Por que a Holanda é o único país da UE que não engorda?
Conor Dillon, de Venlo (gb)11 de junho de 2015
Todos países da União Europeia terão mais obesos até 2030. Menos um. Por isso, a DW foi até a Holanda conferir por qual motivo a população é e tende a continuar magra mesmo comendo tanta batata frita com maionese.
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A melhor forma de se locomover pela Holanda é, sem dúvida, de bicicleta. E é isso que faz a maioria – inclusive estrangeiros – ao desembarcar na estação de trem da cidade de Venlo, no sudeste do país, quase na fronteira com a Alemanha.
"De 100 a 200 pessoas, todos os dias, chegam de trem e completam a viagem ao trabalho pedalando", conta Edwin, um holandês de 43 anos, funcionário de uma loja especializada em vendas e consertos de bicicletas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Holanda é o único país da União Europeia que não tende a ver suas taxas de obesidade crescerem nos próximos 15 anos. Até 2030, a população obesa deve atingir meros 8,5% – na Irlanda, por exemplo, a taxa deve chegar a 50% E isso, acreditam muitos, se deve em parte ao hábito de pedalar.
Os holandeses pedalam mais do que qualquer outro povo na Europa. Em média, são 2,5 quilômetros por dia. Só que, dependendo do peso, é possível queimar apenas em torno de 60 calorias ao trafegar essa distância. E isso, portanto, não seria o único motivo para o resultado apontando pela OMS.
"Acho que é porque os holandeses não vão tão frequentemente ao McDonald's ou ao Burger King", diz Edwin. O que, no fim das contas, também não é verdade.
Brenda, de 22 anos, é um bom exemplo:
"Não faço nada em especial. Não me exercito frequentemente, às vezes uma ou duas vezes por semana. E como muito McDonald's ou fast-food, coisas que não são nada boas para a saúde", admite ela, ainda numa idade em que o metabolismo é facilmente capaz de se opor à balança.
Alguns metros depois, Malou, de 54 anos, argumenta a respeito:
"Acho que os jovens comem muita batata frita e coisas do tipo. Mas acredito que depois dos 30, 40 anos, eles ficam mais atentos ao que estão comendo. Não é normal comer fast-food algumas vezes por semana. No meu caso, como batata frita uma vez por semana, talvez. Mas não mais do que isso", diz, em meio a uma rua onde, em 100 metros, é possível encontrar quatro locais diferentes para comprar a iguaria.
E o que ela faz para se manter magra?
"Caminho muito. Não uso muito o carro. E, claro, também pedalo muito", diz.
Mais que esporte, um hábito
Ao longo do Rio Meuse, Sjaak estaciona para uma rápida entrevista. Diz que, naquele momento, acabou de pedalar pelo menos 15 quilômetros. E que, diariamente, percorre entre 10 e 50 quilômetros de bicicleta. Isso aos 68 anos.
"Acho bastante normal", diz, ao destacar que grande parte dos amigos, de faixa etária semelhante, costuma fazer o mesmo.
Paul, de 47 anos, dá um tempo na corrida e também concorda em ser entrevistado. Afirma que normalmente corre 15 quilômetros, quatro vezes por semana. Ou seja: 60 quilômetros ao todo, semanalmente.
Além disso, há o treino de futebol, que ocorre duas vezes por semana, e mais um jogo aos fins de semana, já que a corrida, hoje em dia, para Paul, não é de fato um exercício. O motivo de ele correr, naquele momento, era pelo fato de ter deixado a scooter em uma loja: ele decidiu voltar correndo para casa – 2,5 quilômetros.
Cientista confronta dados
Depois desses exemplos, é possível concluir que, na cabeça dos holandeses, a definição de exercício é diferente em termos de frequência e duração – pelo menos em comparação à maioria dos países.
No Instituto Scelta, especializado em pesquisa de alimentos saudáveis, o professor Fred Brouns, da Universidade de Maastricht, argumenta a favor do que havia sido observado nas ruas:
"Uma coisa é certa: os holandeses se movimentam muito. Se você olhar para fora, verá ciclistas em todos os lugares. A maioria das crianças vai à escola a pé ou de bicicleta. Essa é uma grande diferença em relação à maioria dos países europeus", reforça.
Outro fator que ajuda os holandeses é o governo, que luta contra os riscos à saúde em vários níveis, particularmente nas escolas e em áreas de menor renda.
"Não há efeito algum se você diz, na escola, para beberem água em vez de refrigerantes, mas, no lado de fora, o posto aonde as crianças vão nos intervalos, ter refrigerantes. Ou então na rua seguinte ter um McDonald's, e todo mundo ir lá", diz Brouns.
Ainda assim, ele diz que a obesidade é um grande desafio para a Holanda, pois acredita que o problema é maior do que o apresentado pela OMS – e pelo Fórum de Saúde Britânico, que confronta os dados do organismo.
"Fui informado de que os dados que eles usaram para a Holanda estão muitos anos atrasados, não são atuais, e que são, na verdade, baseados no que as pessoas pensam que têm comido", argumenta Brouns.
Ainda assim, com estatísticas equivocadas ou não, os holandeses estão fazendo mais e melhor do que outros, principalmente em relação à União Europeia, que enfrenta uma crise de obesidade.
"A Organização Mundial da Saúde apresentou os dados como um alerta, por isso as pessoas e os países vão tomar atitudes e trabalhar contra o problema da obesidade, em vez de sentarem-se e esperarem o problema ir embora, porque isso não vai acontecer", conclui o professor.
Os alemães e suas bicicletas
Das clássicas às modernas: os alemães são loucos por bicicletas. Com a chegada da primavera, eles querem desfrutar o bom tempo sobre duas rodas. Nossa galeria mostra essas pessoas, bicicletas e curiosos acessórios.
Foto: Fotolia/yanlev
Tomando as ruas
Quase todos os alemães têm uma bicicleta. No total são quase 70 milhões de bicicletas em todo o país. Sem contar as velhas esquecidas em quintais e porões. Os modelos são os mais diversos possíveis: as holandesas clássicas, as urbanas modernas ou mountain bikes de alta tecnologia. Agora que a primavera europeia chegou, todo mundo quer sair em duas rodas.
Foto: Fotolia/yanlev
Para longas distâncias
No primeiro belo domingo de sol, Helmut levou a filha Nike, de 4 anos, para passear no parque. Sua bicicleta estava acoplada, com um acessório, à traseira da bicicleta do pai. Uma solução conveniente para quando as crianças estão cansadas em passeios de longa distância. Na foto, porém, é Nike que empurra seu pai com orgulho.
Foto: DW/S. Wünsch
Força nos pedais
A e-bike é uma bicicleta que funciona com a ajuda de um motor. O sistema Pedelec (pedal de ciclo elétrico, em tradução livre) usa um motor que aumenta a força colocada no sistema de pedais. Essas bicicletas estão se tornando cada vez mais populares na Alemanha. No entanto, elas são bem caras. Uma Pedelec nova pode sair pelo preço de um carro usado.
Foto: DW
Crianças na "caixa"
As bicicletas de carga estão se tornando cada vez mais populares entre os pais com crianças pequenas. A caixa de carga está geralmente localizada no eixo dianteiro e pode acomodar até quatro crianças pequenas, o que é muito útil para babás como Eva. Hoje, ela está cuidando apenas do seu filho, Max, mas ele pode dividir a "caixa" com brinquedos e uma cesta de piquenique.
Foto: DW/S. Wünsch
Sem taxas extras
As bicicletas dobráveis estão se tornando cada vez mais comuns. Elas são tão leves e pequenas que qualquer um pode usá-las confortavelmente. São especialmente populares entre viajantes que têm que fazer parte de seu percurso de ônibus ou trem. Geralmente taxas extras são cobradas para transportar bicicletas, mas não para as bicicletas dobráveis, que fechadas ficam tão pequenas como uma mala.
Foto: picture-alliance/dpa
Ciclista exigente
Nem todo o ciclista se satisfaz com a bebida isotônica que fica na garrafa de plástico encaixada em um suporte de metal na grade da sua bicicleta. Essas duas tiras de couro, além de serem mais bonitas e charmosas, são ideais para carregar uma garrafa de vinho. Mas diferentemente da garrafa de plástico, tal carga exige do ciclista mais atenção e cuidado.
Foto: Jesse Herbert
Estilo retrô
Essa "cruiser" estava parada em frente a um bar esperando pelo dono. Essas bicicletas são extremamente confortáveis e chamam a atenção de todos. Não apenas pelas formas suaves, mas também pelo tamanho expansivo. Todas essas qualidades fazem delas ideais para publicidade.
Foto: DW/S. Wünsch
Férias em duas rodas
Um passeio intenso de bicicleta pode ser uma experiência extraordinária. Você pode sentir a natureza, o vento e todo o seu corpo. Nas férias, muitos alemães gostam de fazer passeios de bicicletas que duram diversos dias, de preferência com mountain bikes. Com pneus mais largos e cardados, quadros pequenos e resistentes e pelo menos 21 marchas são alguns dos diferenciais do modelo.
Foto: Fotolia/VRD
Com uma roda só
Há tempos que o monociclo não é mais só associado ao picadeiro. Ele já conquistou o pátio de escolas, parque e até as ruas. Os atletas mais criativos descobriram que podem levar o monociclo para qualquer lugar. No entanto, deixe as peripécias mais ousadas para os profissionais: o ideal para as montanhas são mesmo as bicicletas com duas rodas.
Foto: picture-alliance/dpa
Motocross sem motor
O bicicross (BMX) nasceu quando crianças e jovens de todo o mundo estavam à procura de alternativas para o motocross, já que não tinham idade para dirigir uma moto. Bicicletas foram reconstruídas, adaptadas e equipadas. As primeiras pistas surgiram em montanhas e pedreiras. As BMX são muito populares entre os jovens, e o bicicross se tornou um esporte olímpico em 2008.
Foto: Reuters
Aventuras no parque
Len e Jacob adoram pedalar no parque. Os jovens ciclistas gostam de apostar corrida e fazer o "desafio de tração", em que travam as rodas traseiras e deixam rastros pelo caminho. Os pais permitem que os meninos se aventurem pelo parque, mas com uma condição: eles têm sempre que usar o capacete.
Foto: DW/S. Wünsch
Capacetes originais
Uma coisa é certa: ninguém fica bem de capacete. Eles são geralmente muito coloridos e sempre dão a impressão que não vestem corretamente. A única opção parece ser mesmo camuflá-lo. A lei não obriga os ciclistas a usarem capacete na Alemanha, mas dois terços dos alemães acreditam que isso têm que mudar.
Foto: Yakkay
Memorial
Abastecido regularmente com flores frescas, esse memorial foi criado para uma vítima de 17 anos. O Clube Alemão da Bicicleta apoia esse tipo de ação que incentiva a conscientização sobre a falta de segurança para os ciclistas nas estradas. Muitos alemães gostariam de ter mais ciclovias, mas, mesmo assim, a Alemanha ainda é o país da bicicleta.