Vida de rei?
4 de julho de 2010Com a diminuição da oferta de residências e aluguéis que chegam a valores exorbitantes, cada vez mais pessoas na Europa se voltam para uma forma alternativa de morar conhecida como "guarda de propriedade".
A ideia consiste em colocar pessoas – chamadas guardiões – para morar em imóveis desocupados, pagando um aluguel baixo; em troca, eles garantem a segurança 24 horas do local para os proprietários.
Benefício mútuo
Em vez de deixar imóveis desocupados se deteriorar, empresas estão começando a explorar esse recurso que, afinal, gera benefícios para os dois lado. Segundo John Mills, diretor da administradora de imóveis Camelot Property Management, o sistema proporciona um serviço de segurança de alta qualidade por um valor muito reduzido.
"Empregar um guarda 24 horas por dia para proteger uma propriedade custaria em média 3 mil libras esterlinas por semana", afirma Mills.
"Nós administramos uma propriedade por cerca de 100 libras por semana. Então há uma enorme economia de custos para os proprietários. Ter pessoas morando no imóvel também é mais eficiente. Assim, acreditamos que o nosso método de proteger imóveis é melhor e também mais barato do que os tradicionais", argumenta.
Excentricidade econômica
Devido à natureza "não residencial" inerente às propriedades desocupadas, os guardiões podem viver situações pouco usuais, como morar em castelos, antigas escolas ou ainda observatórios.
Em troca de proteger os imóveis contra vândalos e invasores, os guardiões se beneficiam de um aluguel mais barato. Michael Eslami mora atualmente num prédio de seis andares na área central de Londres. Ele paga cerca de 60 libras por mês.
"Um apartamento de peça única ou de um quarto custaria cerca de 450 libras, sem considerar as contas", disse. "Isso se você ficar satisfeito com o que conseguir!"
Processo incerto
Os candidatos a guardiões passam por um processo de seleção que inclui a verificação de antecedentes criminais e de renda. Uma vez selecionados, eles precisam assumir certas responsabilidades: festas são proibidas, bem como grandes grupos de visitantes; o imóvel não pode ficar vazio por mais de quatro dias e qualquer dano tem de ser comunicado imediatamente.
E os candidatos podem receber em cima da hora a informação de que há uma propriedade vaga, às vezes com apenas um dia de antecedência. E os guardiões também nunca sabem ao certo quanto tempo poderão ficar no imóvel.
"Se você quer ser um guardião, tem que levar em consideração que talvez não ficará por mais de três meses no imóvel", lembra Eslami. "Claro que você não pode ter animais de estimação nem crianças, e também ajuda se você estiver numa fase de mudança na vida e puder tolerar esse nível de incerteza."
De volta aos anos de 1970
A ideia da "guarda de propriedade" remonta aos anos 1970, na Holanda, quando uma crise imobiliária levou pessoas a ocupar propriedades vazias em larga escala. As leis sobre a ocupação ilegal de imóveis eram um terreno nebuloso no país, tornando difícil para os proprietários reclamar seus direitos. Nesse contexto, a "guarda de propriedade" era uma solução que agradava aos dois lados.
Por volta de 1933, a ideia foi introduzida no Reino Unido pela Camelot Property Management. Atualmente existem várias empresas oferecendo serviços similares no país. "É um serviço bem-sucedido e que pode ser levado para outros países. Temos agora escritórios na França, na Bélgica, na Irlanda e estamos prestes a abrir filiais na Alemanha e na Dinamarca", diz Mills.
Aventura
Para Eslami, as vantagens financeiras são apenas a ponta do iceberg. "Não é sempre uma Disneylândia, mas há alguns grandes momentos que devem ser aproveitados – como se você estivesse viajando por um país. Essa coisa de ser um guardião é apenas uma viagem e se você gosta dela, ela reúne todas as coisas que você espera encontrar nesse tipo de experiência não convencional."
Autora: Sarah Stolarz (np)
Revisão: Alexandre Schossler