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ConflitosOriente Médio

Por que alguns países árabes ajudaram Israel a repelir o Irã

Cathrin Schaer
14 de abril de 2024

Embora alguns analistas tenham destacado apoio a Tel Aviv durante ataque iraniano inédito, nações como a Jordânia e a Arábia Saudita têm motivos mais complexos para querer deter Teerã.

Um caça F-15 israelense carregado com bombas pousado em uma pista à noite
Um F-15 da Força Aérea israelense prestes a decolar na madrugada de domingo; com a ajuda de alguns países árabes, americanos, britânicos e israelenses abateram mísseis e drones iranianosFoto: Israel Defense Forces/Handout via REUTERS

Quando o Irã lançou mais de 300 drones e mísseis contra Israel na noite deste sábado (13/04) em retaliação a um ataque no início de abril ao seu consulado em Damasco, na Síria, os aliados de Tel Aviv intervieram em seu favor.

As forças aéreas dos Estados Unidos e do Reino Unido ajudaram a abater diversos desses projéteis. A França também pode ter participado do patrulhamento da área, embora não esteja claro se os franceses derrubaram algo.

Mas o que chamou muita atenção foi o fato de a Força Aérea da Jordânia também ter cooperado. O país abriu seu espaço aéreo para aviões israelenses e americanos e, aparentemente, derrubou drones que o invadiram.

Segundo a agência de notícias Reuters, moradores ouviram intensa atividade aérea, e nas redes sociais circularam imagens de restos de um drone abatido no sul de Amã, capital da Jordânia.

"Estados do Golfo, incluindo a Arábia Saudita, também podem ter desempenhado um papel indireto, já que eles abrigam sistemas de defesa aérea do Ocidente, aeronaves de vigilância e reabastecimento que teriam sido vitais para o esforço", informou a publicação britânica The Economist.

Nas redes sociais, alguns observadores viram no envolvimento árabe uma prova de que árabes e israelenses podem trabalhar juntos e que Israel não está sozinho no Oriente Médio.

"Podemos não conhecer por um tempo todos os detalhes da cooperação árabe nesta noite para a interceptação do ataque iraniano a Israel, mas foi sem dúvida significativa, incluindo o uso do espaço aéreo da Jordânia. Certamente isso ajudou a salvar muitas vidas israelenses", postou no X (antigo Twitter) o jornalista Anshel Pfeffer, do diário israelense Haaretz.

"A grande notícia em Israel esta manhã é a Força Aérea da Jordânia interceptando em seu espaço aéreo drones em direção a Israel. Especialmente notável para a geração de israelenses que se lembra de ter se protegido de ataques vindos da Jordânia", escreveu no X Mairav Zonszein, analista da ONG International Crisis Group. "O que aprendemos com isso: acordos diplomáticos são vitais para a estabilidade."

Sistema de defesa aéreo israelense em ação na madrugada de domingoFoto: Ayal Margolin/JINI/XinHua/picture alliance

Diretor do programa de Oriente Médio e Norte da África no Conselho Europeu de Relações Exteriores, Julien Barnes-Dacey aponta que mesmo importantes países árabes críticos à guerra em Gaza, como é o caso da Jordânia, apoiaram a reação militar israelense às bombas enviadas por Teerã.

Equilíbrio tênue para a Jordânia e a Arábia Saudita

Acredita-se que mais de metade da população jordaniana tenha raízes palestinas, inclusive a própria rainha do país. Nas últimas semanas, o país teve protestos cada vez mais agressivos contra Israel.

Ao mesmo tempo, a Jordânia compartilha uma fronteira com Israel, é a guardiã da Mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém – um local importante para muçulmanos, cristãos e judeus – e trabalha regularmente com as autoridades israelenses, embora muitas vezes nos bastidores.

As autoridades jordanianas, que também têm nos EUA um aliado importante, precisam equilibrar interesses conflitantes e sua própria estabilidade política e autodefesa. Daí a rapidez com que a Jordânia declarou que, ao ajudar Israel, estava na verdade se defendendo.

"Alguns objetos que adentraram nosso espaço aéreo na noite passada foram interceptados porque representavam uma ameaça ao nosso povo e áreas habitadas", disse o governo jordaniano em comunicado. "Vários fragmentos [dos drones abatidos] caíram no território do país sem causar danos significativos."

Mas para Emile Hokayem, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, o envolvimento da Jordânia também se tratou, em parte, de "mostrar que a Jordânia é uma boa parceira dos EUA". "A Jordânia pode ser melhor tratada pelos seus parceiros do Ocidente", escreveu no X. "Mas a questão é: como a opinião pública jordaniana verá essa defesa de Israel?"

Pessoas reunidas em outubro do ano passado na Jordânia para prestar solidariedade à Palestina; estima-se que mais da metade da população jordaniana tenha raízes palestinasFoto: Alaal Al Sukhni/REUTERS

A Arábia Saudita também teve que equilibrar seus próprios interesses, alianças internacionais e realpolitik com as aparências em torno do conflito em Gaza.

O rico estado do Golfo estava pronto para normalizar as relações com Israel antes dos ataques do Hamas em 7 de outubro que deixaram cerca de 1.200 mortos. Mas a resposta israelense na Faixa de Gaza colocou esses planos na geladeira. Em seis meses, o saldo de mortos no enclave palestino já passa de 33 mil, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.

O governo saudita vê com bons olhos apelos por um cessar-fogo em Gaza e tem criticado a conduta israelense no conflito. Reservadamente, porém, eles ainda estão interessados em melhorar as relações com Israel, apontam especialistas.

Conflito de longa data entre Irã e o Golfo

Independente de terem intervido a favor de Israel ou não no caso do ataque iraniano, os sauditas têm outros motivos para querer derrubar mísseis de Teerã.

Há décadas o Oriente Médio é dividido entre linhas religiosas e sectárias, com os Estados árabes do Golfo e suas populações de maioria muçulmana sunita enfrentando o Irã, onde predominam os muçulmanos xiitas. A inimizade lembra conflitos anteriores na Europa, quando as duas principais seitas do cristianismo – protestantes e católicos – eram rivais beligerantes.

Países do Oriente Médio central como Iraque, Síria e Líbano, cujas populações são uma mistura de muçulmanos xiitas e sunitas, bem como outras religiões e etnias, se viram no meio de uma disputa por influência entre o Irã e os Estados do Golfo.

Aqui é onde entram em jogo os chamados "agentes" iranianos, grupo que inclui organizações muçulmanas xiitas que o Irã apoia financeiramente, militarmente, logisticamente e até mesmo espiritualmente. Os rebeldes houthis do Iêmen, as milícias conhecidas como Forças de Mobilização Popular no Iraque e o grupo político e militar Hisbolá no Líbano são todos membros dessa aliança patrocinada pelo Irã.

Os islamistas do Hamas também são apoiados pelo Irã – mas são uma exceção, neste caso, já que, assim como a maioria dos palestinos, são muçulmanos sunitas.

Como parte da ofensiva iraniana, esses grupos dispararam foguetes do Iêmen, Síria e Iraque em direção a Israel na madrugada de sábado para o domingo. No Iraque, há relatos de que militares americanos estacionados lá abateram alguns desses foguetes. Não está claro se os sauditas interceptaram algum vindo do Iêmen, mas eles já fizeram isso antes, no final do ano passado.

"Para atores regionais, principalmente a Arábia Saudita e a Jordânia, o argumento será de que estão legitimamente protegendo seu espaço aéreo soberano", opinou Masoud Mostajabi, diretor-adjunto dos Programas do Oriente Médio no Atlantic Council dos EUA, em uma análise publicada no sábado à noite.

"Porém, se os ataques desta noite escalarem para um conflito Israel-Irã mais amplo, os atores regionais percebidos como defensores de Israel podem acabar virando alvos e arrastados para um conflito regional", advertiu Mostajabi. "Diante do que está em jogo, é provável que os líderes regionais sejam motivados a agir entre as duas partes para encerrar este confronto."

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