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Por que a China não critica a Rússia

Hans Spross
25 de fevereiro de 2022

Governo chinês se negou a qualificar as hostilidades de Moscou contra a Ucrânia como invasão. Rússia, sua parceira na reestruturação da ordem mundial, é importante demais para Pequim.

Presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping
Putin e Xi Jinping se reuniram no início de fevereiro em PequimFoto: Alexei Druzhinin/Sputnik/Kremlin Pool Photo via AP/picture alliance

A "regra fundamental" de respeito à soberania, independência e integridade territorial de todos os países também se aplica à Ucrânia, afirmou o ministro do Exterior da China, Wang Yi, na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 18 a 20 de fevereiro. Agora que as previsões dos serviços secretos americanos sobre um ataque da Rússia à Ucrânia se tornaram realidade, a China teve que tomar novamente uma posição.

"Essa talvez seja a diferença entre a China e vocês ocidentais. Não vamos apressar uma conclusão", declarou na quinta-feira (24/02) a porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Hua Chunying, respondendo a um jornalista que usou o termo "invasão" para se referir à movimentação russa na Ucrânia.

"Sobre a definição de invasão, acho que devemos voltar [à questão de] como enxergar a situação atual na Ucrânia. A questão ucraniana tem outros antecedentes históricos muito complicados que continuam até hoje. Pode não ser o que todos querem ver."

A representante do governo chinês pediu, porém, que "as partes diretamente envolvidas exerçam moderação e evitem que a situação saia do controle". No Twitter, Hua acrescentou que Pequim é a favor de os Estados "resolverem as suas diferenças internacionais de forma pacífica".

Também na China se sabe que a Carta da ONU proíbe o uso de força nas relações interestatais, exceto para autodefesa. Então deveria a declaração da porta-voz conter um aceno indireto a Moscou para suspender a invasão – mesmo que Pequim não queira chamá-la assim?

 

Pedido de paz de Pequim é credível?

Segundo a especialista em China Didi Kirsten Tatlow, do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP), é teoricamente possível que as declarações de Pequim sejam sinceras – porém é improvável.

Segundo ela, é mais plausível que a China esteja querendo convencer o mundo de seu amor pela paz – como na já mencionada declaração do ministro Wang Yi na Conferência de Munique. Ao mesmo tempo, apoia indiretamente as ações do presidente russo, Vladimir Putin, acusando os Estados Unidos de serem belicistas.

"Enquanto a China não tomar uma posição pública e concreta contra a agressão russa na Ucrânia, o mundo não deixará impressionar por seus pedidos de paz", disse Tatlow à DW.

Um primeiro teste do posicionamento chinês será a votação no Conselho de Segurança da ONU, prevista para esta sexta-feira, de um esboço de resolução condenando as hostilidades russas. Se a China se abstiver, como esperado, sua postura indireta de apoio a Moscou se tornará "ainda mais clara", afirma Tatlow.

Para a observadora de longa data da China, é evidente que o presidente chinês, Xi Jinping, não está disposto a unir forças com os americanos no conflito na Ucrânia, pois Xi e o Partido Comunista chinês "rejeitam publicamente a democracia".

"Não há nenhum motivo razoável para acreditar que Xi vá mudar fundamentalmente sua posição. Para ele, isso seria o mesmo que 'vender' a China. Se a crise da Ucrânia se revelar prejudicial demais para a China, talvez Xi possa adotar uma posição diferente, mas isso não está claro no momento", diz Tatlow.

O dilema chinês

A China vive de certa forma um dilema, analisa a especialista. Por um lado, quer mudar a atual ordem internacional junto com sua "amiga" Rússia, como vem proclamando há anos; por outro, se expõe a possíveis danos maciços a sua imagem se demonstrar solidariedade com um "Estado criminoso" que invade um país soberano.

"Os próximos dias e semanas provarão até que ponto Pequim conseguirá caminhar na corda bamba entre preservar a amizade com a Rússia e salvar sua imagem na crise da Ucrânia", diz Tatlow.

"A diplomacia chinesa parecia correr atrás dos acontecimentos de quinta-feira, inclusive no Conselho de Segurança da ONU", analisou o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. "Mesmo depois que as primeiras explosões foram relatadas em várias cidades ucranianas, o embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, disse que 'a porta para uma solução pacífica não está completamente fechada'."

Embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, durante reunião de emergência do Conselho de SegurançaFoto: ASSOCIATED PRESS/picture alliance

Xi Jinping sabia?

O presidente chinês  ficou surpreso com a invasão da Rússia à Ucrânia? Questionada se Putin havia informado Xi Jinping sobre seu plano de atacar em breve o país vizinho, durante um encontro entre os dois chefes de Estado no início de fevereiro, a porta-voz Hua rebateu que a Rússia, como potência independente, não precisa pedir permissão à China.

E quando os chefes de Estado se reuniram, por ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, eles "naturalmente trocaram opiniões sobre questões de interesse comum, todas as vezes".

"Não sabemos quanto Xi sabia em 4 de fevereiro, quando ele e Putin emitiram uma declaração em Pequim falando do 'início de uma nova era' e de uma 'cooperação sem fronteiras'", observa Didi Tatlow. "É possível que ele tenha subestimado Putin. Mas é difícil imaginar que Pequim estivesse tão mal informado, ou pelo menos não tivesse considerado a possibilidade" de um ataque.

Wendy Sherman, secretária adjunta de Estado dos EUA, observara, no fim de janeiro, que uma invasão da Ucrânia antes do início dos Jogos de Inverno "provavelmente não seria vista com entusiasmo" por Xi Jinping. Uma consideração "que Putin pode levar em conta em seu cronograma de novas ações com a Ucrânia", comentou Sherman na ocasião. O presidente russo, pelo visto, considerou o alerta.

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