Em texto publicado em jornal da Alemanha, líderes dos dois países sinalizam disposição de deixar para trás a controvérsia sobre a lei do Holocausto polonesa.
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"Por 30 anos, as relações entre nossos países e povos foram baseadas em fundamentos sólidos de confiança e entendimento". É assim que começa um anúncio incomum publicado nesta quarta-feira (04/07) num dos maiores jornais da Alemanha, o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Trata-se de um comunicado conjunto assinado pelos primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Polônia, Mateusz Morawiecki.
O anúncio sinaliza que os dois governos parecem ter finalmente feito as pazes em relação à controversa lei do Holocausto polonesa. Ambos apontaram que seus países mantêm uma profunda e duradoura amizade e um "respeito mútuo pela identidade e sensibilidade histórica em relação aos episódios do nosso trágico passado".
Controvérsia
Há poucos meses, em meio à disputa por causa da lei, o linguajar usado pelos dois países não poderia ser mais diferente. Aprovada no início de 2018, a legislação provocou críticas ferozes de Israel, dos EUA e da Ucrânia.
Os críticos temiam que a lei poderia impedir que sobreviventes do Holocausto e pesquisadores relembrassem ou apontassem a participação de poloneses no genocídio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Netanyahu chegou a acusar os poloneses de tentar reescrever a história e até mesmo de negar o Holocausto.
O texto original da lei previa a imposição de multas e penas de até três anos de prisão para quem "publicamente e de forma contrária aos fatos" atribuísse ao povo ou Estado polonês responsabilidade ou corresponsabilidade por crimes cometidos pela Alemanha nazista. Dessa forma, poderia se tornar crime falar publicamente de episódios como o massacre de Jedwabne, no qual poloneses, sem assistência de nazistas, assassinaram centenas de judeus de um vilarejo do leste do país, em 1941.
Após as fortes críticas, os poloneses atenuaram a lei seis meses após a sua aprovação. O Parlamento polonês revisou a legislação e retirou qualquer referência a eventuais penas de prisão. A mudança foi feita a pedido do próprio Morawiecki.
Por que num jornal da Alemanha?
A iniciativa de publicar o anúncio na imprensa alemã pode parecer estranha, mas a Alemanha desempenha um papel importante nessa disputa. "Um bom relacionamento entre a Polônia e Israel é especialmente importante para a Alemanha", diz Manuel Sarrazin, presidente do grupo parlamentar Polônia-Alemanha.
"Na Alemanha, precisamos levar em conta que o debate sobre o Holocausto que é travado na Polônia ocorre em parte por causa da mídia alemã, que não soube evitar o uso de algumas expressões historicamente falsas", diz Sarrazin. Ele lembra que a mídia alemã ocasionalmente erra ao se referir aos campos de extermínio nazistas que ficavam na Polônia ocupada como "campos de extermínio poloneses".
O anúncio conjunto afirma ainda que está claro "que o Holocausto representa um crime sem precedente cometido pela Alemanha nazista contra judeus e poloneses de ascendência judaica" e que "a Polônia sempre demonstrou que compreende inteiramente o significado do Holocausto". Mas o texto também faz algumas concessões a Israel: "Nós reconhecemos que ocorreram atos horrorosos por parte de poloneses contra judeus durante a Segunda Guerra Mundial, e nós condenamos cada um deles". Ao mesmo tempo, o anúncio destaca "os atos heroicos de muitos poloneses" que arriscaram suas vidas para salvar judeus.
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Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.