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SociedadeBelarus

Polônia acusa Belarus de "mudar de tática" sobre migrantes

20 de novembro de 2021

Em vez de multidões, regime belarusso agora envia pequenos grupos de migrantes a vários pontos da fronteira, afirma governo polonês. Lukashenko reconhece que país pode ter ajudado refugiados a tentar chegar à UE.

Fronteira entre Belarus e Polônia
Foto: Leonid Shcheglov/AP/picture alliance

A Polônia afirmou neste sábado (20/11) que o governo de Belarus mudou de tática na crise que se desenrola na fronteira entre os dois países, agora direcionando grupos menores de migrantes para vários pontos ao longo da linha que divide a União Europeia (UE) do resto do continente.

Embora haja sinais de que a crise está diminuindo, o ministro da Defesa polonês, Mariusz Blaszczak, afirmou que a expectativa é que o impasse na fronteira se prolongue por um bom tempo.

Os guardas de fronteira poloneses relataram novas tentativas de travessia por vários grupos, a maioria deles formada por dezenas de migrantes. Um grupo maior, de cerca de 200 pessoas, teria ainda lançado pedras e gás lacrimogêneo na tentativa de ingressar no território polonês.

"Temos que nos preparar para o fato de que esse problema continuará por meses. Não tenho dúvidas de que será o caso", afirmou Blaszczak à imprensa local.

"Agora, um novo método foi adotado pelos migrantes e pelos serviços belarussos. [Em vez de grandes grupos em um único ponto da fronteira], grupos menores de pessoas estão tentando cruzar a fronteira em muitos lugares", afirmou. Segundo o ministro, "não há dúvida de que esses ataques são dirigidos por serviços belarussos".

O Ocidente acusa Belarus de criar a crise ao trazer migrantes – principalmente do Oriente Médio – ao seu território e levá-los à fronteira com a promessa de uma passagem fácil para a UE. Belarus nega a acusação e critica o bloco europeu por não aceitar os migrantes.

Lukashenko diz que país pode ter ajudado migrantes

Na sexta-feira, o presidente belarusso, Alexander Lukashenko, afirmou em entrevista à emissora britânica BBC que é "absolutamente possível" que suas forças tenham ajudado migrantes a tentar ingressar na UE, mas negou ter orquestrado a operação.

"Somos eslavos. Temos coração. Nossas tropas sabem que os migrantes estão indo para a Alemanha. Talvez alguém os tenha ajudado", afirmou.

"Eu disse a eles [à UE], não vou deter migrantes na fronteira, mantê-los na fronteira, e se eles continuarem a chegar de agora em diante, não vou pará-los, porque eles não estão vindo para o meu país, estão vindo para os seus", continuou. "Mas eu não os convidei aqui. E para ser sincero, não quero que eles venham através de Belarus."

Conhecido como o último ditador da Europa, Lukashenko está no poder em Belarus desde 1994. Sua reeleição à presidência no ano passado foi considerada fraudulenta pelo Ocidente e não reconhecida pela União Europeia. Mais tarde, o bloco impôs sanções ao país após a repressão violenta dos protestos antigoverno que se seguiram ao pleito. Bruxelas acredita que Belarus estaria orquestrando a onda de migrantes a fim de desestabilizar a UE em retaliação às sanções.

Tentativas de travessia ilegal

Nesta semana, houve sinais de que a crise na fronteira estaria diminuindo depois que várias centenas de migrantes foram repatriados para o Iraque, enquanto outros 2.000 deixaram um acampamento improvisado na fronteira e foram levados para um armazém próximo.

Contudo, a Guarda de Fronteira da Polônia informou neste sábado que vários grupos de migrantes que tentavam cruzar a fronteira foram empurrados de volta com sucesso.

Segundo a corporação, na sexta-feira foram registradas 195 tentativas de travessia ilegal. "Oitenta e dois estrangeiros foram obrigados a deixar o território polonês. Dois cidadãos ucranianos e um alemão foram detidos por cumplicidade", disse.

Várias tentativas de travessia ocorreram no trecho da fronteira próximo à vila de Dubicze Cerkiewne. "O maior grupo consistia em cerca de 200 estrangeiros, os outros somavam várias dezenas de pessoas", disse a Guarda. "Os estrangeiros foram agressivos – atiraram pedras, foguetes e usaram gás lacrimogêneo."

Muitos migrantes abandonaram tudo em seus países, gastando às vezes milhares de dólares para voar para Belarus com vistos de turista, determinados a chegar à União Europeia.

"Relatos horríveis de extremo sofrimento"

Na sexta-feira, a comissária europeia de Direitos Humanos, Dunja Mijatovic, descreveu a situação humanitária ao longo da fronteira como "alarmante" e exigiu o fim da controversa expulsão de migrantes de volta a Belarus promovida pela Polônia.

"Pessoalmente tenho ouvido relatos terríveis de extremo sofrimento de pessoas desesperadas que passaram semanas ou mesmo meses em condições precárias e extremas na floresta fria e úmida devido a essas resistências", disse a comissária da UE em comunicado. "Todas as expulsões devem parar imediatamente."

A imprensa polonesa afirma que pelo menos 11 migrantes morreram na fronteira desde o início da crise, meses atrás. Nesta semana, a Polônia realizou o primeiro enterro de um dos migrantes mortos – um adolescente sírio que se afogou no rio Bug, na fronteira – e outros dois funerais estão planejados para este fim de semana.

ek (AFP, DPA, ots)

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