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EducaçãoBrasil

Por que decidi não fazer o Enem neste ano

Jaqueline Silva Oliveira
Jaqueline Silva Oliveira
28 de outubro de 2021

Sinto que o ensino público falhou comigo, e a pandemia só agravou a situação. Nós, jovens de baixa renda, também merecemos escolas que nos preparem e nos deem chance de entrar na faculdade, escreve estudante mineira.

Foto: Luis Lima/Fotoarena/imago images

Assim como eu, muitos jovens sonham em entrar na faculdade. Ao mesmo tempo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 registrou o menor número de candidatos em 14 anos. Eu sou uma dessas pessoas que decidiu não fazer a prova neste ano.

Desde criança sonho em estudar Medicina, e um turbilhão de sentimentos, como ansiedade, medo e dúvida, nos invade nesses períodos de vestibular. Isso, somado ao despreparo e às dificuldades da pandemia, me levou a fazer essa escolha.

Não foi uma decisão fácil. Também não foi uma dificuldade iniciada recentemente.

Em 2019, quando estava no primeiro ano do ensino médio, fiz meu primeiro vestibular, o Paes (Processo Seletivo de Acesso à Educação Superior). Naquele ano, não entendia sobre faculdade e vestibulares, não tive nenhum tipo de instrução da parte da escola em que estudava, nenhum apoio. Mas para mim estava tudo bem, achei que tudo o que eu precisava estava sendo ensinado.

Jaqueline Silva Oliveira estuda em uma escola pública de Montes Claros (MG) e está no 3º ano do ensino médioFoto: Privat

No ano seguinte, olhando aqueles resultados, percebi que faltava algo ali. E não era pouco: inúmeros conhecimentos que minha escola, assim como muitas outras, não proporciona a seus alunos.

Pandemia agravou as dificuldades

Em 2020, durante o segundo ano do ensino médio, o ensino despencou com a pandemia de covid-19. As escolas públicas adotaram métodos de ensino com baixo nível de eficácia, e os professores não estavam preparados para as dificuldades que surgiram. Estávamos todos aprendendo naquele momento e buscando formas de se encaixar nessa nova realidade. Mesmo assim, o ensino, que já era atrasado, ficou ainda pior.

Comecei a ver meu sonho cada vez mais longe. Até que conheci o Salvaguarda, um projeto que ajuda milhares de jovens a ingressarem na faculdade. Foi uma esperança para mim. Estava determinada a estudar, e só depois disso pude perceber tudo que faltava: as matérias que não foram ensinadas com tempo; as provas sempre muito simples e que exigiam muito pouco dos alunos; estratégias de provas; como funcionavam os vestibulares etc.

Mesmo com certo apoio, fui percebendo que a defasagem era grande para chegar preparada no fim deste ano. Assim como o de muitos alunos, meu estudo estava completamente atrasado, senti muita dificuldade nas matérias – fruto de muito tempo longe dos estudos.

Também merecemos boas escolas

Como uma estudante de baixa renda, não tenho condições para pagar cursinho, e não tenho uma estrutura adequada para estudar remotamente. Sem um local próprio ou computador, é difícil manter um estudo de qualidade. Assim, decidi não realizar o Enem em 2021. Adiei porque não vi muitas chances de passar no curso que eu quero, da maneira que eu estava estudando.

Sempre estudei em escola pública, e percebi o quanto o ensino público falhou comigo, e com tantos estudantes. As minhas expectativas com a escola foram completamente quebradas, esperava que o ensino lá fosse o bastante, mas infelizmente não foi suficiente.

É necessário que a rede dê a nós, jovens, essa estrutura de qualidade, independentemente da renda. Também merecemos escolas que nos proporcionem um preparo adequado para os vestibulares, uma maior chance de ingressar na faculdade.

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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxilia alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.