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População indígena quase dobra desde 2010, aponta censo

7 de agosto de 2023

IBGE aponta que número de indígenas no Brasil em 2022 chegou a 1,69 milhão, ou 0,83% da população total. Aumento expressivo se deve em grande parte a mudanças na coleta de dados. Maioria vive fora de terras indígenas.

Três homens indígenas de cocar, em foto em cores avermelhadas
O IBGE também identificou 79 municípios com população indígena superior a 5.000 pessoasFoto: Amanda Perobelli/REUTERS

A população indígena do Brasil quase dobrou nos últimos 12 anos, apontam dados do Censo 2022 divulgados nesta segunda-feira (07/08) pelo IBGE. Os dados mostram que o país tem 1.693.535 indígenas residentes, o que corresponde a 0,83% da população brasileira.

No Censo de 2010, o IBGE havia contado 896.917 indígenas, ou 0,47% da população residente no Brasil à época. A variação positiva nesses 12 anos chegou a 88,82%. Enquanto isso, o crescimento total da população brasileira no mesmo período foi de 6,5%. Em comparação a 2010, as maiores variações absolutas no número de indígenas ocorreram no Norte, que teve acréscimo de 410,5 mil, e no Nordeste, com aumento de 296,1 mil indígenas. O Sul teve a menor variação, com 9,3 mil pessoas indígenas a mais.

Em alguns estados, o número de indígenas mais do que dobrou desde 2010. No Rio Grande do Norte, passou de 2.597 para 11.725. Na Bahia, de 60.120 para 229.103. No Ceará, de 20.697 para 56.353, e no Amazonas, de 183.514 para 490.854.

No entanto, o IBGE esclarece que esse aumento expressivo se deve, em grande parte, a mudanças significativas na metodologia, e não necessariamente a fatores demográficos entre os indígenas.

Mudanças na coleta de dados

Os povos indígenas só passaram a ser mapeados pelo IBGE em 1991. À época, o recenseamento era feito com base em autodeclaração de "cor ou raça". Censos anteriores se limitavam a listar os indígenas em categorias como "caboclos" ou "pardos".

No Censo 2010, o IBGE, pela primeira vez, passou a investigar o contingente populacional indígena dentro do quesito cor ou raça também no questionário básico e introduziu critérios adicionais, como o pertencimento étnico, língua falada no domicílio e localização geográfica. No entanto, em 2010, a questão adicional "você se considera indígena?" feita pelos recenseadores aos entrevistados só era aberta para pessoas que aparentavam ser de outras raças se elas estivessem residindo em terras indígenas oficialmente delimitadas.

No Censo de 2022, mais critérios foram adicionados e a metodologia foi expandida, passando a contar com a participação de lideranças das comunidades na coleta de dados e no mapeando prévio de outras localidades indígenas fora das terras oficialmente delimitadas.

De acordo com a responsável pelo projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, Marta Antunes, o aumento expressivo do número de indígenas no censo mais recente é explicado majoritariamente pelas mudanças metodológicas.

"Só com os dados por sexo, idade e etnia e os quesitos de mortalidade, fecundidade e migração será possível compreender melhor a dimensão demográfica do aumento do total de pessoas indígenas entre 2010 e 2022, nos diferentes recortes. Além disso, existe o fato de termos ampliado a pergunta 'você se considera indígena?' para fora das terras indígenas. Em 2010, vimos que 15,3% da população que respondeu dentro das terras indígenas que era indígena vieram por esse quesito de declaração", explica.

Maioria mora fora de terras indígenas

A ampliação da pergunta "você se considera indígena?" para áreas além de terras indígenas delimitadas responde por boa parte desse crescimento. Em 2010, 370 mil pessoas se declaram indígenas fora das áreas delimitadas. Já no Censo de 2022, esse número passou de 1 milhão.

Do total de indígenas identificados em 2022, 72,42% declararam cor ou raça indígena. Os outros 27,58% responderam sim à pergunta "você se considera indígena?", uma vez que a questão remete mais à ascendência indígena, não sendo limitada a percepção da cor. Em 2010, quando a pergunta era feita de maneira mais restrita, essa segunda parcela havia sido de apenas 8,8%.

No censo mais recente, quando considerada a totalidade de indígenas vivendo no país, 622,1 mil (36,73%) residiam em terras indígenas. O restante, 1,1 milhão (63,27%), vive fora delas.

Três estados são residência de quase metade (46,46%) das pessoas indígenas vivendo em terras indígenas: Amazonas (149 mil), Roraima (71,4 mil) e Mato Grosso do Sul (68,5 mil). 

Já a região Sudeste conta com a maior proporção de indígenas que vivem fora dos territórios delimitados (82,56% ou 101,9 mil), seguido do Nordeste (75,43% ou 398,9 mil) e do Norte (57,99% ou 436,9 mil).

O censo também mostra que pouco mais da metade dos indígenas do país reside na Amazônia LegalFoto: Espresso Media

Terra Indígena Yanomami tem maior população

De acordo com os dados do censo, a terra indígena com maior número de habitantes indígenas é a Yanomami, entre o Amazonas e Roraima, com uma população de 27.152, ou 4,36% do total que vivem áreas oficialmente delimitadas. A Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) aparece na sequência, com 26.176 indígenas. Já a Terra Indígena Évare I (AM), tem 20.177.

Na Terra Indígena Yanomami, que também é a maior do país em área, com 9,5 milhões de hectares, a operação censitária foi realizada pelos meios de transporte terrestre, fluvial e aéreo. Na última etapa, houve um acordo de cooperação técnica que envolveu o Ministério dos Povos Indígenas, o Ministério do Planejamento e Orçamento, o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Segundo o IBGE, a população indígena contabilizada em terras delimitadas teve alta de 16% no Brasil desde 2010. O percentual foi observado em 501 terras indígenas classificadas pelo instituto como comparáveis, ou seja, que já haviam sido alvo de coletas de dados no Censo de 2010.

No censo anterior, a população observada nessas áreas era 511,6 mil. Em 2022, chegou a 593,6 mil, um crescimento de 81,9 mil.

Amazônia Legal concentra maioria da população

O censo também mostra que pouco mais da metade dos indígenas do país reside na Amazônia Legal, formada por todos os estados do Norte, Mato Grosso e uma parte do Maranhão. No total, 867,9 mil indígenas moram nessa região, ou 51,25% da população indígena do país. No entanto, na população total dessa região, os indígenas representam apenas 3,26%.

Segundo o IBGE, na Amazônia Legal foram contabilizados 403,3 mil indígenas vivendo em terras indígenas - ou 64,83% dos indígenas que vivem em terras delimitadas. Nesta região, a proporção de indígenas que vivem nesses territórios (46,47%) é superior à média do país (36,73%).

Mais de 600 mil domicílios no Brasil têm pelo menos um morador indígena

O censo também revelou que, dos 72,4 milhões de domicílios particulares permanentes ocupados do Brasil, 630.041 (ou 0,87%) têm pelo menos um morador que se declara indígena. Destes domicílios, 137.256 estão dentro de terras indígenas (21,79%) e 492.785 estão fora (78,21%).

Roraima tem o maior percentual de domicílios com pelo menos um morador indígena localizado dentro de terras indígenas (58,84%), seguida do Mato Grosso (57,91%), Maranhão (52,59%) e Tocantins (51,13%). Os estados com maior percentual de domicílios com pelo menos um morador indígena fora de terras indígenas são Goiás (99,20%), Rio de Janeiro (99,16%), e Piauí (99,08%).

Distribuição em municípios e estados

De acordo com o IBGE, indígenas estão presentes em 86,7% dos municípios brasileiros. Pelos dados, dos 5.568 municípios e do Distrito Federal e de Fernando de Noronha, 4.832 tinham, em 2022, pelo menos um residente indígena.

Os três municípios brasileiros com o maior número absoluto de indígenas ficam no Amazonas: Manaus (71.713 mil), São Gabriel da Cachoeira (48,3 mil) e Tabatinga (34,5 mil). São Gabriel da Cachoeira também aparece em destaque entre as cidades com maior percentual de indígenas na população total: 93,17%. A cidade fica atrás apenas de Uiramutã (RR), que tem 96,60%, e Santa Isabel do Rio Negro (AM), com 96,17%.

O IBGE também identificou 79 municípios com população indígena superior a 5.000 pessoas. No censo de 2010, 42 municípios haviam entrado nessa lista. Outros 199 municípios tem entre mil e cinco mil residentes indígenas.

Na distribuição por regiões, Norte e Nordeste abrigam 75,71% dos indígenas do país. Destes, 753.357(44,48%) vivem no Norte e 528,8 mil (31,22%), no Nordeste. Já o Centro-Oeste concentra 199.912 indígenas (11,80% do país); o Sudeste 123.369 (7,28%); e o Sul 88.097 (5,20%).

Os dois estados com maior número de indígenas, Amazonas (491 mil) e Bahia (229 mil), concentram 42,51% do total dessa população no Brasil. Em terceiro lugar aparece o Mato Grosso do Sul, com 116,3 mil pessoas, seguido por Pernambuco (106,6 mil) e Roraima (97,3 mil). As menores populações se encontram em Sergipe (4,7 mil), Distrito Federal (5,8 mil) e Piauí (7,2 mil).

Já Roraima é o estado com a maior proporção de povos indígenas no total de habitantes: 15,29%. O Amazonas aparece em seguida, com 12,45%. Em terceiro lugar, está o Mato Grosso do Sul, com 4,22%.

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