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PolíticaPolônia

Polônia praticamente bane o aborto

22 de outubro de 2020

Tribunal torna quase inviável a interrupção da gravidez de forma legal no país. Decisão está em linha com o que queria o governo nacionalista de direita polonês.

Protesto contra a proibição do aborto na Polônia
Protesto contra a proibição do aborto na PolôniaFoto: Artur Widak/NurPhoto/picture-alliance

Um tribunal constitucional na Polônia decidiu nesta quinta-feira (22/10) que a realização de abortos por anormalidade fetal viola a Constituição. A decisão significa uma proibição quase total da interrupção da gravidez em um país que já tem algumas das leis abortivas mais rigorosas da Europa.

O debate sobre o aborto reflete a ampla polarização da sociedade polonesa, um país-membro da União Europeia (UE) que tem um governo nacionalista e populista de direita defensor de valores religiosos tradicionais.

Antes da decisão, que é inapelável, a Polônia permitia abortos apenas por anomalias fetais, ameaça à saúde da mãe ou em caso de incesto ou estupro.

Mas, na prática, a esmagadora maioria dos abortos legais – 1.074 dos 1.100 realizados oficialmente no ano passado – é motivada por anormalidades fetais, razão que agora foi vetada.

ONGs estimam que o número de abortos realizados clandestinamente na Polônia ou por polonesas em clínicas estrangeiras chegaria a quase 200 mil por ano.

A decisão está em consonância com a vontade do partido nacionalista ultraconservador Lei e Justiça (PiS), que governa o país.

Muitas mulheres e organizações dos direitos das mulheres protestaram contra as tentativas de endurecer a lei, mas a pandemia tornou a mobilização nas ruas mais difícil.

Na sentença desta quinta-feira, a presidente da corte constitucional, Julia Przylebska, disse que permitir abortos em casos de anormalidade fetal legalizou "práticas eugênicas".

Ela afirmou que, como a Constituição polonesa garante o direito à vida, interromper uma gravidez baseada na saúde do feto equivalia a "uma forma de discriminação".

A decisão provocou uma reação crítica imediata da comissária para os Direitos Humanos do Conselho da Europa, Dunja Mijatovic.

"Eliminar as razões para quase todos os abortos legais é praticamente igual a bani-los e violar os direitos humanos", afirmou a comissária em comunicado. "Isso se traduz em abortos clandestinos ou no exterior para quem pode pagar e mais sofrimento para quem não pode."

O líder do Partido Popular Europeu (PPE) e ex-presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, juntou-se às reações de indignação geradas pela sentença.

"Levantar a questão do aborto e a decisão desse pseudotribunal no meio da tempestade pandêmica é mais do que cinismo. É vilania política", criticou.

O governo polonês há anos entra em choque com a União Europeia sobre os direitos das minorias e das mulheres. Os nacionalistas também são criticados por comprometer a independência do Judiciário, incluindo o tribunal constitucional, que seria dominado por simpatizantes do governo. 

Durante a campanha para as eleições parlamentares do ano passado, o  PiS fomentou a homofobia, acusando homossexuais de "influenciar uma invasão estrangeira" que ameaçava a identidade nacional da Polônia. A legenda defendeu ainda a substituição de elites culturais e econômicas por pessoas que possuem valores patrióticos para eliminar a rede de influência da "era comunista".

O partido também vem usando a mídia pública para se promover e pressionar a oposição, inclusive com a ameaça de estatizar meios de comunicação, colocando em risco a liberdade de imprensa.

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