População de vertebrados caiu 73% em 50 anos, diz WWF
10 de outubro de 2024
Relatório do Fundo Mundial para a Natureza mostra declínio preocupante de espécies e faz alerta sobre situação na Amazônia, que está prestes a alcançar ponto de inflexão.
Anúncio
A população de vertebrados diminuiu 73% nos últimos 50 anos, indica um relatório divulgado nesta quinta-feira (10/10) pela organização ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Em algumas áreas de alta biodiversidade, como em regiões da América Latina e Caribe, essa queda foi de quase 95%.
"O quadro que estamos pintando é incrivelmente preocupante", afirmou a diretora-executiva do WWF, Kirsten Schuijt. No entanto, ela observou que um ponto sem volta ainda não foi ultrapassado e pediu um "enorme esforço coletivo" nos próximos cinco anos para o enfrentamento das crises climática e da natureza.
O relatório monitorou cerca de 35 mil populações selvagens de 5.495 espécies de anfíbios, aves, peixes, mamíferos e répteis entre 1970 e 2020. O estudo mostra que as populações de espécies de água doce sofreram os maiores declínios, com uma redução de 85%, seguidas das espécies terrestres (69%) e marinhas (56%).
Entre os exemplos de espécies afetadas estão a tartaruga-de-pente – que somente na Ilha Milman, na Grande Barreira de Corais australiana, perdeu 57% das fêmeas que nidificavam entre 1990 e 2018 –, e o boto tucuxi – cuja população diminui 75% entre 1994 e 2016 na reserva Mamirauá, localizada a cerca de 600 quilômetros a oeste de Manaus.
O relatório indica também que as principais ameaças à vida selvagem são a degradação e a perda de habitat, especialmente devido ao sistema alimentar, seguidas pela superexploração, espécies invasoras e doenças, e, por fim, mudanças climáticas e poluição.
Anúncio
Proteção da Amazônia é crucial
O relatório mostra uma perspectiva sombria com "um sistema em perigo" à medida em que o mundo se aproxima de "de pontos de inflexão perigosos e irreversíveis", impulsionados pela perda da natureza e mudanças climáticas. O texto destaca o declínio da Floresta Amazônia e a morte massiva de corais, cujos desaparecimentos "teriam consequências muito além de sua volta e afetariam a segurança alimentar e os recursos que sustentam as pessoas".
"Não é apenas sobre vida selvagem, mas sim sobre ecossistemas essenciais que sustentam a vida humana", destaca o diretor de conservação do WWF, Daudi Sumba. "As mudanças podem ser irreversíveis com consequências devastadoras para a humanidade".
Sumba lembrou ainda que o desmatamento da Amazônia pode transformar o ecossistema em uma fonte de carbono. O relatório cita ainda os incêndios que atingiram o bioma em agosto e alerta que a floresta está perto de seu ponto de inflexão, que pode transformá-la numa savana.
Boas notícias
Apesar da situação global, o relatório apresenta algumas boas notícias, como a estabilização ou aumento de algumas espécies graças aos esforços de conservação. Entre os exemplos citados estão o retorno de populações de bisões europeus na Europa Central e o aumento de 3% no número de gorilas-das-montanhas nas Montanhas Virunga na África Central.
O WWF lembra que foram estabelecidos objetivos globais para "um futuro próspero e sustentável", como travar e reverter a perda de biodiversidade, limitar o aquecimento global a 1,5ºC, erradicar a pobreza e garantir o bem-estar humano. E lembra também que os compromissos atuais estão muito aquém do necessário para atingir essas metas em 2030.
Atualmente, salienta o WWF, mais de metade das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030 não serão atingidas, com 30% delas estagnadas ou piores em relação à linha de base de 2015.
cn (DW, EFE, Lusa)
Os devastadores incêndios florestais no Brasil
Fogo da Amazônia a São Paulo: agosto respondeu por quase metade da área queimada no Brasil ao longo de 2024.
Foto: JOEL SILVA/REUTERS
Metrópoles cobertas de fumaça
Somente no dia 24 de agosto de 2024, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou cerca de 5 mil incêndios no Brasil. Várias cidades que concentram milhões de habitantes ficaram totalmente cobertas por nuvens densas de fumaça, incluindo Manaus (foto), no Amazonas. Na Amazônia, foram contabilizados 1,7 mil incêndios, e muitas cidades decretaram situação de emergência.
Foto: Bruno Kelly/REUTERS
A dimensão da catástrofe ambiental
A fumaça se espalhou por mais de 4 mil quilômetros, da região amazônica, no Norte, passando pelo Pantanal, no Centro-Oeste, e chegando a uma das regiões agrícolas mais importantes do país, no sudeste do estado de São Paulo.
Foto: CARLOS FABAL/AFP/Getty Images
Por um triz
O fogo que se espalhava numa plantação próxima a um condomínio de luxo em São Paulo foi controlado pouco antes de as chamas atingirem as casas. De acordo com as autoridades, os incêndios deixaram pelo menos duas pessoas mortas no estado e destruíram mais de 20 mil hectares em menos de uma semana. O governo paulista estima um prejuízo de R$ 935 milhões.
Foto: Joel Silva/REUTERS
Incêndios criminosos
Na maioria dos casos, as chamas são provocadas intencionalmente. Práticas de queimadas ilegais são usadas para abrir áreas para agricultura e pecuária. A Polícia Federal e as autoridades ambientais investigam dezenas de casos. Três pessoas foram detidas no penúltimo fim de semana de agosto de 2024.
Foto: JOEL SILVA/REUTERS
Pior caso em 17 anos
Manaus, capital do Amazonas, foi coberta por fumaça no dia 27 de agosto. Esses são os piores incêndios registrados na Amazônia nos últimos 17 anos, com mais de 60 mil casos desde o começo do ano. A região amazônica como um todo enfrenta uma grave seca, que os especialistas acreditam estar relacionada com os efeitos do El Niño e das mudanças climáticas.
Foto: Edmar Barros/AP Photo/picture alliance
Seca recorde
Os incêndios são agravados pela seca. Bancos de areia estão aparecendo no Rio Madeira, um afluente do Rio Amazonas. Os níveis do rio vêm diminuindo desde o começo de junho, um mês antes do habitual, dificultando o acesso das vilas e cidades da região a suprimentos básicos. As autoridades temem que a atual seca seja ainda mais intensa que a de 2023, que já havia sido recorde.
Foto: EVARISTO SA/AFP/Getty Images
Agosto responde por metade da área queimada em 2024
De acordo com o Monitor do Fogo da plataforma MapBiomas, 56.516 km² foram queimados no Brasil em agosto, quase metade do total de 113.960 km² atingidos pelo fogo no país em 2024. A área queimada em oito meses equivale a mais que o dobro da registrada no mesmo período de 2023 (52.519 km²). Este foi o pior agosto desde que o MapBiomas iniciou as medições, em 2019.
Foto: Eraldo Peres/AP/picture alliance
São Paulo: metrópole com a pior qualidade de ar no mundo
Em setembro, São Paulo foi considerada por vários dias seguidos a grande cidade mais poluída do mundo pela agência de monitoramento IQAir. A fumaça vinda de focos de queimada na Amazônia e no interior do estado mudou a cor do céu paulistano. A Defesa Civil de São Paulo afirmou no dia 9 de setembro que quase todo o estado estava em situação de emergência para incêndios.
Foto: Paulo Lopes/ZUMA/picture alliance
Brasil concentra três quartos dos incêndios da região
Em 10 de setembro, o Inpe afirmou que, em 24 horas, o Brasil concentrou 75,9% das áreas afetadas pelo fogo em toda a América do Sul. Uma missão humanitária composta por 62 bombeiros do Brasil foi designada para combater incêndios florestais na faixa de fronteira com a Bolívia, que ameaçam atingir o Pantanal brasileiro.
Os incêndios estão sendo considerados um revés político para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu proteger a Amazônia e combater o desmatamento ilegal até 2030. Sob o governo antecessor do ex-presidente Jair Bolsonaro, a destruição da Amazônia alcançou patamares recordes.