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Por que a Venezuela enfrenta escassez de alimentos

Evan Romero-Castillo (ca)13 de julho de 2016

Em entrevista à DW, Antonio Pestana, presidente da Confederação Nacional de Produtores Agrícolas, fala sobre o potencial não aproveitado das terras venezuelanas e a não rentabilidade da agricultura no país.

Mãos seguram grãos de feijão
Foto: picture-alliance/dpa

Venezuelanos cruzam fronteira atrás de mantimentos

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No início desta semana, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou a criação de um programa emergencial para conter a escassez de alimentos que há meses aflige o país caribenho.

Segundo Maduro, a meta da chamada "grande missão de abastecimento soberano e seguro" é fazer frente à "guerra econômica" que o empresariado trava com seu governo para deixar de produzir bens de primeira necessidade, monopolizá-los, especular com seus preços e incentivar tanto o contrabando quanto as altas taxas de inflação.

Em entrevista à Deutsche Welle, Antonio Pestana, presidente da Confederação Nacional de Associações de Produtores Agropecuários (Fedeagro) da Venezuela explica que, no país, existem 35 milhões de hectares de terra com grande potencial de cultivo, mas somente 11 milhões são aproveitados.

De acordo com Pestana, controles rígidos fazem com que o preço de muito dos bens de primeira necessidade fiquem abaixo dos custos de produção: "Em outras palavras, a produção agrícola não é rentável." No entanto, se as devidas medidas forem tomadas, a economia da Venezuela pode mudar rapidamente, prevê.

DW: Como a Fedeagro explicaria a um público estrangeiro os fatores que propiciam escassez de alimentos na Venezuela?

Antonio Pestana: As principais causas da situação dramática que estamos vivendo são a falta de garantias econômicas, a ausência de segurança jurídica e pessoal; a escassez de insumos e profissionais capacitados; os sérios problemas de desenvolvimento tecnológico e de financiamento; a falta de competitividade da produção nacional frente às importações. Controles rígidos fazem com que o preço de muitos dos bens de primeira necessidade estejam abaixo dos custos de produção. Em outras palavras, a produção agrícola não é rentável.

Pestana: "Terras confiscadas produzem menos do que o faziam com seus proprietários originais, ou não produzem"Foto: Prensa-Fedeagro

A integridade de nossas unidades de produção também não está garantida. Segundo números oficiais, o governo confiscou 5,2 milhões de hectares em 1,2 mil unidades de produção na última década. Atualmente, as terras confiscadas produzem menos do que o faziam com seus proprietários originais, ou não produzem. Além disso, há a falta de segurança: a violência ligada a roubos e sequestros, por exemplo, provoca danos nas terras agrícolas do país. Em alguns casos, somos impedidos de chegar a nossas unidades de produção.

Com exceção dos fertilizantes nitrogenados, a Venezuela não produz agroquímicos: é preciso importá-los. No entanto, como temos um controle muito rigoroso de divisas e os dólares são distribuídos de forma discricionária, o setor agrícola não foi capaz de honrar seus compromissos com empresas estrangeiras. Já somos vistos como inadimplentes, e isso nos privou de qualquer linha de crédito. Agora dependemos do pouco que o Estado importa, e essas limitações fazem com que as áreas de plantio sejam reduzidas consideravelmente.

As empresas privadas, que costumavam importar máquinas, implementos agrícolas e peças de reposição, já não o fazem mais. Também neste caso, estamos totalmente dependentes das compras feitas pelo Estado. A vida útil de 65% de nossos tratores e de 85% das colheitadeiras expirou. Esse grau de obsolescência e a falta de peças de reposição reduziram ao mínimo a nossa capacidade de produção. Por outro lado, o governo não tem dado a menor importância à capacitação de pessoal, geração e transferência de conhecimento.

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Que propostas a Fedeagro tem feito para que se supere a atual situação de baixa produtividade e falta de alimentos?

De todos os setores econômicos do país, é provável que a Fedeagro seja a federação com maior nível de comunicação com o governo. No entanto, um diálogo que não conduza a ações concretas não é muito útil. Entre outros, a Fedeagro propôs um marco legal com vista a garantir a segurança jurídica, econômica e pessoal dos produtores. Também sugeriu planos de investimento em formação tecnológica e aquisição de máquinas, implementos agrícolas e peças de reposição para aumentar nossos níveis de produtividade.

Francisco Martínez, presidente da Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela (Fedecamaras), afirmou em janeiro último que, se forem tomadas as medidas adequadas, a Venezuela poderia se recuperar da escassez dentro de um ano. Você concorda com essa estimativa?

Concordo. Se conseguíssemos recuperar a confiança do empresariado nacional, dos investidores estrangeiros e de nossos credores; se o governo deixasse de ser o principal ator da economia nacional; se fosse fixada uma taxa única de câmbio que flutuasse com a economia; se realmente lutássemos contra a corrupção; se todas as propriedades confiscadas fossem devolvidas – a Venezuela poderia mostrar, dentro de um ano, uma economia muito diferente da que tem hoje.

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