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Por que a covid-19 mata mais homens?

29 de junho de 2020

O novo coronavírus atinge homens e mulheres basicamente na mesma proporção. Mas a taxa de sobrevivência delas é significativamente mais alta. Pesquisadores ainda tentam entender o porquê.

Profissionais com vestimenta especial carregam caixão
Em mais de 20 países pesquisados, os homens representam cerca de dois terços das mortes por covid-19Foto: Reuters/J. Cabezas

Desde o início da pandemia, especula-se por que os homens sofrem mais com a infecção pelo novo coronavírus. Entre os argumentos estão os de que eles supostamente prestam menos atenção à saúde, fumam mais, se alimentam pior. Especialmente a geração mais velha teria um estilo de vida pouco saudável. Além disso, alguns afirmam, os homens geralmente costumam demorar mais para procurar um médico.

Segundo a iniciativa de pesquisa Global Health 50/50, dados de mais de 20 países confirmam que as mulheres são infectadas pelo vírus com a mesma frequência que os homens. Mas é mais provável que os homens contraiam covid-19 e morram da doença. Nos países pesquisados, os homens representam cerca de dois terços das mortes.

Isso certamente também se deve à condições de saúde pré-existentes. Por exemplo, os homens sofrem com muito mais frequência de doenças cardiovasculares, das quais eles também morrem com maior incidência do que as mulheres.

Outro fator decisivo é a estrutura etária: de acordo com o Instituto Robert Koch (RKI), da Alemanha, pelo menos duas vezes mais homens do que mulheres morreram em todas as idades até a faixa etária de 70 a 79 anos. Somente então a proporção se estabiliza. Depois, ela se inverte novamente, a partir da faixa etária de 90 a 99 anos.

No entanto, é provável que isso se deva ao fato de que existem significativamente mais mulheres muito mais velhas do que homens. Mesmo o instituto alemão é incapaz de citar as razões para essa diferença entre os sexos.

Receptor mais presente nos homens

O receptor da enzima ECA2 pode desempenhar um papel importante, porque serve como uma espécie de porta de entrada para as doenças covid-19, sars e mers, causadas por coronavírus. Os homens também foram mais afetados pela mers, diz Bernhard Zwissler, Diretor do Departamento de Anestesiologia do Hospital da Universidade de Munique (LMU).

De acordo com um estudo do Centro Médico Universitário Groningen, na Holanda, o receptor da ECA2 é encontrado em concentrações mais elevadas nos homens. Os pesquisadores descobriram esta diferença entre os sexos enquanto investigavam uma possível correlação entre o receptor e a insuficiência cardíaca crônica.

De acordo com Zwissler, os pesquisadores estão atualmente investigando se a administração de inibidores da ECA, como drogas anti-hipertensivas, leva ao aumento da formação do receptor da ECA2 nas células, o que as tornaria mais suscetíveis à infecção. Segundo os pesquisadores, isso é certamente concebível, mas ainda nada foi provado.

Coronavírus usam os receptores da enzima ECA2 como porta de entrada para célulasFoto: imago/Science Photo Library

Sistema de defesa das mulheres

Em comparação, o sistema imunológico feminino é mais resistente que o dos homens. O hormônio sexual feminino estrogênio é o principal responsável por isso. Ele estimula o sistema imunológico e age mais rapidamente e de forma mais agressiva contra patógenos. A testosterona masculina, por outro lado, inibe as próprias defesas do corpo.

Segundo virologistas, o fato de que o sistema imunológico das mulheres geralmente reage mais rapidamente e de forma mais intensa às infecções virais do que o dos homens também é evidente em outras doenças virais, como influenza ou simples resfriados.

Por outro lado, as mulheres sofrem mais frequentemente de doenças autoimunes, nas quais o sistema imunológico reage em excesso e ataca suas próprias células – uma possível complicação também com a covid-19.

De acordo com o virologista molecular Thomas Pietschmann, há também "razões genéticas" que favorecem as mulheres. Ele explica que alguns genes relevantes para a imunidade, como por exemplo, genes responsáveis pelo reconhecimento de patógenos, são codificados no cromossomo X. E como as mulheres têm dois cromossomos X, e os homens, apenas um, as mulheres têm vantagens.

Índia, um caso especial

Na Índia, a tendência é contrária. Pesquisas mostram que as mulheres no país asiático têm um risco maior de morrer de covid-19 do que os homens. A taxa de mortalidade para as mulheres infectadas é de 3,3% em geral, enquanto a taxa para os homens infectados é de 2,9%.

No grupo de 40 a 49 anos, 3,2% das mulheres infectadas morreram, em comparação com 2,1% dos homens. Na faixa etária dos 5 aos 19 anos de idade, somente mulheres morreram.

As razões para esse caso especial indiano estão sendo intensamente investigadas atualmente. Suspeita-se que as mulheres sejam mais afetadas, entre outras coisas, porque simplesmente há mais mulheres mais velhas do que homens na Índia.

Além disso, na Índia, é dada menos atenção à saúde da mulher. As indianas visitam o médico com menos frequência e muitas vezes tentam se automedicar primeiro. Somente relativamente tarde é que elas podem ser testadas para covid ou tratadas.

"Não está claro quanto é devido a fatores biológicos e quanto está relacionado a fatores sociais", disse, em entrevista à BBC, SV Subramanian, professor de Saúde Pública da Universidade de Harvard. "O sexo pode ser um fator crítico no ambiente indiano", comentou. 

A gripe espanhola de 1918 matou significativamente mais mulheres do que homens na Índia. As mulheres eram mais suscetíveis à infecção porque muitas delas eram desnutridas e porque frequentemente eram mantidas trancadas em casas pouco higiênicas e mal ventiladas. Além disso, elas se ocupavam mais do que os homens dos cuidados com os doentes.

Por que as crianças estão menos em risco?

Surpreendentemente, as crianças não estão entre os membros mais vulneráveis da sociedade quando se trata do novo coronavírus – na maioria das crianças a doença é comparativamente leve e muitas vezes até assintomática. Das 8.882 pessoas que morreram de covid-19 na Alemanha desde o início da pandemia, apenas três tinham menos de 18 anos de idade.

A razão para isso ainda não foi totalmente compreendida. Os médicos acreditam que o "sistema não específico" inato é eficaz em crianças pequenas. Como proteção contra os primeiros patógenos, a mãe dá sua própria proteção imunológica específica ao feto e mais tarde ao recém-nascido via leite materno.

Essa defesa imunológica inata inclui, por exemplo, as "células assassinas" – glóbulos brancos que atacam todos os patógenos que entram no corpo através das membranas mucosas ou da pele.

Esta "imunização passiva" geralmente dura até que as crianças tenham construído seu próprio sistema de defesa. Até cerca de dez anos de idade, as crianças desenvolvem sua defesa imunológica específica. E mesmo depois disso, seu sistema de defesa permanece capaz de aprender ao longo de suas vidas quando surgem novos patógenos.

Crianças com proteção facial em escola em Angers, no oeste da FrançaFoto: Getty Images/AFP/D. Meyer

Mito das crianças como propagadoras

Em todo caso, a distribuição etária da covid-19 difere significativamente de outras doenças infecciosas, onde as crianças são muitas vezes consideradas "propulsoras de infecções", ao disseminarem um vírus rapidamente por toda a população.

Este não é o caso do novo coronavírus, de acordo com um estudo encomendado pelo governo do estado alemão de Baden-Württemberg. O estudo serve agora como base para um retorno rápido e abrangente ao funcionamento normal em creches e escolas, desde que os padrões de higiene e as regras de distanciamento sejam observados.

Entretanto, ainda não está claro se as crianças infectadas têm tantas chances de infectar alguém quanto os adultos infectados. Em um estudo que também tem sido muito discutido, o virologista Christian Drosten, do Hospital Charité, em Berlim, mostrou que as crianças carregam tanto vírus na garganta quanto os adultos. Outros estudos em outros países também chegaram a esta conclusão.

Porém, a mera presença de vírus no trato respiratório não prova que ele será transmitido na mesma extensão. Como as crianças têm menos sintomas, por exemplo, menos tosse, pode ser que estejam infectadas, mas que infectem menos pessoas, segundo afirmaram pediatras e especialistas em higiene em uma declaração conjunta de quatro sociedades médicas na Alemanha.

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