Muitos dos sobreviventes do terremoto na Síria e na Turquia passaram dias sob os escombros – mas morreram pouco depois do resgate. Causas para morte após socorro vão da temperatura sanguínea à depressão.
"Ela está bem, considerando as circunstâncias", informava um comunicado de imprensa da organização de ajuda humanitária ISAR Germany (International Search And Rescue), que participou da operação.
Pouco mais tarde, porém, Zeynep morreu. "No caminho para o hospital, ela ainda riu", conta o socorrista Bastian Herbst, da ISAR. Segundo ele, pode haver "120 mil razões" para o óbito, como lesões internas só diagnosticadas posteriormente. Um dos motivos para a morte de Zeynep, porém, pode ter sido a chamada morte pós-resgate.
Sangue frio letal
Uma das causas possíveis desse fenômeno é a hipotermia. Sob as temperaturas glaciais na área do desastre, os vasos sanguíneos se estreitam: desse modo o organismo assegura que o mínimo possível do precioso calor interno se perca no ambiente através da pele ou das extremidades.
Nessas partes do corpo, a temperatura do sangue baixa, enquanto no núcleo físico o sangue quente garante o funcionamento dos órgãos vitais. Mas o salvamento de Zeynep foi complicado.
"Tivemos que movê-la muito para poder libertá-la", recorda Herbst. Nesse processo, pode ocorrer de os vasos se dilatarem, e o sangue frio fluir para os órgãos internos, provocando distúrbios do ritmo cardíaco e consequente morte.
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Danos renais e fibrilação
O socorrista alemão conta que as pernas de Zeynep estavam soterradas sob pedras e escombros. Ela ainda conseguia mover os pés, mas é possível que os tecidos dos membros estivessem lesionados. Lesões musculares liberam a proteína mioglobina, responsável pelo transporte de oxigênio dentro das células do tecido.
Quando o acidentado fica livre, o sangue volta a circular subitamente, inundando o organismo com mioglobina, o que pode causar falência dos rins e consequente elevação dos níveis de potássio. O excesso desse mineral, por sua vez, provoca fibrilação ventricular, com risco de morte especialmente alto para portadores de enfermidades cardíacas.
Alívio de tensão pode precipitar fim
Outra causa é o proverbial "morrer na praia": "Conhecemos isso dos naufragados: no momento em que veem a equipe de resgate, não podem mais, e se afogam", explica Herbst.
Os hormônios do estresse cuidam para que as funções corporais se mantenham. Quando essa tensão cede, a consequência pode ser uma queda radical da pressão sanguínea.
Tampouco se descartam motivos psicológicos para uma morte pós-resgate: Zeynep perdeu o marido e os filhos no abalo sísmico. "Talvez ela tenha se dado conta do fato, e isso a privou da vontade de viver", especula Bastian Herbst. "É algo que não sabemos."
Os terremotos mais fortes dos últimos 100 anos
Milhares de pessoas morreram no terremoto que abalou o Marrocos em 8 de setembro de 2023. O pior tremor no país em 120 anos atingiu 6,8 na escala Richter. No último século foram registrados sismos ainda mais fortes.
Foto: Toru Hanai/REUTERS
Chile teve o terremoto mais forte
O terremoto mais forte já registrado, de magnitude 9,5 graus na escala Richter, atingiu Valdívia, na costa sul do Chile, por 10 minutos, em maio de 1960. Foram destruídas cidades inteiras e a geografia da região foi alterada. Quase 6 mil pessoas morreram. E o tsunami gerado pelo sismo causou a morte de 130 pessoas no Japão e de 61 no Havaí. Na foto, ruínas do porto de Corral.
Foto: Getty Images/AFP
Grande Terremoto do Alasca
O terremoto que abalou o Alasca em 27 de março de 1964 também é conhecido como "o grande terremoto do Alasca". Ele segue sendo o mais forte já registrado nos Estados Unidos, com magnitude de 9,2. O movimento sísmico e o posterior tsunami mataram 139 pessoas. Na foto, a destruição causada no pequeno povoado de pescadores na ilha de Kodiak.
Foto: Getty Images/Central Press
Megaterremoto submarino no Oceano Índico
O megaterremoto submarino de 26 de dezembro de 2004 no Oceano Índico teve magnitude de 9,1. Ele desencadeou uma série de tsunamis devastadores, que causaram a morte de 280 mil pessoas em 14 países e inundaram cidades costeiras com ondas de até 30 metros de altura. Foi um dos desastres naturais mais mortíferos de que se tem registro. Na foto, a destruição em Sumatra, na Indonésia.
Foto: Getty Images/P.M. Bonafede/U.S. Navy
Terremoto seguido de tsunami no Japão
Um membro da equipe canina de resgate busca vítimas após o terremoto que causou destruição no noroeste do Japão em 11 de março de 2011, que atingiu 9,1 na escala Richter e foi seguido de um terrível tsunami. Eles causaram a morte de cerca de 18,5 mil pessoas e afetaram a planta nuclear de Fukushima.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
O terremoto de Kamchatka
Em 4 de novembro de 1952, foi registrado um tremor de magnitude 9 na costa da península de Kamchatka, no leste da Rússia. O tsunami que se seguiu causou destruição e mortes nas ilhas Kurilas. Mais de 2,3 mil pessoas morreram.
Mais uma vez no Chile
O tremor de magnitude 8,8 que afetou a costa do Chile em 27 de fevereiro de 2010 também está entre os mais fortes do século. Ele não causou tantas mortes como o tsunami posterior, que varreu várias localidades costeiras, elevando a cifra de mortos para 530. O sismo danificou o porto de Talcahuano e provocou perdas milionárias aos pescadores e à indústria local.
Foto: Getty Images/AFP/M. Bernetti
Sismo de 1906 atingiu Equador e Colômbia
Em 31 de janeiro de 1906, um terremoto também de magnitude 8,8 na escala Richter causou destruição e cerca de mil mortes no Equador e na Colômbia. O terremoto se deu devido ao choque das placas de Nazca e a Sul-Americana, causando um tsunami de vários metros de altura. O epicentro localizou-se no Oceano Pacífico diante da fronteira entre os dois países.
De novo o Alasca
O sismo de 4 de fevereiro de 1965 atingiu 8,7 de magnitude e teve seu epicentro nas Ilhas Rat, muito propícias a sismos porque se localizam entre as placas tectônicas do Pacífico e da América do Norte. Elas são um grupo vulcânico de ilhas integradas nas ilhas Aleutas, no sudoeste do Alasca. Na foto, a destruição causada pelo terremoto em Anchorage, maior cidade do Alasca.
Foto: U.S. Army
Em 1950, entre Índia e China
O terremoto de Assam-Tibete, entre Índia e China em 15 de agosto de 1950, atingiu a magnitude de 8,6 graus na escala Richter. O sismo causou destruição tanto na região de Assam, na Índia, quanto no Tibete, e foi fatal para cerca de 4,8 mil pessoas.
Alasca é área propícia a terremotos
O sul do Alasca fica na fronteira entre a Placa Tectônica Norte-Americana e a Placa do Pacífico. Em 9 de março de 1957, aconteceu nas ilhas Aleutas um terremoto de magnitude 8,6 na escala Richter.
Turquia e Síria: luto e indignação
Milhares de pessoas morreram no terremoto que atingiu a Turquia e a Síria em 6 de fevereiro de 2023, com uma magnitude de 7,8 na escala Richter. As cifras assustam: pelo menos 50 mil mortos, 214 mil prédios desabados ou em estado precário, milhões perderam suas moradias. Ao luto dos sobreviventes, juntou-se a indignação de constatar que, em muitos casos, não foram cumpridas normas de construção.