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Tendência

(sv)3 de novembro de 2006

Pesquisas de opinião realizadas na Alemanha mostram que o povo está cada vez mais decepcionado com os políticos e descrente do sistema democrático.

Diminui confiança e pessimismo cresceFoto: dpa

"Seis décadas passadas após o fim da ditadura nazista e apenas 17 anos depois da queda do Muro de Berlim, os alemães não estão satisfeitos com seu sistema político", sentencia a versão online do semanário Der Spiegel. A conclusão refere-se à pesquisa de opinião realizada pela emissora ARD, que entrevistou mil pessoas no país, levando a resultados inesperados para muitos: 51% dos participantes perderam a confiança na Justiça e no governo. E 13% dos que responderam aos questionários se dizem profundamente insatisfeitos com a democracia no país.

É a primeira vez na história da Alemanha desde o pós-guerra que as pessoas demonstram tanta insatisfação com os rumos políticos, mesmo quando os indicadores econômicos apontam para uma recuperação da conjuntura.

Também a sensação de que a desigualdade social aumenta é outro fator que preocupa 66% dos alemães, sendo que apenas 27% dos entrevistados afirmam que a situação é "de igualdade". Uma pesquisa realizada em setembro de 2005 trazia dados sensivelmente mais otimistas.

Coalizão vilã

Representantes da classe política vêem na coalizão de governo dos grandes partidos (CDU e SPD) a razão para a descrença da população na democracia. Dieter Wiefelspütz, encarregado de política interna do Partido Social Democrata (SPD), afirmou ao site do semanário Der Spiegel que os recentes debates sobre a reforma da saúde no Parlamento desgastaram a imagem da "grande coalizão" e que o perigo é que a atmosfera de insatisfação continue.

Wiefelspütz lembra, porém, que a população também é responsável pelos rumos políticos do país. "O povo também assume a responsabilidade pela situação política. A grande coalizão é apenas a expressão da vontade do eleitor", conclui o parlamentar.

Para Wolfgang Bosbach, da União Democrata Cristã (CDU), os resultados da enquete são um espelho do que a população realmente pensa. "Isso já pôde ser sentido no alto número de abstenções nas últimas eleições", comenta o deputado.

Leste insatisfeito

Desabrigado nas ruas de Hamburgo: população acha que desigualdade cresceFoto: dpa - Fotoreport

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Leipzig há cerca de três meses já apontava resultados semelhantes aos da pesquisa feita pela emissora ARD. No Leste alemão, apenas 7% dos entrevistados afirmaram estar satisfeitos com a democracia no país, enquanto no Oeste este índice subiu para 50%.

O psicólogo Elmar Brähler declarou por ocasião da divulgação desses resultados que a confiança em instituições como o Bundestag, os partidos políticos e o governo estava caindo a níveis tão baixos como nunca.

Lenta e conseqüente erosão

A União Européia realizou uma pesquisa de opinião semelhante entre a população dos países-membros do bloco, na qual a Alemanha ficou no 13° lugar, empatando com a Grécia. Na enquete, os dinamarqueses se saíram como os mais satisfeitos com o sistema político, com um índice de 93% de aprovação do governo.

Oscar Gabriel, professor da Universidade de Stuttgart, vê uma erosão lenta mas conseqüente da confiança no governo nos últimos 15 anos. Uma das razões disso, acredita Gabriel, é que os habitantes dos Estados do Leste, remanescentes da ex-Alemanha Oriental, de regime comunista, mostravam-se extremamente otimistas em 1990, mas vêm perdendo gradualmente a crença no governo.

Processo reversível?

Já Max Stadler, especialista em política interna do Partido Liberal (FDP), afirma ao Der Spiegel não ter se surpreendido com a decepção da população frente a seus governantes e vê as causas do fenômeno num dado conjuntural: a coalizão dos grandes partidos. "Esta experiência já tivemos com a outra grande coalizão, que governou o país entre 1966 e 1969. Isso é apenas um reflexo. Na Áustria, também houve um efeito semelhante durante a grande coalizão e isso não foi duradouro", argumenta Stadler.

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