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Por que bunkers não salvarão ricos de um desastre nuclear

6 de janeiro de 2025

Indústria milionária de bunkers de luxo floresce, mas cientistas e especialistas advertem que salvação da humanidade pode não estar debaixo da terra.

Há no piso uma grossa porta de ferro aberta, mostrando caminho para um bunker subterrâneo.
Compradores de bunkers têm investido em refúgios para se proteger de eventos apocalípticos como pandemias e guerraFoto: Jae C. Hong/AP Photo/picture alliance

Em uma bucólica região do Inland Empire, na Califórnia, Bernard Jones Jr. e sua esposa construíram o que parecia ser a casa dos sonhos, com piscina com cascata, quadra de basquete, cinema particular e bosque de árvores frutíferas. Mas também com um detalhe incomum: um bunker com capacidade para 25 pessoas, equipado com duas cozinhas, banheiros e um sistema de energia autossuficiente.

"Queríamos estar preparados", justifica Jones. "O mundo não está se tornando um lugar mais seguro."

A construção desses refúgios privados está em ascensão. O mercado de bunkers nos Estados Unidos, avaliado em 137 milhões de dólares (R$ 847 milhões) no ano passado, deve atingir 175 milhões de dólares (R$ 1,08 bilhão) até 2030, impulsionado por temores de ataques nucleares, terrorismo e distúrbios civis. Enquanto isso, os gastos mundiais com armamento nuclear estão em alta e atingiram 91,4 bilhões de dólares (R$ 564,85 bilhões) em 2023.

Ron Hubbard, CEO da Atlas Survival Shelters, no Texas, observou um aumento nas vendas após eventos como a pandemia, a invasão russa à Ucrânia e a guerra entre Israel e o Hamas. Em sua fábrica em Sulphur Springs, descrita como a maior do mundo, os bunkers em construção variam de módulos básicos que custam 20 mil dólares (R$ 123,6 mil) a luxuosas mansões subterrâneas que chegam a milhões.

"As pessoas pensam que é melhor ter e não precisar do que precisar e não ter", afirma.

Para especialistas, gasto é desnecessário

Especialistas governamentais frisam que esses bunkers são um desperdício de dinheiro, e que nenhum bunker pode oferecer proteção indefinida.

A Fema, agência americana de gestão de emergências, argumenta que abrigos comuns, como porões ou a área central de grandes edifícios, podem oferecer a proteção inicial necessária em caso de chuva radioativa. E sustenta que bunkers privados, por mais caros que sejam, não resolvem o desafio fundamental de sobrevivência a longo prazo.

O empresário do ramo de bunkers Ron Hubbard supervisiona a construção de mais de 50 tipos de bunkers em sua fábrica no TexasFoto: Jae C. Hong/AP Photo/picture alliance

Especialista do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, Brooke Buddemeier afirma que, após uma explosão nuclear, as pessoas têm cerca de 15 minutos para buscar proteção contra a chuva radioativa.

Além disso, críticos das armas nucleares insistem que não é possível sobreviver a uma guerra nuclear.

É por isso que Alicia Sanders-Zakre, da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares, diz que os bunkers são mais "uma ferramenta para ajudar a população a lidar psicologicamente com a possibilidade de uma guerra nuclear" do que de fato um meio de sobrevivência.

Sanders-Zakre explica que os efeitos da radiação, o aspecto mais devastador das armas nucleares, vão além da sobrevivência inicial, causando danos de longo prazo à saúde que afetam gerações, mesmo entre aqueles que se protejam inicialmente.

"No final das contas, a única solução para proteger as populações da guerra nuclear é eliminar as armas nucleares", ressalta.

O congressista americano James McGovern, que há décadas alerta para os perigos das armas nucleares, concorda: "Se chegarmos a uma guerra nuclear total, os bunkers subterrâneos não protegerão as pessoas. Devemos investir em impedir a proliferação nuclear."

Bernard Jones, que construiu o bunker citado no início deste texto, diz que acabou se desfazendo a contragosto do imóvel. Os novos proprietários afirmam que ainda não dormiram no esconderijo nem se preocupam muito com uma guerra nuclear, mas mantêm provisões no local para o caso de virem a precisar dele. "Dissemos a alguns amigos: se as coisas enlouquecerem e ficarem ruins, venham para cá o mais rápido possível."

ra/bl (AP)

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