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Polônia libera arquivo secreto sobre Walesa

22 de fevereiro de 2016

Documentos comprovariam que ex-presidente democrático e Nobel da Paz teria colaborado com a polícia secreta comunista na década de 70. Instituto Nacional da Memória não confirma veracidade.

Lech Walesa (com microfone) lidera uma greve de trabalhadores num estaleiro em Gdansk, em 1980Foto: picture-alliance/dpa/Lehtikuva Oy

O arquivo estatal da Polônia divulgou, nesta segunda-feira (22/02), documentos que confirmariam que o líder democrático e ex-presidente polonês Lech Walesa colaborou com a polícia secreta comunista na década de 70, antes de assumir a liderança do movimento que posteriormente ajudou a derrubar o comunismo no país.

O Instituto da Memória Nacional permitiu o acesso de jornalistas a centenas de cópias de supostos documentos do arquivo sobre Walesa. Entretanto a instituição não garantiu a veracidade do conteúdo.

Os papéis incluem uma página manuscrita declarando prontidão para sigilosamente fornecer informações à polícia secreta. Ela está assinada com o nome de Walesa e o codinome "Bolek".

"Eu me comprometo a cooperar com a polícia secreta em expor e lutar contra os inimigos da República Popular da Polônia", constaria do documento, usando o nome oficial do país durante a era comunista. O texto é datado de 21 de dezembro de 1970, quando Walesa era um líder dos protestos trabalhistas no estaleiro naval de Gdansk, onde trabalhou como eletricista. As manifestações terminaram em derramamento de sangue.

O último documento no arquivo, datado em fevereiro de 1976, mostra um oficial da polícia secreta reprimindo "Bolek" por este ter criticado o Partido Comunista e ameaçando-o com a perda de seu emprego no estaleiro.

O instituto confirmou tratar-se de documentos autênticos, emitidos pela polícia secreta da época. Contudo não está claro se eles foram ou não forjados pelas autoridades de segurança – uma prática comum na época.

Ligações com partido do governo e outras dúvidas

O Instituto Nacional da Memória da Polônia é ligado ao partido de direita Lei e Justiça (PiS), que governa o país desde outubro de 2015. As acusações contra Walesa começaram a surgir há cerca de dois meses, após ele afirmar que o governo conservador age para debilitar a democracia polonesa.

Os documentos vieram à tona em meados de fevereiro, após terem sido mantidos por décadas na casa do último ministro do Interior comunista, general Czeslaw Kiszczak, morto no ano passado. Sua viúva ofereceu os papéis ao instituto, em troca dinheiro. As autoridades imediatamente se apoderaram dos documentos, agindo sob uma lei que lhes dá o direito sobre registros históricos críticos.

A medida de liberar os arquivos tão rapidamente provocou controvérsias. Simpatizantes de Walesa acusam as autoridades de tentar manchar o legado de um herói nacional e detentor do Prêmio Nobel da Paz.

Muitos ex-ativistas se pronunciaram, recordando as táticas brutais da polícia secreta para coagir os críticos do regime, forçando-os a assinarem acordos de colaboração a serem usados para chantagem no futuro.

Lech Walesa há muito tempo admite ter assinado um documento em 1970, concordando em fornecer informações à polícia secreta, mas insiste que nunca delatou ninguém e que nunca recebeu nenhum pagamento. Em 2000, ele foi absolvido por um tribunal especial, que declarou não ter encontrado qualquer evidência de colaboração.

PV/afp/ap