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Por que as mulheres avançaram na corrida pelo Oscar em 2021

Nadine Wojcik
23 de abril de 2021

Sensação em Hollywood: nada menos do que duas cineastas concorrem ao troféu de Melhor Direção – fato inédito, em 92 anos de Oscar. Os fatores vão desde o movimento MeToo aos efeitos da pandemia sobre o setor.

Gráfico comparando candidatos femininos e masculinos ao Oscar 2021

"E o Oscar vai para..." ... um homem, de um ponto de vista puramente estatístico. Também em 2021, 68% dos candidatos são do sexo masculino. A boa notícia é o aumento da percentagem de mulheres indicadas para o prestigioso troféu de cinema, de 28,5%, no ano anterior, para 32%.

Isso não é tudo: pela primeira vez, duas mulheres, Chloé Zhao e Emerald Fennell, concorrem ao prêmio de Melhor Direção. O fato causa sensação em Hollywood, já que desde a criação de Oscar, 1929, apenas cinco diretoras mereceram essa honra. E só uma ganhou: Kathryn Bigelow, em 2010, com Guerra ao terror – no qual, aliás se veem muitos homens em papéis estereotipicamente masculinos.

A proporção histórica, portanto, é de 92 para uma. Afinal, a categoria Melhor Direção tem grande peso simbólico, já que nenhuma outra função no set de filmagem é tão importante e poderosa. E não só na indústria cinematográfica é difícil se ver uma posição de comando ser entregue a uma mulher.

Mas o ano 2020 já trazia prenúncios de uma mudança profunda: dirigido por Greta Gerwig, Adoráveis mulheres, sobre quatro irmãs, foi indicado para seis categorias, entre as quais a principal, de Melhor Filme – mas não a de Melhor Direção.

Numerosas mulheres resolveram desabafar nas redes sociais sua indignação com a gritante discriminação de gênero, através do hashtag "OscarsSoMale" (OscarsTãoMachos). Na cerimônia da Academy of Motion Picture Arts and Science (Ampas), a atriz Natalie Portman desfilou pelo tapete vermelho com um vestido onde se viam, bordados em ouro, os nomes das mulheres que ela considerava terem merecido o Oscar – entre elas, a cineasta Greta Gerwig.

Acabou o tempo dos homens

Essa nova onda de afirmação feminina se deveu, em parte, a um dos maiores escândalos da história de Hollywood: em 2017, mais de 100 mulheres ousaram depor publicamente contra o magnata do cinema Harvey Weinstein, desencadeando o movimento MeToo.

Há muito era um segredo público que o mais poderoso produtor dos Estados Unidos não hesitava em fazer avanços sexuais às jovens atrizes que lhe cruzassem o caminho. No entanto, até então todas haviam se calado. Em fevereiro de 2020, Weinstein acabou por ser condenado a 23 anos de prisão por estupro e assédio sexual.

Em 2018, mais de 300 diretoras, atrizes e produtoras fundaram a iniciativa Time's Up (Acabou o tempo). Criada com o fim de prover apoio jurídico a colegas vítimas de assédio ou abuso sexual, ela se transformou numa das mais importantes organizações lobistas para a igualdade de gêneros no setor cinematográfico.

Desde então, o mundo do cinema está em revolução, também dentro da duramente criticada Ampas. Seguindo a tradição, seus membros indicam os ganhadores do Oscar. E é praticamente uma premiação de colegas para colegas, pois só integra a associação quem já tenha sido antes indicado para o troféu ou venha recomendado por dois outros afiliados.

Assim, há décadas vinha se perpetuando esse clube elitista de homens velhos e brancos. Mas a situação está mudando: há cerca de cinco anos anos, a Academia passou a convidar ostensivamente novos membros, também mulheres, em proporção crescente. Assim, de 2015 para 2020, a proporção feminina da família com 9 mil membros, passou de 25% para 32%.

Estatueta cobiçada no mundo do show businessFoto: Prensa Internacional via ZUMA Wire/Zumapress/picture alliance

"Epidemia de invisibilidade"

"O que vemos na tela e o que vemos na vida real são diametralmente opostos", afirmou num Ted Talk a professora de comunicação Stacy Smith. Com sua Annenberg Inclusion Initiative, há vários anos ela fornece fatos científicos sobre o abismo entre os gêneros. A estatística anual mostrou que em 2019 apenas 34% de todos os papéis cinematográficos foram entregues a mulheres.

Essa porcentagem só tem se alterado poucos pontos percentuais ao longo das décadas, no que Smith define como uma "epidemia de invisibilidade". E a disparidade se perpetua para além das telas: segundo a organização Women in Film, dois terços das críticas nos EUA são escritas por homens.

Streaming e pandemia distanciam jovens do cinema

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Uma das soluções propostas pela professora americana é contratar mais diretoras. "Nossas análises mostram que nesse casso também há mais papéis femininos, mais histórias sobre mulheres, sobretudo acima dos 40 anos, mais diversidade em toda a equipe e, acima de tudo, mais mulheres em posições-chave."

Pois justamente o setor técnico-artístico continua firme em mãos masculinas: nos 92 anos de história do Oscar, apenas uma mulher foi indicada na categoria Melhor Fotografia, e da de Efeitos Especiais, até agora constaram quatro. Mas, se o Oscar reproduz a tal ponto os estereótipos de gênero clássicos, então será que elas predominam em campos "tipicamente femininos", como Figurino ou Maquiagem?

Em 2021, definitivamente sim. Mas, observando-se o histórico do prêmio, profissionais femininas são maioria em Figurino, com 302 indicações contra 221 para seus colegas homens. Já em Maquiagem e Penteados, entretanto, elas perdem, por 108 a 168.

Graças à pandemia?

Como se explica que agora sejam logo duas candidatas a competir na categoria Melhor Direção? Segundo alguns conhecedores do setor, o fator decisivo não foram as numerosas iniciativas de igualdade entre os sexos, mas sim a pandemia de covid-19.

Diversos blockbusters de campeões dos Oscars – entre eles, West Side Story de Steven Spielberg, The last duel de Ridley Scott e The French dispatch de Wes Anderson – tiveram a estreia adiada devido à crise sanitária. Assim, filmes menores, de baixo orçamento, lançados em streaming, e não nos cinemas receberam atenção muito maior. E, como os megaestúdios, com suas produções conservadoras em termos de gênero, foram forçados a um ano de pausa, abriu-se uma perspectiva surpreendente feminina.

No favorito Nomadland, Chloé Zhao não só dirigiu, como escreveu o roteiro e editou. A atriz Frances McDormand, que protagoniza o filme, atuou também uma produtora decidida ao seu lado. E a diretora Emerald Fennell também é a roteirista de Bela vingança, com Carey Mulligan no papel principal.

Só se pode especular se duas mulheres também estariam na lista de indicados para o Oscar sem a pandemia e, consequentemente, com a pesada concorrência dos blockbusters. Garantido está: a atenção que ambas e seus filmes mais modestos e intimistas receberão este ano já faz parte da história da Academia de Cinema.

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