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Por que Evo Morales deverá vencer as eleições

Mirra Banchón (ca)11 de outubro de 2014

Tudo indica que a Bolívia irá eleger Evo Morales pela terceira vez. Em vez de esquerda ou direita, os especialistas consultados pela DW falam de despolarização, pragmatismo e bem-estar econômico.

Foto: A.Raldes/AFP/Getty Images

Na Bolívia, ao que parece, o resultado das eleições de 12 de outubro já está fixado: um terceiro mandato para Evo Morales, que conta com 57,5% das intenções de voto, sem necessidade de segundo turno; com grande probabilidade de o seu Movimento para o Socialismo (MAS) obter maioria no Legislativo. De acordo com as pesquisas, o segundo colocado, o candidato Samuel Doria Medina, de centro-direita, teria apenas 17,9% das intenções de voto.

Longe vão os tempos em que o líder cocaleiro, chefe de Estado boliviano desde janeiro de 2006, era sinônimo de insegurança para empresas e investidores, de um eleitorado puramente indígena, de mudança de paradigmas, de "revolução" ou de confrontos com as elites do agronegócio. Hoje, Evo Morales está associado à estabilidade, à redução da pobreza, a investimentos em infraestrutura e à modernização do país. E possui um poder executivo muito forte, com os consequentes aspectos negativos.

Sem oposição, sem controle?

"Resta ver que tendências parlamentares irão sair das eleições legislativas. O maior problema é que um governo com pouca oposição acaba com o pluralismo político. E com ele, também se vai o controle parlamentar necessário", comentou à DW Anna Ayuso, pesquisadora do Centre for International Affairs, de Barcelona (Cidob).

"Aliado ao controle da mídia, isso pode ser perigoso", disse a especialista, sublinhando como foi desrespeitoso o presidente não querer debater com seus adversários, mesmo que eles sejam minoria.

"Dizer que o debate é com o povo ressalta essa suposta superioridade moral da democracia direta sobre a representativa, típica dos movimentos populistas. Ambos são necessários, o povo deve ser consultado o tanto quanto possível, mas as instituições representativas estão aí para garantir o controle sobre o exercício do poder."

Razões da despolarização

"A Bolívia está vivenciando um tipo de bem-estar econômico como nunca viu antes. Há uma fonte muito importante de recursos estatais", informa Pablo Stefanoni, analista da Fundação Friedrich Ebert e diretor da revista Nueva Sociedad. A nacionalização da exploração do petróleo e o boom dos setores de mineração e de exploração de soja no país andino são elementos fundamentais dessa prosperidade. E também, agora, parece haver mais espaço no MAS para antigos adversários, sobretudo, as elites agroindustriais de Santa Cruz.

Assim, diversos analistas explicam a vitória esmagadora que se prevê mais uma vez para o líder sindical Evo Morales pelo fato que, na Bolívia, esquerda e direita estão confluindo para o centro. Stefanoni relativiza: "É difícil sustentar isso, porque o programa de Evo Morales sempre foi o de uma economia mista, com maior presença estatal, mas com um setor privado importante."

Evo Morales não é mais identificado com o eleitorado indígenaFoto: picture-alliance/dpa

O analista e ex-diretor do periódico Le Monde Diplomatiquena Bolívia prefere falar, antes, de uma despolarização. "O que ocorreu foi que, no primeiro mandato de Evo Morales, a situação política estava muito polarizada. A oposição, principalmente aquela baseada em Santa Cruz, combatia veementemente o governo de Morales. Isso fez com que a política dele parecesse mais radical. Mas se enfrentou essa elite agroindustrial de Santa Cruz e, uma vez que esses setores perderam peso político, Evo Morales retomou o projeto original do MAS."

Adeus socialismo do século 21?

Por outro lado, segundo Ayuso, o pragmatismo é o fiel da balança. "Isso não é novidade para Morales, que está acostumado, como sindicalista, a negociar e a conciliar posições. Como os empresários também tendem a ser pragmáticos, se os negócios andam bem, eles se aquietam. E, até o momento, vai tudo bem. Assim, nada deverá mudar", prevê a analista.

"O que estamos vendo é que o governo compactuou, no ano passado, com setores da elite de Santa Cruz. Algumas reformas, como a agrária, são hoje mais limitadas. Hoje, na Bolívia, não há a polarização que havia antes. O governo de Evo Morales age de forma mais moderada, mas também o fazem os capitalistas de Santa Cruz", concordou Stefanoni.

Teleférico mais alto do mundo, inaugurado em La PazFoto: picture-alliance/dpa//Martin Alipaz

Então, a bandeira da esquerda e do socialismo que tremulava sobre a Bolívia foi arreada? "Embora nos últimos anos tenham aparecido expressões como 'socialismo do século 21', o eixo real é um projeto de Estado forte, centrado no modelo de desenvolvimento econômico", explica Stefanoni, acrescentando que "esse Estado forte não implica, de forma alguma, um projeto que ponha em risco a propriedade privada, nem que tente superar o capitalismo, como às vezes a retórica política poderia dar a entender".

Por que então a retórica anti-imperialista? "Evo Morales domina a mobilização e, para isso, recorre ao discurso anti-imperialista e nacionalista para angariar votos", aponta Anna Ayuso, afirmando que, independente do discurso, na área econômica o presidente da Bolívia mira antes o também pragmático Rafael Correa, do Equador, do que Nicolás Maduro, da Venezuela.

No entanto, quanto aos países do bloco nacionalista de esquerda na América do Sul, "o triunfo de Evo Morales pode fortalecê-los, pois, apesar de ele parecer mais fraco do que quando iniciou o seu segundo mandato em 2010, neste momento, o país – embora seja muito pequeno – apresenta o processo político mais sólido na região", conclui Pablo Stefanoni, recordando que o discurso anti-imperialista nunca foi antidesenvolvimentista nem anticapitalista, e tampouco antieuropeu.

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