Mulheres deixam plateia em protesto depois de anúncio do vencedor. Organizadores do prêmio César se demitiram após manifesto de atores e diretores contra indicações do cineasta acusado de estupro.
Anúncio
O controverso diretor Roman Polanski ganhou nesta sexta-feira (28/02) o César, considerado o "Oscar francês", de melhor diretor pelo filme O oficial e o espião. A indicação do cineasta, acusado de estupro, foi alvo de polêmica e levou a demissão de todos os membros da diretoria da Academia de Artes e Técnicas de Cinema da França, responsável pela premiação.
A entrega do César foi ofuscada pela polêmica em torno das indicações de Polanski, cujo filme O oficial e o espião encabeçou a lista de indicações. Em frente ao teatro, no início da cerimônia, centenas de manifestantes protestaram contra o diretor. Ao tentar invadir o local, o grupo entrou em confronto com a polícia.
Polanski não compareceu ao evento e alegou temer por sua segurança. Num comunicado, ele disse que a cerimônia se tornou num "linchamento público" e que decidiu não ir à premiação para proteger seus colegas, esposa e filhos.
O anúncio do prêmio de melhor diretor chocou parte da plateia. Diversas mulheres deixaram o auditório em protesto, entre elas, Adele Haenel, nomeada como melhor atriz por Retrato de uma Jovem em Chamas, que afirmou ter sido vítimas de abuso sexual na adolescência por outro diretor.
Horas antes do evento, o ministro da Cultura da França, Franck Riester, disse que o prêmio a Polanski como melhor diretor poderia ser "simbolicamente ruim dada à posição que devemos tomar contra a violência sexual e sexista".
Polanski lançou seu novo filme na França no ano passado, dias após uma atriz francesa acusá-lo de tê-la estuprado em 1975, quando ela tinha 18 anos. O diretor franco-polonês, hoje com 86 anos, nega as acusações.
Nos Estados Unidos, o cineasta é acusado de estupro de uma jovem de 13 anos, é considerado persona non grata em Hollywood desde 1978 e foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em 2018.
Ele rejeitou a acusação de estupro, mas reconheceu, após acordo com a promotoria, ter tido relação sexual com uma menor de idade. Pouco antes do anúncio da sentença, ele foi viajou a Paris. Ele foi detido na Suíça há alguns anos e ficou oito meses sob prisão domiciliar, até que em 2010 o país recusou o pedido de extradição dos EUA.
O filme de Polanski sobre Alfred Dreyfus, um militar francês de origem judaica acusado de espionar para a Alemanha nos anos 1890, levou ainda os prêmios por melhor adaptação e melhor figurino. O elenco e a produção do longa, incluindo Jean Dujardin, indicado como melhor ator, não compareceram à cerimonia.
A comediante Florence Foresti, que apresentou a premiação, deixou o filme de Polanski de fora dos comentários sobre as obras que receberam várias indicações.
O César de melhor filme ficou com Os Miseráveis, do diretor Ladj Ly, que aborda as tensões entre a polícia e minorias pobres nos subúrbios de Paris. O longa ganhou também o prêmio do júri no Festival de Cannes no ano passado.
Globo de Ouro é considerado o mais importante prêmio de cinema dos Estados Unidos, após o Oscar. Os ganhadores são escolhidos por jornalistas de cinema estrangeiros credenciados em Hollywood.
Foto: Reuters/NBC Universal/P. Drinkwater
"1917", melhor filme e melhor direção
O filme "1917", sobre a Primeira Guerra Mundial, ganhou o prêmio na categoria "Melhor Drama". Seu diretor, o britânico Sam Mendes, também ganhou o prêmio de "Melhor Diretor".
Foto: Reuters/NBC Universal/P. Drinkwater
Os horrores da guerra
O filme de guerra "1917", lançado recentemente nos cinemas, trata de dois soldados ingleses que têm pouco tempo para transportar uma mensagem importante através das linhas inimigas. O filme de Sam Mendes convenceu os jornalistas credenciados por Hollywood também pela forma como é encenado: o espectador tem a impressão de participar das cenas em "tempo real".
Foto: 2019 Universal Pictures and Storyteller Distribution Co., LLC.
Filme de Tarantino com três Globos
Outro grande premiado da noite foi o diretor americano Quentin Tarantino. Seu "Era uma vez em... Hollywood", uma homenagem aos anos 1960, ganhou o Globo de Ouro por Melhor Filme - Musical ou Comédia. Além disso, levou o troféu de melhor roteiro, e Brad Pitt, o de melhor ator coadjuvante.
Foto: Reuters/NBC Universal/P. Drinkwater
Renée Zellweger, melhor atriz
A americana Renée Zellweger recebeu o prêmio de melhor atriz num drama, por sua convincente atuação em "Judy", sobre a vida da atriz e cantora Judy Garland. Zellweger, popularizada em 2001 por "O diário de Bridget Jones", se reinventou com este filme.
Foto: AFP/F. J. Brown
Joaquin Phoenix, melhor ator
Na categoria de ator ator masculino de filme drama, o prêmio foi para o americano Joaquin Phoenix, como já era esperado. No controverso "Coringa", Phoenix interpreta um homem instável que age entre violência, crise psicológica e desamparo.
Foto: AFP/A. Sussman
Melhor atriz em comédia: Awkwafina
A cantora de rap, apresentadora e atriz americana Awkwafina (dir.) ainda é pouco conhecida no cenário cinematográfico internacional. Ela ganhou o Globo de Ouro na categoria "Melhor Atriz - Comédia ou Musical". Em "The Farewell", Awkwafina interpreta uma jovem que viaja para a China a fim de apoiar a avó, que enfrenta uma grave doença.
Foto: picture-alliance/AP/C. Moss
Taron Egerton como Elton John
Na categoria "Melhor Ator - Comédia ou Musical", o prêmio foi para Taron Egerton. O britânico brilhou no papel do cantor Elton John em "Rocketman", superando nomeados famosos como Daniel Craig e Leonardo DiCaprio. O filme também levou o Globo de Ouro de "Melhor Música para Filmes".
Foto: picture-alliance/AP/Paramount/D. Appleby
"Parasita", melhor filme estrangeiro
Assim como o Oscar, o Globo de Ouro, que se concentra no cinema em inglês, tem uma categoria para filmes em idioma estrangeiro. "Parasita", do diretor sul-coreano Bong Joon-ho, que já havia conquistado um prêmio no Festival de Cannes, recebeu o prêmio de "Melhor filme em língua não inglesa".
Foto: Reuters/NBC Universal/P. Drinkwater
Produções para TV e séries
Depois de ganhar o Oscar em 2019 como melhor atriz por "A Favorita", Olivia Colman levou o Globo de Ouro como melhor atriz em série de TV ou Drama, por "The Crown". O de melhor ator foi para Brian Cox ("Succession"). Aliás, a obra que aborda uma família dona de um império midiático nos Estados Unidos, levou também o prêmio de melhor filme dramático.
Foto: AFP/V. Macon
Melhor série
Na categoria "Melhor Série - Musical ou Comédia", ganhou a produção britânica "Fleabag". Sua autora, Phoebe Waller-Bridge, levou também o troféu de "Melhor Atriz em Série de TV - Musical ou Comédia". Na categoria masculina, o prêmio foi para Ramy Youssef ("Ramy").
Foto: Reuters/M. Blake
Melhor minissérie
A série britânico-americana de cinco partes "Chernobyl", que reconta de forma convincente o drama da catástrofe nuclear na Ucrânia em 1986, ganhou o prêmio de melhor série limitada ou filme para TV. "Chernobyl" é um exemplo de como formatos mais breves de séries com conteúdo político-crítico-social podem ser bem-sucedidos em todo o mundo.
A cerimônia também foi marcada pela tragédia dos incêndios na Austrália. O ator australiano Russell Crowe, que recebeu o prêmio de melhor ator em série limitada ou filme para a televisão por "The loudest voice", chamou a atenção para a catástrofe em seu país. Seu apelo foi lido, já que ele não viajou aos EUA, preferindo ficar com a família na Austrália.