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Políticos da oposição pedem renúncia de Bolsonaro em texto

30 de março de 2020

Haddad, Ciro, Boulos e outras lideranças endossam documento crítico à atuação do presidente diante da pandemia de coronavírus. Texto diz que Bolsonaro é um líder irresponsável e agrava a crise com mentiras e crimes.

O presidente Jair Bolsonaro usando uma máscara facial azul
Bolsonaro minimizou repetidas vezes a pandemia, classificando a covid-19 como uma "gripezinha"Foto: Getty Images/A. Anholete

Políticos da oposição lançaram um manifesto nesta segunda-feira (30/03) para pedir a renúncia do presidente Jair Bolsonaro, acusando-o de ser um líder "irresponsável" e de "cometer crimes, fraudar informações, mentir e incentivar o caos" em meio à pandemia de coronavírus.

O documento é endossado, em consenso raro, pelos ex-presidenciáveis Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (Psol), adversários de Bolsonaro nas eleições de 2018. "Progressistas unidos pelo Brasil. Chega de insanidade", escreveu Haddad no Twitter sobre o manifesto.

O texto começa lembrando que o mundo enfrenta uma "emergência sem precedentes na história moderna", com consequências graves para a vida humana, a saúde pública e a atividade econômica, e afirma que, no Brasil, a emergência "é agravada por um presidente da República irresponsável".

"Bolsonaro é o maior obstáculo à tomada de decisões urgentes para reduzir a evolução do contágio, salvar vidas e garantir a renda das famílias, o emprego e as empresas. Atenta contra a saúde pública, desconsiderando determinações técnicas e as experiências de outros países", diz a carta, apontando que é hora de "mobilizar todos os recursos públicos necessários para salvar vidas".

"Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia. Comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável", denunciam os políticos.

Em raro consenso, Fernando Haddad (c) e Ciro Gomes (d) estão entre os políticos que assinaram o manifesto

Segundo eles, o país precisa agora de união e entendimento para enfrentar a pandemia, e não de "um presidente que contraria as autoridades de saúde pública e submete a vida de todos aos seus interesses políticos autoritários". "Basta! Bolsonaro é mais que um problema político, tornou-se um problema de saúde pública."

"Falta a Bolsonaro grandeza. Deveria renunciar, que seria o gesto menos custoso para permitir uma saída democrática ao país. Ele precisa ser urgentemente contido e responder pelos crimes que está cometendo contra nosso povo", completa o manifesto.

Também assinam o documento a ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB), vice de Haddad nas eleições de 2018, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e os ex-governadores Roberto Requião (MDB-PR) e Tarso Genro (PT-RS).

O texto ainda é endossado por presidentes de diversos partidos da oposição, incluindo Gleisi Hoffmann (PT), Carlos Siqueira (PSB), Carlos Lupi (PDT), Edmilson Costa (PCB), Juliano Medeiros (Psol) e Luciana Santos (PCdoB).

O manifesto, divulgado primeiramente pelo jornal Folha de S. Paulo, também sugere ações a serem implantadas pelas forças políticas populares e democráticas no combate ao coronavírus.

Entre as medidas, estão manter as ações de redução do contato social, o que é rechaçado por Bolsonaro; criar leitos de UTI provisórios e importar testes; implementar renda básica permanente para desempregados e trabalhadores informais; suspender a cobrança das tarifas de serviços básicos para os mais pobres; e regulamentar os tributos sobre grandes fortunas, lucros e dividendos.

"Frente a um governo que aposta irresponsavelmente no caos social, econômico e político, é obrigação do Congresso Nacional legislar na emergência, para proteger o povo e o país da pandemia. É dever de governadores e prefeitos zelarem pela saúde pública, atuando de forma coordenada, como muitos têm feito de forma louvável", afirmam os opositores na carta.

"É também obrigação do Ministério Público e do Judiciário deter prontamente as iniciativas criminosas de um Executivo que transgride as garantias constitucionais à vida humana. É dever de todos atuar com responsabilidade e patriotismo", conclui o manifesto.

Nos últimos dias, Bolsonaro tem pedido para que a população volte ao trabalho e defendido uma forma de quarentena parcial, isolando apenas idosos e doentes crônicos. O presidente também minimizou repetidas vezes a pandemia, classificando a covid-19 como uma "gripezinha", inclusive num pronunciamento polêmico que gerou ondas de condenação.

Na semana passada, redes do Planalto chegaram a publicar uma propagando com o slogan "O Brasil não pode parar", alinhado com as ideias do presidente sobre a pandemia. No entanto, a campanha foi barrada por ordem da Justiça. O governo apagou as publicações e depois declarou que a campanha "nunca existiu", apesar de o material ter ficado disponível por três dias.

Neste domingo, Bolsonaro passeou por estabelecimentos comerciais na região de Brasília, provocando aglomerações e desafiando as restrições impostas pelo governo do Distrito Federal para conter a circulação de pessoas. O presidente ainda publicou vídeos das visitas em suas redes sociais.

Neles, era possível ouvir comerciantes e camelôs falando que "querem trabalhar" – falas afinadas com o discurso de Bolsonaro, que vem defendendo uma "volta à normalidade" e atacando medidas amplas de isolamento impostas por governadores.

O material acabou sendo deletado pelo próprio Twitter, numa rara ação contra um chefe de Estado, por violar as regras da plataforma.

A atitude de Bolsonaro entrou em choque com falas do seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que no sábado havia pedido para que a população ficasse em casa. "Se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar [equipamento]  para o rico, para o pobre, para o dono da empresa, para o dono do botequim, para o dono de todo mundo", disse o ministro na ocasião.

A pandemia de coronavírus já deixou 4.579 pessoas infectadas e matou 159 desde o primeiro caso confirmado no Brasil, no mês passado. Em todo o mundo, já são mais de 770 mil casos confirmados e quase 37 mil mortes, em 178 países e territórios.

EK/ots

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