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Por que alguns profissionais de saúde têm adiado a vacinação

10 de janeiro de 2021

Em certos hospitais da Alemanha, todo o pessoal já tomou a primeira dose. Ao mesmo tempo, uma enquete mostra que apenas 50% dos enfermeiros do país pretendem se vacinar. A DW investigou as razões de tal resistência.

Mulher de máscara olha para caixa de vacinas
Foto: ULMER Pressebildagentur/picture alliance

O Hospital Bethel Berlim, no pacato sul da capital alemã, é um estabelecimento de pequeno porte, bem longe da agitação das grandes clínicas. Mas naturalmente a pandemia de covid-19 também chegou aqui com força total. Uma estação vazia foi remanejada como posto de vacinação. O que falta até agora, como em muitas partes do país, é o imunizante.

Para o médico-chefe e encarregado de assuntos da pandemia Hans Weigeldt, o fato é um tanto frustrante: afinal, após longos meses de trabalho duro, a vacina era um raio de esperança, também necessário para recuperar a psique dos trabalhadores da saúde.

O enfermeiro de tratamento intensivo Sebastian Schmidt é um dos que querem se vacinar tão logo possível: "No trabalho, eu encaro diariamente a morte por covid, olho no olho, e vejo como os pacientes sofrem, quão gravemente doentes eles ficam por causa desse vírus, e quero de todo modo me vacinar contra isso."

Não se trata apenas de proteger a si, "mas também os meus familiares", prossegue Schmidt. "Sou um parente que trabalha no sistema de saúde. Então preciso, de qualquer forma, tomar cuidado especial, e acho que tenho um dever de previdência também em relação à população."

Nem todos anseiam pela vacina

Caberia pensar que essa é atitude generalizada entre médicos e enfermeiros em relação à tão esperada vacina contra o Sars-Cov-2. Na realidade, porém, o quadro é bem mais diferenciado. Como mostra o posicionamento da enfermeira Vivien Kochmann, do Hospital Bethel Berlim.

Há meses ela respeita meticulosamente as regras de distanciamento, usa máscara, lava as mãos. Em especial na qualidade de mãe de uma criança pequena, ela reduziu drasticamente os seus contatos. No tocante à vacinação, contudo, não faz questão de "estar na cabeça da fila", preferindo aguardar.

"Ainda encaro com muito cuidado e enorme respeito essa questão, pois de alguma maneira ainda tenho um pouco de medo, porque a vacina não está aí há tanto tempo que se possa dizer: 'OK, agora estou cem por cento convencida.' Sendo bem franca, tenho um pouco de receio. É o meu sentimento pessoal."

Isso não significa que seja inimiga das vacinas em geral, é vacinada contra diversas enfermidades. Mas ela trabalha há tempo demais em hospitais para não saber quanto normalmente demora até um imunizante estar realmente amadurecido. Kochmann torce para que, ao longo do ano, eles fiquem ainda melhores. E, acima de tudo, que se saiba mais sobre os possíveis riscos.

Metade dos enfermeiros prefere esperar

A julgar pelas pesquisas de opinião, esse ceticismo está longe de ser uma raridade entre o pessoal médico da Alemanha. Uma enquete realizada pela Sociedade Alemã de Medicina Interna Intensiva e de Emergência (DGIIN) e pela Associação Interdisciplinar Alemã de Medicina Intensiva e Emergencial (Divi) em dezembro de 2020 indicou que apenas 73% dos médicos e pouco menos da metade dos enfermeiros pretendia tomar a vacina contra o coronavírus.

Isso, apesar de a grande maioria dos consultados afirmar que o imunizante é importante para conter a pandemia. Nesse ínterim, contudo, uma porta-voz da Divi declarou que as cifras de dezembro estariam superadas, e que desde o início das vacinações se fez algum progresso.

Ainda assim, o presidente da Federação de Operadores Privados de Serviços Sociais (BPA), Bernd Meurer, traça um quadro bastante moderado: "Temos desde estabelecimentos em que quase 100% dos funcionários se vacinaram, até aqueles em que dois terços não querem a vacina."

A declaração coincide com dados divulgados pelo ministro alemão da Saúde, Jens Spahn, no princípio de janeiro: em alguns lares para idosos, a quota de vacinação entre os enfermeiros é de 80%, enquanto em outros ela é de apenas 20%."

Razões variadas para reticência

No momento se debate intensamente os motivos desse ceticismo em relação aos imunizantes. O especialista parlamentar do Partido Social-Democrata (SPD) para assuntos de saúde, o epidemiologista Karl Lauterbach, supõe que na origem esteja a avaliação de muitos médicos e enfermeiros de que, além de não pertencerem ao grupo de risco, estão bem protegidos pelas vestimentas especiais.

Por sua vez, a enquete de dezembro da DGIIN e da Divi atribui a reticência antes ao medo de sintomas tardios e efeitos colaterais. Falando à DW, funcionários de clínicas de Berlim contaram que algumas mulheres temem os riscos da vacina para uma futura gravidez.

O presidente da BPA Meurer aborda ainda um outro argumento: mesmo após a vacinação, os cuidadores terão que continuar usando máscara, portanto a medida atualmente não representa um alívio para eles. E ainda não está esclarecido se a vacinação elimina o perigo de contagiar terceiros.

Pedindo para permanecer anônimo, um enfermeiro de uma clínica de Brandemburgo aborda esse último ponto. Já tendo recebido a primeira dose, ele afirma que a droga fornecida pela firma alemã Biontech "não impede uma infecção com o coronavírus, só evita a eclosão da doença covid-19". Portanto, "posso imaginar que outros prefiram esperar por outras vacinas".

Em seu ambiente de trabalho, todos os colegas se vacinaram, já que "nos úitimos meses, vimos com frequência demasiada o estrago de que o vírus é capaz". Contudo ele menciona mais um fator: ao longo dos meses desde a eclosão da pandemia, muitos médicos e cuidadores já se contaminaram, sararam e desenvolveram anticorpos. Assim, por enquanto não precisarão se vacinar.

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