfile de 2017.
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Polêmicas e prêmios
Aposentado, Beckenbauer se dedicou ao golfe. Vez por outra ainda estampava negativamente as manchetes, como quando minimizou as denúncias de maus tratos aos trabalhadores nas sedes da Copa do Mundo do Catar. "Não vi nenhum escravo lá", afirmou. Apesar de tudo, foi homenageado no Hall da Fama do Futebol Alemão logo após o prêmio ser criado, em 2018.
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"Meu corpo está entrando em greve"
As investigações sobre a Copa de 2006 acabaram sendo arquivadas, também em consideração ao estado de saúde do ex-craque. "Meu corpo começou a entrar em greve", comentava. Franz Beckenbauer passou por duas cirurgias cardíacas, um infarte ocular e recebeu um quadril artificial. Aos 75 anos, ele dizia não ter medo da morte. "Sei que um dia ela virá." Sua morte foi em 7 de janeiro de 2024.