Último fim de semana antes da eleição tem milhares de manifestantes em dezenas de cidades no Brasil e no exterior, em protestos pró e contra Jair Bolsonaro, líder das pesquisas de intenção de voto.
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A polarização que se anuncia para o segundo turno se refletiu nas ruas neste fim de semana, o último antes da eleição presidencial. No sábado e no domingo, milhares de pessoas saíram às ruas em protestos pró e contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto.
No sábado (29/09), 114 cidades em 26 estados brasileiros e no Distrito Federal abrigaram o protesto #EleNão, movimento de mulheres que critica as falas misóginas e posições sexistas do candidato. No domingo (30/09), as mobilizações em apoio ao militar ocorreram em 16 estados.
Uma lista de cidades que receberiam protestos contrários a Bolsonaro foi postada nas redes sociais para permitir a organização das marchas em diferentes locais. A ideia de tornar real o ato de protesto nascido na internet surgiu em grupos de militância feminista no Facebook e espalhou-se pelo Instagram e Twitter.
As manifestações começaram no início da tarde. Em algumas cidades, como Porto Alegre, os eleitores saíram em caminhada pelas ruas centrais após encontrarem-se no Parque Farroupilha. No Rio de Janeiro, a concentração ocorreu na Cinelândia. Depois, os manifestantes seguiram em passeata pelas ruas do Centro. Em Curitiba, foi possível identificar faixas em apoio ao ex-presidente Lula em meio à multidão.
Em São Paulo, o ato "Mulheres contra Bolsonaro" ocorreu no Largo do Batata. O movimento contou com o apoio de partidos de esquerda e reuniu também artistas, que se apresentaram em um carro de som. A candidata Marina Silva (Rede) participou da mobilização. Em suas contas em redes sociais, os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) manifestaram apoio ao movimento, que agrupou majoritariamente mulheres, mas também contou com a presença de homens e crianças.
No final da tarde, os manifestantes saíram em caminhada e bloquearam completamente o fluxo de automóveis de uma das pistas da Avenida Rebouças até chegarem à Avenida Paulista. O ato em São Paulo, segundo os organizadores, reuniu cerca de 500 mil pessoas. A Polícia Militar, entretanto, não estimou o número de participantes em nenhum dos locais.
Também houve registro de manifestações em cidades europeias e nos Estados Unidos.
No dia seguinte, a reação
Em resposta ao protesto #EleNão, defensores da candidatura e da postura de Bolsonaro se mobilizaram também nas redes sociais e saíram às ruas no domingo vestidos de verde e amarelo. Em Brasília, duas carreatas somaram 25 mil veículos, segundo a Polícia Militar. Os veículos ocuparam as seis faixas da Esplanada dos Ministérios. A concentração iniciada no Eixo Monumental tinha como bandeiras a defesa do candidato e a pergunta, exposta em uma faixa: "Quem mandou matar Bolsonaro?”, uma referência ao questionamento utilizado para cobrar explicações sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco.
Em São Paulo, o ato em favor do postulante à Presidência da República se espalhou por quatro quarteirões na Avenida Paulista, mas acabou desmobilizado por causa de uma forte chuva. Os protestos de domingo destoaram dos do dia anterior pelo tipo de público, pelas cores das camisetas e também pela hashtag:os apoiadores de Bolsonaro usaram a ideia dos opositores para compor seu próprio mote, #EleSim.
Um telão erguido na avenida mais importante do país exibia uma mensagem do candidato ao público. "Vamos ganhar essas eleições no primeiro turno. A diferença será tão grande que será impossível qualquer possibilidade de fraude”, bradava. Bolsonaro recebeu alta do hospital Albert Einsten, na Zona Sul de São Paulo, no sábado de manha, após 24 dias internado. Ele retornou à sua casa na capital fluminense, onde permanece em repouso.
Em Porto Alegre, o protesto em defesa de Bolsonaro ocorreu no Parque Moinhos de Vento, povoado tradicionalmente para protestos da direita. No Rio, a marcha foi em Copacabana.
Além de empunhar cartazes contra partidos mais à esquerda, os manifestantes pró-Bolsonaro entoaram o Hino Nacional e discursaram em defesa do militar. Os protestos reuniram, além de simpatizantes da candidatura, representantes de partidos políticos, movimentos autointitulados patriotas e apoiadores da ditadura militar.
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Capítulos da eleição presidencial de 2018
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.