Tarifaço de Trump gera incertezas sobre economia global. Aumento da oferta da Opep+ amplifica choque e leva commodity ao menor nível em 4 anos – com consequências para países produtores.
Petróleo caiu ao menor nível desde o início da pandemia de covid-19 Foto: Feng Renhua/Imaginechina/dpa/picture alliance
O barril do Brent agora tem operado perto da faixa dos US$ 60, nos patamares mais baixos desde o choque causado pela pandemia de covid-19, no começo de 2020.
A guerra tarifária entre EUA e China pressiona as expectativas de crescimento econômico global, enquanto a incerteza geral sobre o comércio pesa fortemente no preço do petróleo.
Mais do que as tarifas por si só, investidores temem o quadro contínuo de dúvidas sobre a retaliação dos países envolvidos, avalia Carole Nakhle, CEO da consultoria de energia Crystol Energy.
"Acrescente-se o fato de que isso acontece enquanto a demanda por petróleo já não estava crescendo enquanto a oferta é abundante e o resultado são os níveis de preços que estamos observando agora", explica.
Choque da Opep+
Sede da Opep na Áustria. Junto com aliados, organização anunciou aumento na oferta oferta de petróleo. Foto: Lisa Leutner/AP/picture alliance
Para agravar o cenário, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) provocou mais um grande choque nos mercados no dia seguinte ao anúncio de Trump. O grupo formado por 12 membros do cartel mais outros 10 grandes exportadores informou que aumentaria a oferta da commodity significativamente a partir de maio.
Sob a liderança de Arábia Saudita e Rússia, a Opep+ vinha limitando a produção petrolífera na última década para manter os preços elevados. A expectativa era pela manutenção dessa postura.
Mas analistas acreditam que a mudança repentina é uma tentativa de controlar países como Cazaquistão e Iraque, que desrespeitaram o acordo aos produzir mais do que o combinado.
Essas nações "esgotaram a paciência dos membros mais disciplinados", que estavam "carregando o fardo dos cortes" na oferta há algum tempo, afirma Nakhle.
O Cazaquistão, por exemplo, irritou a Arábia Saudita ao ampliar a produção no campo de petróleo de Tengiz, no noroeste do país. Já o Iraque reduziu a oferta recentemente, mas não prometeu compensar o descumprimento de suas cotas nos últimos anos.
Para Nakhle, a aliança está preparada para um ambiente de longo prazo de preços mais baixos. "A Opep+ acredita que seria melhor para alguns membros, especialmente aqueles que investiram pesadamente na expansão de sua capacidade de produção, protegerem sua participação de mercado", ressalta.
Nakhle acrescenta que a organização pode estar se posicionando para uma redução da oferta de membros como Rússia, Venezuela e Irã por conta de fatores geopolíticos, como sanções e uma possível operação militar contra os iranianos. "Então, o mercado pode absorver os barris adicionais sem sucumbir os preços", diz.
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Preocupação no Kremlin
Trump tem promovido a queda nas cotações do petróleo como um reflexo do sucesso de suas políticas, essencial para o alívio no valor da gasolina nas bombas. "Temos tudo [os preços] em níveis que ninguém nunca achou ser possível”, escreveu na rede social Truth Social.
Trump vê desvalorização do petróleo como essencial para queda nos preços da gasolina. Foto: Michael Ho Wai Lee/ZUMAPRESS/picture alliance
Vários analistas, porém, veem o movimento como um sinal de preocupação sobre o estado da economia mundial. O banco de investimentos americano Goldman Sachs prevê que o Brent pode cair abaixo de US$ 40 por barril até o final de 2026 em um "cenário extremo”.
Para a Rússia, em particular, o quadro teria profundas consequências políticas e econômicas. O país conseguiu resistir a sanções do Ocidente desde o começo da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, em parte, por conta da escalada dos preços do petróleo, que impulsiona as receitas domésticas.
Na visão de especialistas, a reversão dessa tendência teria impacto considerável nos planos orçamentários e de gastos do Kremlin, o que poderia levá-lo a repensar a campanha militar em andamento.
As despesas com defesa mais que triplicaram desde 2021 e devem atingir um recorde de 13,5 trilhões de rublos (R$ 960 bilhões) no orçamento de 2025, com um aumento de 25%.
De acordo com dados compilados pela agência de notícias Reuters, o preço do petróleo dos Urais, referência para a Rússia, caiu a US$ 53 no final da semana passada.
Rússia depende de receitas com exportações de petróleoFoto: Vyacheslav Prokofyev/Kremlin/Sputnik/AP/picture alliance
Chris Weafer, consultor de investimentos que vive e trabalha na Rússia há mais de 25 anos, disse à DW que a eventual persistência dessa queda forçará o Banco Central russo a "enfraquecer significativamente o rublo" e possivelmente também obrigará o governo a reduzir seus planos de gastos.
Weafer reconhece que petróleo não representa mais a mesma parcela das receitas russas que antes, caindo de cerca de 50% há uma década para cerca de 30% hoje. Mesmo assim, uma baixa sustentada nos preços teria um grande impacto em todos os aspectos da política do Kremlin, afirma.
O governo russo não teria "dinheiro sobrando” se essas receitas desabassem mais. "A posição financeira da Rússia parecerá muito menos segura, talvez dentro de um ano, e isso claramente poderia minar a capacidade da Rússia de negociar um acordo em relação à Ucrânia", acrescentou.
O mês de abril em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Riccardo De Luca/Anadolu Agency/picture alliance
Corpo do papa Francisco é velado da Basílica de São Pedro
O corpo do papa Francisco foi transferido à Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano, para o velório que ocorre até o funeral de sábado, quando ele será enterrado em um túmulo simples na Igreja de Santa Maria Maggiore. O caixão foi levado aberto da capela da Casa Santa Marta. Ao menos 20 mil fiéis já visitaram o local e muitos não conseguiram entrar durante o período permitido. (24/04)
Foto: Alberto Pizzoli/AFP
Centenas se reúnem no Vaticano para rezar pelo papa Francisco
Fiéis se reuniram na Praça São Pedro para prestar suas últimas homenagens ao pontífice, onde ações foram programadas para ocorrer todas as noites até o funeral no próximo sábado. A multidão se voltava a uma imagem de Francisco projetada em uma tela ao lado da Basílica. Nesta terça-feira, o Vaticano também divulgou as primeiras imagens do corpo do pontífice, exposto na Casa de Santa Marta. (22/04)
Foto: Bernat Armangue/AP Photo/picture alliance
Morre o papa Francisco
O papa Francisco morreu aos 88 anos. "Às 7:35 desta manhã, o bispo de Roma, Francisco, regressou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja", anunciou o Vaticano. Primeiro papa das Américas, Francisco ocupou o posto por 12 anos. No dia anterior, ele havia feito sua última aparição pública, para a tradicional bênção de Páscoa. (21/04)
Foto: Riccardo De Luca/Anadolu Agency/picture alliance
Papa aparece no Domingo de Páscoa e dá benção aos fiéis
O papa Francisco, ainda se recuperando de uma infecção respiratória, apareceu na sacada da galeria central da Basílica de São Pedro para a bênção Urbi et Orbi após a missa do Domingo de Páscoa e depois saudou os fiéis circulando a Praça de São Pedor a bordo do papamóvel, usando o veículo pela primeira vez após deixar hospital. (20/04)
Foto: Yara Nardi/REUTERS
Robôs humanoides na pista
A China promoveu neste sábado a primeira meia-maratona de humanos e robôs humanoides do mundo, em Pequim. Foram 21 robôs bípedes correndo ao lado de cerca de 10 mil humanos. O robô vencedor, Tiangong Ultra, terminou o percurso em 2 horas e 40 minutos – mais de uma hora depois do humano mais rápido, que percorreu os 21 km em 1 hora e 11 minutos. (19/04)
Foto: Tingshu Wang/REUTERS
Calábria debaixo d'água
O litoral da Calábria, no sul da Itália, foi atingido por um ciclone mediterrâneo que causou devastação com ventos fortes e chuvas intensas. Uma grande área com casas na cidade de Schiavonea foi inundada. (18/04).
Foto: Alfonso Di Vincenzo/ipa-agency/picture alliance
World Press Photo premia retrato de criança palestina amputada pela guerra em Gaza
Registro feito pela fotógrafa palestina Samar Abu Elouf para o "The New York Times" venceu renomado prêmio de fotojornalismo. "Como poderei abracá-la?", indagou o garoto à mãe, ao ouvir que perderia os braços. Mahmoud Ajjour tem 9 anos e foi evacuado para Doha, assim como Elouf. "Crianças palestinas têm pagado um alto preço pelos horrores que vivenciaram", lamenta ela. (17/04)
Foto: Samar Abu Elouf/The New York Times
Sexo biológico define quem é mulher, diz Supremo britânico
Corte decidiu nesta quarta-feira (16/04) que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido com base no sexo biológico de nascimento. A decisão foi emitida num processo que contestava uma interpretação de lei antidiscriminação. Na prática, mulheres trans poderão ser excluídas de espaços femininos como vestiários, abrigos para sem-teto e serviços médicos específicos para mulheres. (16/04)
Foto: Thomas Krych/ZUMA Press Wire/picture alliance
Ex-presidente do Peru tem pena de 15 anos em caso Odebrecht
O ex-presidente do Peru Ollanta Humala (2011-2016) e a mulher dele, Nadine Heredia, foram condenados a 15 anos de prisão por lavar dinheiro de propina paga pela construtora brasileira Odebrecht (atual Novonor) e pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, morto em 2013. A verba irrigou as campanhas eleitorais de Humala em 2011 e 2006, respectivamente. (15/04)
Foto: Angela Ponce/REUTERS
Argélia expulsa diplomatas franceses
Argel deu aos membros da embaixada francesa um prazo de 48 horas para deixarem o país norte-africano. O motivo foi a prisão de três argelinos na França, entre os quais um funcionário de consulado, suspeitos de participar do sequestro do influenciador argelino Amir Boukhors (foto) num subúrbio de Paris, em abril de 2024. Perseguido em seu país, ele obtivera asilo na França no ano anterior (14//04)
Foto: https://www.tiktok.com/@amir.dz
Ataque israelense desativa hospital no norte de Gaza
Dois mísseis israelenses atingiram um importante hospital no norte da Faixa de Gaza, destruindo a ala de emergência e danificando outras estruturas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 33 dos 36 hospitais do território palestino sofreram algum dano no conflito. Ataques a unidades de saúde mataram 886 pessoas e destruíram 170 ambulâncias. (13/04)
Foto: Hamza Z. H. Qraiqea/picture alliance/Anadolu
Irã e EUA abrem diálogo por acordo nuclear
Países abriram conversas consideradas "construtivas" após Donald Trump ameaçar uma ofensiva militar contra a República Islâmica. O republicano tirou os EUA do acordo nuclear com Teerã durante seu primeiro mandato, em 2018. Presidente americano pressiona por fim do programa iraniano de enriquecimento de urânio. Diálogo aconteceu de forma indireta, mediado pelo chanceler de Omã (à dir.). (12/04)
Justiça dos EUA autoriza deportação de estudante com green card
Juíza acatou argumento da Casa Branca de que permanência de Mahmoud Khalil nos EUA teria "consequências graves em termos de política externa". Aluno da Universidade de Columbia, ele foi detido por participar de protestos pró-palestinos. Caso marcou o início de uma ofensiva para deportar estudantes estrangeiros críticos de Israel. Decisão abre precedente, dizem críticos. (11/04)
Foto: Jeenah Moon/REUTERS
Helicóptero cai em Nova York e deixa seis mortos
Aeronave que transportava uma família de turistas espanhóis perdeu o controle e caiu no Rio Hudson, nas proximidades da Estátua da Liberdade. As seis pessoas que estavam a bordo morreram, incluindo três crianças. O motivo do acidente ainda é investigado pelas autoridades. (10/04)
Foto: Mark Lennihan/AP Photo/picture alliance
Trump eleva taxa da China e recrudece guerra comercial
Cargueiros em porto americano de Los Angeles em meio a conflito tarifário: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que irá aumentar para 125% a tarifa sobre produtos chineses , aprofundando, assim, a disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo. Ao mesmo tempo, disse que reduzirá para 10%, pelo prazo de 90 dias, as taxas aplicadas a outros países. (09/04)
Foto: Mario Tama/Getty Images/AFP
Teto de boate na República Dominicana desaba
Pelo menos 66 pessoas morreram e mais de 150 ficaram feridas após o desabamento do teto da boate Jet Set, em Santo Domingo, capital da República Dominicana. A estrutura colapsou após um apagão repentino durante a apresentação do cantor de merengue Rubby Pérez. As causas da tragédia ainda são desconhecidas. (08/04)
Foto: ASSOCIATED PRESS/picture alliance
Primeira visita oficial à Casa Branca após tarifaço
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reuniu-se com o presidente dos EUA, Donald Trump, para discutir, entre outros temas, a situação na Faixa de Gaza e as tarifas impostas para todas as importações dos EUA. Netanyahu disse que considera a "visão" de Trump de tomar o controle do enclave e transformá-lo num empreendimento de turismo, deslocando 2 milhões de palestinos. (07/04)
Foto: Kevin Dietsch/Getty Images
Papa aparece pela primeira vez desde que voltou ao Vaticano
O papa Francisco fez uma aparição surpresa diante dos fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano, ao final da missa do Jubileu dos Enfermos, dedicada aos doentes. Foi a primeira aparição pública do pontífice de 88 anos desde 23 de março, quando ele deixou a clínica Gemelli, em Roma, após 38 dias internado devido a uma pneumonia bilateral e outros problemas respiratórios. (06/04)
Foto: Remo Casilli/REUTERS
Tarifaço de Trump entra em vigor
O novo pacote de tarifas globais anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entraram em vigor, oficializando uma medida que ameaça perturbar ainda mais os mercados internacionais. No caso do Brasil, a alíquota foi mantida em 10%, mas chegou a ser incrementada em até 20% para produtos da UE ou até 54% para as exportações chinesas que chegam ao mercado americano. (05/04)
Foto: Stringer/AFP
China reage a Trump e abre guerra comercial global
A China impôs tarifas adicionais de 34% sobre as importações oriundas dos EUA, em retaliação à sobretaxa de igual valor imposta pelo presidente americano, Donald Trump, a produtos chineses. A decisão abriu uma guerra comercial que pode também se expandir para outros países. Mercados financeiros de todo o mundo fecharam o dia em baixa, ampliando temores de uma recessão global. (04/04)
Foto: Wang chun lyg/Imaginechina/picture alliance
Orbán recebe Netanyahu e anuncia saída da Hungria do TPI
A Hungria decidiu se retirar do Tribunal Penal Internacional (TPI) instantes após a chegada ao país do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a convite do premiê húngaro, Viktor Orbán. O TPI emitiu um mandado de prisão internacional contra o premiê israelense, que é acusado de crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos no conflito com o Hamas, na Faixa de Gaza. (03/04)
Foto: Denes Erdos/AP/dpa/picture alliance
Trump anuncia tarifaço sobre importados
Presidente dos EUA anunciou que vai impor uma tarifa básica de 10% sobre tudo que o país importa – inclusive do Brasil –, com tarifas ainda mais altas sobre a União Europeia (20%) e a China (34%), dentre outros cerca de 60 países. A medida, que ele diz que incentivará a produção americana e engordará os cofres do governo, na verdade deve piorar a inflação. (02/04)
Foto: Mark Schiefelbein/AP Photo/picture alliance
Mais de 300 crianças mortas desde fim do cessar-fogo em Gaza, diz Unicef
A Unicef, agência da ONU para a infância, afirma que ao menos 322 crianças foram mortas desde que Israel retomou sua ofensiva militar contra o Hamas na Faixa de Gaza, em 18 de março. O cessar-fogo foi suspenso após os dois lados do conflito discordarem sobre os próximos passos. Israel quer libertação dos 59 reféns que ainda estão em poder do grupo palestino. (01/04)