Políticos de siglas de Alemanha, França e Itália parabenizam novo presidente e se regojizam com a derrota de forças esquerdistas na eleição. "A revolução conservadora chegou à América do Sul", afirma deputado da AfD.
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A vitória de Jair Bolsonaro (PSL) nas eleições presidenciais de domingo (28/10) foi celebrada por políticos de partidos populistas de direita da Europa, que também mostraram satisfação com a derrota da esquerda no pleito.
Na Alemanha, a conta no Twitter da bancada do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), principal força de oposição no país e conhecido pelas sua posições anti-islã e contra refugiados, reproduziu uma mensagem do deputado Petr Bystron felicitando Bolsonaro pela vitória.
"Jair Bolsonaro é um conservador franco que vem trabalhando para combater a corrupção de esquerda e restaurar a segurança e prosperidade para o seu povo", disse em nota o deputado, que representa o partido na Comissão de Assuntos Externos do Parlamento. "Como ocorre com a AfD, ele foi inimizado por todos os lados por ser um outsider que desafiou o sistema."
Bystron também afirmou que Bolsonaro "sofreu enorme pressão do establishment". Ele também criticou a cobertura da imprensa alemã sobre a eleição brasileira. "Quando Bolsonaro se envolveu em uma disputa com uma deputada esquerdista que defendeu um estuprador e assassino cruel, ficava a impressão de que ele próprio era o estuprador. E o fato de um esquerdista ter tentado matá-lo durante a eleição, no entanto, não recebeu a mesma cobertura."
O deputado da AfD ainda disse que "a revolução conservadora chegou à América do Sul" e disse que espera iniciar uma cooperação com Bolsonaro. "Países como a Argentina e o Chile estão olhando para o Brasil com esperança para preparar o continente contra a catástrofe de refugiados que está jorrando da socialista Venezuela em todos os os vizinhos".
Bystron, um deputado de origem tcheca que representa um distrito do norte de Munique, já se envolveu em várias controvérsias na Alemanha por suas posições radicais, em especial sobre o islamismo, e por empregar extremistas de direita e pessoas suspeitas de ligação com movimentos neonazistas em seu gabinete. Recentemente, ele se encontrou com o ideólogo de direita dos EUA Steve Bannon em Praga.
Já na França, a líder da Rassemblement National (Agrupamento ou Comício Nacional, a antiga Frente Nacional) e ex-candidata à Presidência, Marine Le Pen, disse no Twitter logo após o resultado da eleição "que os brasileiros acabaram de punir a corrupção generalizada e a criminalidade aterrorizante que prosperaram sob os governos de extrema esquerda". Ela também desejou sorte a Bolsonaro. "Boa sorte ao novo presidente #Bolsonaro que terá que recuperar a situação econômica, de segurança e de democracia muito comprometida do #Brasil", disse.
No início de outubro, no entanto, Le Pen, que nos últimos anos fez esforços para polir a imagem do seu partido, havia refutado a retórica de Bolsonaro durante uma entrevista a uma rádio. "Ele tem dito coisas que são extremamente desagradáveis, que não podem ser transferidas para nosso país, é uma cultura diferente", disse Le Pen, em referência aos insultos de Bolsonaro contra mulheres, negros e homossexuais.
Ela não é a única figura do partido a felicitar a vitória do ex-capitão. Wallerand de Saint-Just, tesoureiro do partido, também lembrou em entrevista a uma emissora francesa nesta segunda-feira que Bolsonaro foi eleito com 55% dos votos e disse que ele é injustamente criticado pela imprensa francesa. "Assim como eu, Bolsonaro é atacado e tachado com adjetivos injustos, como sendo de extrema direita", disse ele. "Não acredito em nada que a imprensa francesa relata sobre o Brasil e Bolsonaro." Quando jornalistas apresentaram frases de Bolsonaro em que o presidente eleito fala em perseguir e exilar adversários, Saint-Just minimizou o impacto falando que "é preciso ver isso no contexto brasileiro".
Na Itália, o líder do partido ultraconservador Liga, Matteo Salvini, que também é ministro do Interior e vice-premiê, disse em sua conta no Twitter que, "também no Brasil, os cidadãos mandaram para casa a esquerda".
"Bom trabalho ao presidente #Bolsonaro, a amizade entre nossos povos e nossos governos será ainda mais forte." Ele encerrou a mensagem com a hashtag #OBrasilVota17.
Para Salvini, a vitória é ainda mais significativa porque deve influenciar no status de Césare Battisti, que foi condenado por uma série de assassinatos na Itália durante os anos 1970. Ele mora no Brasil desde 2007 e teve extradição barrada por decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, o caso tem sido um ponto de tensão nas relações entre Brasil e Itália.
"Depois de anos de conversas improdutivas [entre os governos dos dois países], pedirei que seja extraditado à Itália o terrorista vermelho #Battisti", escreveu o ministro italiano. Um dos filhos de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), agradeceu a mensagem de Salvini e disse que "o presente está chegando", em referência a Battisti. "Obrigado pelo apoio, a direita fica mais forte", completou o deputado.
No dia 26 de outubro, Bolsonaro reproduziu um vídeo em que aparece ao lado do deputado ítalo-brasileiro Roberto Lorenzato (Liga). Na mensagem que acompanhou a publicação, o presidente eleito reafirmou seu compromisso de extraditar Battisti. Na semana passada, Lorenzato havia afirmado a jornais italianos que a vitória de Bolsonaro resultaria em um "presente" para a Itália, no caso, a extradição de Battisti.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.