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Por que há poucas chances de uma eleição na Ucrânia em 2025

Roman Goncharenko
11 de fevereiro de 2025

Especialistas argumentam que, sem um cessar-fogo estável e o cumprimento de algumas outras condições, pressão americana por pleito só atenderia aos interesses da Rússia.

Zelenski ao lado de Donald Trump
Eleições na Ucrânia podem ser parte de um plano mediado pelos EUA para acabar com a guerra; na foto, Zelenski e Trump durante encontro em setembro de 2024Foto: Ukrainian Presidency/abaca/picture alliance

Quando a Ucrânia realizará a eleição presidencial que foi cancelada por causa da invasão russa lançada em fevereiro de 2022? O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, ouve cada vez mais essa pergunta. A resposta é sempre a mesma. "A eleição será realizada após a fase mais difícil da guerra, quando a lei marcial não for mais aplicada", disse Zelenski na semana passada ao jornalista britânico Piers Morgan.

A pergunta se tornou mais frequente depois que o tema foi abordado pelo encarregado especial dos EUA para a Ucrânia e a Rússia, Keith Kellogg. Ele disse que o governo americano gostaria de ver eleições na Ucrânia até o fim de 2025, especialmente se Kiev e Moscou concordarem em breve com um cessar-fogo. Eleições são "boas para a democracia", disse Kellogg à agência de notícias Reuters no início de fevereiro.

Já no início de 2024, políticos americanos haviam pedido à Ucrânia que realizasse eleições mesmo com a guerra em andamento.

Também o governo da Rússia, de um ano para cá, tem se manifestado sobre o assunto. O presidente Vladimir Putin tem seguidamente questionado a legitimidade de Zelenski, apontando para a suspensão das eleições ucranianas planejadas para o fim de 2024. O Kremlin diz estar pronto para negociar com Zelenski, mas frisa que qualquer acordo para pôr fim à guerra só será assinado após uma nova eleição presidencial na Ucrânia.

A Constituição ucraniana, porém, proíbe a realização de eleições sob lei marcial.

É possível que as eleições na Ucrânia sejam parte de um plano de paz mediado pelos EUA. Detalhes desse plano ainda não foram divulgados. A Casa Branca confirmou que Kellogg planeja ir a Kiev ainda em fevereiro.

Keith Kellogg, o encarregado dos EUA para Ucrânia e Rússia, deve visitar Kiev ainda em fevereiroFoto: Andrew Harnik/AP/dpa/picture alliance

O ex-embaixador dos EUA na Ucrânia John Herbst, hoje um especialista do think tank americano The Atlantic Council, diz que a posição da Rússia não surpreende. Ela faz parte das tentativas do Kremlin de adiar as negociações para o fim da guerra, afirma.

O diplomata elogiou o governo de Donald Trump por reconhecer que "Putin é um obstáculo no caminho das negociações de paz". No entanto, disse acreditar que seria um erro de cálculo se Washington quisesse incluir a questão das eleições na Ucrânia na pauta.

"Não é possível realizar eleições justas e livres", diz diplomata

A intenção da Rússia está clara para o especialista em Ucrânia Winfried Schneider-Deters. "Eles querem causar agitação e dividir a população durante uma campanha eleitoral", avalia. "O que eu não consigo entender é o interesse dos americanos." 

Schneider-Deters diz que os motivos da Rússia são "pérfidos" e, por isso, ele recomenda que Zelenski não ceda a possíveis pressões de Washington por eleições.

Resta saber se a Ucrânia será capaz de fazer isso com seu maior e mais importante doador de armas. Zelenski até agora evitou um posicionamento claro sobre o assunto. Ele diz que a Ucrânia está pronta para fazer concessões e quer realizar eleições, mas desde que garantidas certas condições.

O ex-secretário-geral da Organização para Cooperação e Segurança na Europa (OSCE) Thomas Greminger alerta contra realizar eleições rapidamente. "Creio que, nas condições atuais, simplesmente não é possível realizar eleições justas e livres", diz o diplomata suíço. Afinal, argumenta, grande parte do território ucraniano está sob controle russo.

Greminger também diz que experiências anteriores, tanto na África e na Ásia como nos Bálcãs Ocidentais, desaconselham a realização prematura de eleições. "É preciso uma certa estabilidade e bons preparativos", afirma. Do contrário, ao invés de estabilidade, o que se tem é o oposto.

Condições para realizar uma eleição

Se realmente houver eleições, Herbst vê um perigo não para a democracia, mas para a segurança ucraniana. "Não há dúvida de que a Rússia usará esse tempo para se fortalecer militarmente."

Eleições só são possíveis sob certas condições, argumenta o diplomata. Ele inclui entre as mais importantes algumas já listadas por alguns aliados de Trump: mais armas para a Ucrânia, uma zona desmilitarizada e a presença de tropas europeias. Se houver um cessar-fogo "sério", eleições são possíveis, diz Herbst. Porém, Moscou não concorda com nenhuma dessas condições.

Greminger também lembra que eleições livres e justas requerem liberdade de movimento para os eleitores e candidatos, bem como liberdade de imprensa. A lei marcial ucraniana, porém, limita ambos. A OSCE poderia ajudar com observadores eleitorais, pontua o ex-secretário-geral da organização. Na opinião dele, o número não necessariamente precisaria ser maior do que em eleições anteriores.

Porém, o mais importante para a realização de eleições é a estabilidade política, e a Ucrânia ainda está "muito distante disso". Para Greminger, uma eleição na Ucrânia só seria possível passados pelo menos seis meses após o início de um cessar-fogo estável e monitorado. Diante de tudo isso, ele considera muito improvável que haja uma eleição na Ucrânia ainda este ano.

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