Polo Sul se aquece três vezes mais rápido que resto da Terra
30 de junho de 2020
Estudo aponta que a temperatura da região tem aumentado 0,6 grau Celsius por década, enquanto a média no restante do planeta é de 0,2 grau. Alta é atribuída a variações climáticas naturais e ao comportamento humano.
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As temperaturas do Polo Sul subiram cerca de 1,8 grau Celsius nos últimos 30 anos. A taxa de aumento equivale a três vezes a média observada no restante do planeta no mesmo período, afirmaram cientistas em estudo publicado na revista especializada Nature Climate Change.
Os números divulgados nesta segunda-feira (29/06) derrubam um consenso científico geral de que o Polo Sul – por seu afastamento e extrema frieza em comparação com o resto da Antártida – poderia ser imune ao aquecimento global.
"Enquanto se sabia que as temperaturas vinham se aquecendo na Antártida Ocidental e na Península Antártica ao longo do século 20, o Polo Sul estava esfriando", disse Kyle Clem, pesquisador da Universidade Victoria de Wellington, na Nova Zelândia, e principal autor do estudo.
"Suspeitava-se que esta parte da Antártida pudesse estar imune ao aquecimento. Descobrimos que esse não é mais o caso", acrescentou à agência de notícias AFP.
De acordo com a pesquisa, o Polo Sul – a região mais remota da Terra – tem se aquecido a uma taxa de cerca de 0,6 grau por década, em contraste com a média de 0,2 grau no restante do planeta.
A elevação desproporcional, segundo os cientistas, parece ter sido provocada por temperaturas mais quentes da superfície do mar nos trópicos, que, por sua vez, teriam fortalecido os ciclones no Oceano Atlântico Sul, incentivando o ar quente e úmido a avançar mais do que o normal rumo à Antártida.
"Isso mostra quão intimamente ligado está o clima da Antártida à variabilidade tropical", disse Clem.
Apesar de reconhecer o papel importante do comportamento humano no aumento da temperatura, o cientista afirma ser difícil determinar quanto do aquecimento seria decorrente do aumento das emissões de gases de efeito estufa.
A contribuição humana, segundo o cientista, pode ser responsável por um aquecimento de cerca de 1 grau Celsius ao longo das três décadas.
A Islândia fez um funeral para sua primeira geleira a desaparecer devido à mudança climática. Enquanto isso, em outras partes do mundo o derretimento avança – da Antártida à Groenlândia, mas também na África e Patagônia.
Foto: picture-alliance/AP Photo/NASA
Morte de uma geleira
A Islândia prestou homenagem à primeira geleira do país a desaparecer devido às mudanças climáticas. Okjökull perdeu seu status de geleira em 2014. Em 18 de agosto, o país realizou um funeral simbólico e inaugurou uma placa de cobre em homenagem à geleira morta. "Nos próximos 200 anos todas as nossas principais geleiras deverão seguir o mesmo caminho", prevê a mensagem cravada na placa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Richard
Risco na Antártida
Acredita-se que a geleira Thwaites, parte da camada de gelo da Antártida Ocidental, represente um grande risco para o aumento do nível do mar no futuro. Caso derreta, o bloco gelado pode elevar em 50 centímetros o nível do mar, segundo revelou um estudo da Nasa no início de 2019. A Antártida abriga 50 vezes mais gelo do que todas as geleiras de montanha do mundo juntas.
Foto: Imago Images/Zuma/NASA
Beleza ameaçada na Patagônia
A galeira Grey, no Chile, fica nos campos gelados da Patagônia, que representam a maior extensão de gelo do Hemisfério Sul fora da Antártida. Pesquisadores estão monitorando de perto o derretimento na região, já que isso poderia ajudá-los a entender o que pode acontecer com outras geleiras, como as da Antártida e da Groenlândia, em climas mais quentes no futuro.
Foto: picture alliance/dpa/blickwinkel/E. Hummel
Geleira empacotada
A galeira do Ródano, na Suíça, dá origem ao rio Ródano. Há vários anos cientistas têm coberto seu gelo com mantas brancas resistentes aos raios ultravioleta durante o verão, na tentativa de retardar seu derretimento. Pesquisadores acreditam que o clima mais quente poderá erradicar dois terços do gelo nas geleiras alpinas até o final deste século.
Foto: Imago Images/S. Spiegl
Derretimento na Nova Zelândia
A geleira Franz Josef, na Ilha Sul da Nova Zelândia, é um destino turístico popular. A massa de gelo costumava seguir um padrão cíclico de avanço e recuo. Mas, desde 2008, Franz Josef vem diminuindo rapidamente. Se antes os guias costumavam levar os turistas a pé diretamente até o glaciar, agora a única maneira de alcançá-lo é de helicóptero.
Foto: DW/D. Killick
O gelo africano desaparece
As geleiras do monte Kilimanjaro também estão em risco. Em 2012, pesquisadores apoiados pela Nasa estimaram que o gelo restante na montanha mais alta da África deve desaparecer até 2020. O Kilimanjaro é uma das principais atrações turísticas da Tanzânia e um gerador crucial de receita num país onde a maioria das pessoas vive abaixo do limite da pobreza.
Foto: Imago Images/robertharding/C. Kober
Perigo no meio do rio
O estado americano do Alasca abriga milhares de geleiras. Um estudo divulgado em 2019 revelou que algumas delas estão derretendo 100 vezes mais rápido do que os cientistas previam anteriormente. Em agosto de 2019, dois alemães e um austríaco foram encontrados mortos após andar de caiaque num lago em Valdez. Autoridades acreditam que os turistas morreram pela queda de gelo glacial.
Foto: imago/Westend61
Esta cresce, mas não o suficiente
Jakobshavn, a maior geleira da Groenlândia, está crescendo, conforme revelou um estudo da Nasa no início de 2019. Mas, embora uma borda da geleira tenha engrossado ligeiramente desde 2016, a camada de gelo em geral ainda está derretendo rapidamente, superando em muito a expansão. Cientistas acreditam que o crescimento se deva a um afluxo de água fria do Atlântico Norte, um fenômeno temporário.