Ministros do Exterior do bloco concordam em vários temas críticos do conflito entre Israel e Hamas. Mas alguns pontos, como um cessar-fogo, continuam controversos.
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As divisões eram bem claras entre os 27 ministros do Exterior da União Europeia reunidos em Bruxelas nesta segunda-feira (13/11), enquanto buscavam uma posição comum sobre a intensificação das operações militares de Israel em Gaza após os ataques do Hamas de 7 de outubro.
A UE, que tem tentado falar a uma só voz sobre a questão politicamente divisiva entre Israel e palestinos, emitiu uma nova declaração conjunta no domingo à noite.
Nela, os Estados membros apelam a "pausas imediatas nas hostilidades e ao estabelecimento de corredores humanitários" e pedem também a libertação dos reféns. Mas também voltam a enfatizar o "direito de Israel de se defender em conformidade com o direito internacional e o direito humanitário internacional".
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, disse que o apelo a pausas nos combates foi concebido para permitir a entrada em Gaza da tão necessária ajuda para a população local.
Isso ocorre num momento em que o ministério da Saúde do governo do Hamas em Gaza afirma que mais de 11 mil pessoas foram mortas em meio à operação militar de Israel que se seguiu aos ataques de 7 de outubro e enquanto ONGs alertam para a deterioração das condições nos hospitais em Gaza.
"Menos de 10% do que é necessário está entrando", disse Borrell.
Mas a declaração de domingo também condenou o Hamas, que a UE classifica como organização terrorista, pela "utilização de hospitais e de civis como escudos humanos". Israel acusa o grupo radical islâmico de se inserir na infraestrutura civil de Gaza em busca proteção. Vários ministros da UE, incluindo Jan Lipavsky, da República Tcheca, reiteraram essa acusação em Bruxelas na segunda-feira.
A questão do cessar-fogo
A nova declaração conjunta da UE ocorreu depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, ter adicionado na sexta-feira a França à pequena lista de países da UE – Espanha, Bélgica e Irlanda – que apelam por um cessar-fogo total, provocando duras repreensões de Israel.
Outras nações europeias, como a Alemanha, que tem apoiado Israel desde os ataques do Hamas em 7 de outubro, se recusam a apoiar um cessar-fogo, argumentando que este poderia beneficiar o Hamas e minar o direito de Israel de se defender.
Na segunda-feira, a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, disse aos jornalistas que compreende "totalmente" o impulso de apelar por um cessar-fogo "nesta situação terrível em que crianças, pessoas, mulheres, mães e famílias inocentes não só estão sofrendo tão terrivelmente, mas estão morrendo".
Mas Baerbock argumentou, após visitar a região no fim de semana, que tais exigências deixam questões essenciais sem resposta.
"Como pode o pedido por um cessar-fogo agudo e imediato, nesta situação terrível, garantir que a segurança de Israel esteja garantida?", ela perguntou, questionando também o que aconteceria com os reféns feitos pelo Hamas.
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Como a posição da UE pode mudar
"A posição oficial da UE não mudou muito nas últimas semanas", disse à DW Hugh Lovatt, do think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês). "No entanto, a mudança de tom de Macron pode ser crucial", argumentou.
"Suspeito que o posicionamento francês provavelmente fará com que alguns outros Estados membros avancem em direção a um cessar-fogo. Mas nunca convencerá os alemães. Não convencerá os húngaros ou os austríacos", disse ele, referindo-se a alguns dos países europeus mais próximos de Israel no conflito atual.
Embora seja improvável que isso mude a posição oficial da UE, ele disse que os sinais vindos da Europa foram, no entanto, ouvidos em Israel e no seu principal aliado, os Estados Unidos. "Israel está muito consciente de que provavelmente tem um período para as suas operações", disse Lovatt.
Em algum momento, as discussões terão de mudar para um cessar-fogo, pondera Lovatt. Embora Israel tenha o direito de se defender e responder aos ataques do Hamas, ele disse que, em última análise, "não há solução militar em Gaza".
"Israel pode obter alguns ganhos táticos matando membros do Hamas, destruindo túneis, mas militarmente, não vai eliminar a ameaça do Hamas", disse o analista do ECFR.
A única saída da Faixa de Gaza
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"A questão é quantos milhares de civis palestinos ainda precisam morrer antes que os governos ocidentais tomem essa decisão", ressalta Lovatt.
Foco na solução de dois Estados
Na entrevista que se seguiu à reunião de segunda-feira, Borrell disse ter proposto aos ministros uma abordagem focando além das atuais hostilidades, apelando à UE para se envolver mais na construção de um Estado palestino.
"Temos estado muito ausentes. Delegamos a solução deste problema aos Estados Unidos", lamentou.
Borrell disse que não deveria haver deslocamento forçado do povo palestino para fora de Gaza, nenhuma redução do território de Gaza ou reocupação permanente por Israel, mas igualmente disse que o Hamas não poderia ser autorizado a retornar.
"Se não encontrarmos uma solução, viveremos um ciclo perpétuo de violência de geração em geração e de funeral em funeral", alertou.
"Precisamos nos concentrar numa solução de médio e longo prazo, num cenário pós-conflito que possa garantir a estabilidade numa base contínua, que tornará possível construir a paz entre palestinos e israelenses e em toda a região", apelou Borrell.
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
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2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.