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CriminalidadeNigéria

Por que "fábricas de bebês" da Nigéria continuam prosperando

Ben Shemang
21 de março de 2024

Criminosos sequestram meninas e mulheres jovens, as levam para locais isolados e as engravidam. Quando elas dão à luz, seus bebês são vendidos a casais sem filhos. Prática existe há anos no país.

Grávida fotografada na altura da barriga
Grávida libertada de cativeiro na Nigéria. Mulheres dizem que miséria no país as torna vulneráveisFoto: Reuters TV

As chamadas "fábricas de bebês" são instalações na Nigéria para as quais meninas e mulheres jovens são atraídas, engravidadas e mantidas contra sua vontade até darem à luz.

As "fábricas" geralmente são instalações pequenas e ilegais que se apresentam como clínicas médicas particulares e que abrigam mulheres grávidas e, posteriormente, colocam seus bebês à venda.

Em alguns casos, mulheres jovens foram mantidas contra sua vontade e estupradas antes de seus bebês serem vendidos no mercado ilegal.

A prática é amplamente predominante nos estados de Abia, Lagos, Anambra, Ebonyi, Enugu e Imo, no sudeste do país.

Cerca de 200 fábricas clandestinas de bebês foram fechadas nos últimos cinco anos, de acordo com as agências de segurança nigerianas, mas novas instalações foram abertas para substituir as que foram fechadas.

No início deste mês, policiais invadiram um esconderijo em Abia, de onde resgataram 16 meninas grávidas e oito crianças pequenas. Maureen Chinaka, porta-voz da polícia, revelou que as meninas resgatadas tinham entre 17 e 27 anos de idade e foram informadas de que seriam pagas para deixar as fábricas de bebês sem seus bebês.

Em junho passado, 22 jovens grávidas e dois bebês foram resgatados de uma instalação no mesmo estado, onde haviam sido mantidos como reféns.

Por que as fábricas existem?

Há um mercado próspero para bebês entre casais que estão lutando para ter seus próprios filhos. Eles estão dispostos a pagar entre 1 milhão de nairas (cerca de R$ 3,1 mil) e 2 milhões de nairas (R$ 6,2 mil) por um bebê.

Há uma demanda maior por bebês do sexo masculino, que tendem a ser vendidos por um preço mais alto do que os bebês do sexo feminino.

Clare Ohunayo, ativista e educadora nigeriana, disse à DW que, enquanto houver demanda por bebês, a prática continuará.

Protesto contra inflação na Nigéria: condições sócio-econômicas impulsionam tráfico de bebês no paísFoto: AP Photo/picture alliance

Suprindo uma demanda

Ohunayo diz que o negócio se aproveita dos altos níveis de pobreza e do estigma que aflige aqueles casais que não têm filhos na Nigéria. "O desespero que impulsiona a fábrica de bebês é, em parte, movido pelo medo da pobreza como resultado das condições socioeconômicas da Nigéria", disse ela.

Os proprietários dessas instalações onde as meninas são mantidas, os homens que as engravidam e as próprias meninas são todos empurrados pela pobreza, de acordo com Ohunayo.

Algumas jovens nigerianas disseram à DW que permanecem vulneráveis por causa de suas condições de vida precárias. "Essa indústria de reprodução de bebês, embora já exista, prospera porque as pessoas estão realmente estressadas em termos de luta pela vida diária", disse uma jovem moradora de Abuja.

Fator cultural

Dar à luz filhos é considerado importante em muitas sociedades africanas e, muitas vezes, os casais que não conseguem ter seus próprios filhos são humilhados, até mesmo por membros da família.

A demanda por crianças do sexo masculino torna a prática especialmente lucrativa, de acordo com as autoridades policiais.

"Por outro lado, há casais sem filhos que querem evitar o estigma de não ter filhos", disse Ohunayo, descrevendo um fator cultural importante por trás das fábricas de bebês.

Combatendo as fábricas de bebês

Florence Marcus, advogada do Disability Rights Advocate Center, com sede em Abuja, disse à DW que existem leis para ajudar a combater a ameaça. "Essa questão das fábricas de bebês é uma violação grosseira dos direitos das vítimas, especialmente dessas jovens que muitas vezes são levadas para essas instalações sem o seu consentimento", disse ela.

Várias prisões foram feitas nos estados nigerianos em que a prática é predominante.

Zakaria Dauda, porta-voz da Agência Nacional para a Proibição do Tráfico de Pessoas, um órgão do governo, disse à DW que a organização continuará a fazer prisões e a garantir que os responsáveis sejam punidos.