Por que música pró-Hitler de Kanye West é ilegal na Alemanha
Sarah Hucal
14 de maio de 2025
Single do rapper americano faz referência à saudação "Heil Hitler" e inclui trecho de discurso do líder nazista. Canção foi derrubada em plataformas de streaming em todo o mundo, com exceção do X.
Foto: Avalon/Photoshot/picture alliance
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Apesar de ter sido derrubado da maioria das plataformas de streaming em todo o mundo, um novo single provocativo do rapper americano Kanye West, também conhecido como Ye, permanece online no X, onde tem quase 9 milhões de visualizações.
Versões da música também foram compartilhadas milhões de vezes por usuários no Facebook e Instagram, apesar de não ter sido compartilhada pelo rapper nestas plataformas.
Na Alemanha, porém, o vídeo é banido, e usuários não conseguem acessá-lo mesmo no X, que teve suas regras de moderação flexibilizadas após ser adquirido pelo bilionário Elon Musk,
Isso porque o título da música lançada em 8 de maio faz referência à saudação nazista "Heil Hitler" ("Salve Hitler"), usada quando Adolf Hitler estava no poder. A capa do single se assemelha a uma suástica e o vídeo publicado no X termina com um longo trecho de um discurso de Hitler. Ele deve compor o álbum Cuck do rapper, cuja capa inclui duas figuras vestidas com vestimentas da Ku Klux Klan.
Plataformas como Spotify, YouTube e Soundcloud derrubaram o single devido ao seu conteúdo antissemita e discurso de ódio. "Heil Hitler, de Ye, foi banida por todas as plataformas de streaming, enquanto 'Rednecks', de Randy Newman, continua disponível para streaming", escreveu West em um post no X, citando a música de 1974 que usa insultos raciais.
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Símbolos nazistas proibidos na Alemanha
Apesar de o vídeo seguir disponível em todo o mundo, usuários localizados em países como França, Polônia e Alemanha não conseguem acessá-lo. Ao clicar no link, o X indica que a publicação foi "retida com base na legislação local".
A saudação "Heil Hitler" era usada como saudação oficial na Alemanha nazista. O movimento que a acompanha, feito com o braço direito estendido e a palma da mão voltada para baixo, teve sua origem na Roma antiga e foi adotado pelo ditador fascista Benito Mussolini na década de 1920. Mais tarde, Hitler fez dela uma assinatura de seu governo.
No pós-guerra, as autoridades da Alemanha Ocidental decidiram limitar essas tais expressões para superar o passado sombrio do Holocausto, que fez milhões de vítimas em toda a Europa.
Essa lei proíbe o uso de símbolos associados a "organizações inconstitucionais", incluindo aquelas afiliadas ao partido nazista, como a suástica, o emblema da SS, a saudação e slogans nazistas.
Seu uso pode ser punido com até três anos de prisão ou multa.
Kanye West perdeu o contrato que tinha com a Adidas por publicações antissemitasFoto: Jonathan Leibson/Getty Images for ADIDAS
Símbolos nazistas não foram proibidos nos EUA
Para combater o aumento dos grupos de extrema direita e o crescente antissemitismo, outros países também proibiram a disseminação de símbolos de ódio. Em fevereiro, a Austrália aprovou uma lei contra crimes de ódio que inclui penas para o uso de expressões como a saudação nazista.
Enquanto isso, nos EUA, a liberdade de expressão é fortemente protegida pela primeira emenda da Constituição americana, o que inclui o discurso de ódio.
Embora o gesto seja um tabu no mundo ocidental, não é ilegal fazer a saudação nazista ou usar uma suástica nos Estados Unidos.
Desde a Segunda Guerra Mundial, a saudação tem sido usada com frequência por neonazistas e nacionalistas brancos. Em 2016, por exemplo, circulou um vídeo de um grupo de supremacistas brancos apoiando a vitória presidencial de Donald Trump naquele ano, levantando os braços em uma aparente saudação no estilo nazista.
Em janeiro, Elon Musk, que apoia abertamente o partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), foi alvo de críticas por fazer o que parecia ser uma saudação no estilo nazista na posse do presidente dos EUA, Donald Trump.
Em resposta, ativistas do grupo britânico de campanha política Led by Donkeys projetaram uma imagem de Musk em sua fábrica da Tesla, em Berlim, mostrando o bilionário fazendo o gesto, com o título "Heil Tesla". O grupo entendia que, se as autoridades alemãs considerassem o símbolo ilegal de acordo com o Código Penal do país, isso provaria que Musk havia de fato feito o gesto.
Dono do X, Elon Musk foi acusado de fazer a saudação nazistaFoto: Mike Segar/REUTERS
Falta de regulamentação das empresas de tecnologia
Musk e Kanye West têm sido criticados por expressar opiniões antissemitas nos últimos anos. Em 2023, o dono da Tesla compartilhou um entendimento de que "judeus odeiam brancos".
Já o rapper publicou, em fevereiro: "Eu sou um nazi… eu amo Hitler". Em outra música lançada em março, se diz "completamente antissemita". Ele chegou a ter a conta suspensa no X.
O recente vídeo de Kanye West e a luta para tirá-lo do ar provocaram um novo olhar sobre as políticas de conteúdo das principais empresas de tecnologia, inclusive as plataformas de propriedade da Meta, de Mark Zuckerberg.
A Anti-Defamation League, uma organização não governamental internacional que combate o antissemitismo, a intolerância e a discriminação, iniciou uma petição solicitando ao Facebook e ao Instagram que "restabeleçam as diretrizes destinadas a proteger os usuários contra a desinformação e o ódio".
Em janeiro deste ano, a Meta anunciou que não empregaria mais verificadores de fatos em suas plataformas e afrouxou as regras de combate ao discurso de ódio à luz das "eleições recentes" – uma referência à vitória presidencial de Donald Trump.
No entanto, a retórica pró-Hitler veiculada pelo último single de West ainda se enquadra na regra da empresa de proibir "estereótipos prejudiciais historicamente ligados à intimidação, incluindo Blackface e negação do Holocausto".
O mês de maio em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Francesco Sforza/REUTERS
Alemanha prende três por planejarem atos de sabotagem
O Ministério Público da Alemanha anunciou a prisão de três cidadãos ucranianos, dois deles na Alemanha e um na Suíça, por suspeita de atuarem como agentes da Rússia para realizar atos de sabotagem com explosivos no transporte de cargas alemão. (14/05)
Foto: Uli Deck/dpa/picture alliance
Morre "Pepe" Mujica, o presidente mais humilde do mundo
O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica morreu aos 89 anos. Ele estava em estágio terminal de um câncer de esôfago e recebia cuidados paliativos. Sua morte foi informada pelo atual líder do país sul-americano, Yamandu Orsi. Líderes do mundo inteiro se despediram do ex-guerrilheiro uruguaio. (13/05)
Foto: Gerardo Vieyra/NurPhoto/IMAGO
Hamas anuncia libertação de refém israelense-americano
O braço armado do Hamas informou que libertou o soldado israelense-americano Edan Alexander, de 21 anos, que havia sido mantido como refém em Gaza desde 7 de outubro de 2023. A libertação ocorreu "após contatos com a administração dos EUA, no âmbito dos esforços dos mediadores para chegar a um cessar-fogo", disse a organização terrorista palestina em comunicado (12/05).
Foto: Ohad Zwigenberg/AP/dpa/picture alliance
Primeira bênção dominical do papa Leão 14
Em sua primeira bênção dominical na Praça de São Pedro, o papa Leão 14 pediu uma paz genuína e justa na Ucrânia e um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. "Depois desse cenário dramático de uma terceira guerra mundial em pedaços, como tantas vezes afirmou o papa Francisco, eu me dirijo também aos grandes do mundo, repetindo o apelo sempre atual: nunca mais a guerra", afirmou o pontífice. (11/05)
Foto: Vatican Media/ZUMA Press/IMAGO
Macron, Merz, Starmer e Tusk visitam Kiev
Os líderes do Reino Unido, Keir Starmer, da França, Emmanuel Macron, da Alemanha, Friedrich Merz, e da Polônia, Donald Tusk, se encontraram com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em Kiev, uma demonstração conjunta de apoio à Ucrânia. A visita ocorre um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, receber aliados no evento que marcou os 80 anos do fim da Segunda Guerra em Moscou. (10/05)
Foto: LUDOVIC MARIN/POOL/AFP/Getty Images
Leão 14 celebra sua 1ª missa como novo papa
O papa Leão 14 celebrou sua primeira missa após ter sido escolhido como o novo líder da Igreja Católica. O missionário agostiniano retornou à Capela Sistina, onde ocorreu o conclave, para celebrar a missa na presença dos cardeais. Na homilia, disse que foi eleito para que a Igreja possa ser um "farol" para iluminar as regiões do mundo onde haja falta de fé. (09/05)
Foto: VATICAN MEDIA/Handout/AFP
Cardeal americano Robert Prevost é eleito novo papa
O conclave elegeu o cardeal americano Robert Prevost, de 69 anos, como o 267º papa da Igreja Católica. Missionário agostiniano, ele é o primeiro pontífice nascido nos EUA da história. Em seu primeiro discurso aos fiéis, homenageou o papa Francisco, pediu construção de pontos e paz a todos os povos. (08/05)
Foto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS
Começa o conclave que irá eleger o novo papa
Cardeais de todo o mundo estão reunidos no Vaticano para eleger o próximo líder da Igreja Católica.133 cardeais de 71 países estão aptos a votar no maior e mais geograficamente diverso conclave em 2 mil anos de história. Ao fim do primeiro dia, fumaça preta na chaminé da Capela Sistina indicou que não houve consenso em torno de um novo nome. (07/05)
Foto: Gregorio Borgia/AP/picture alliance
Merz toma posse após tropeço histórico no Bundestag
O Bundestag (Parlamento) elegeu oficialmente, em segunda votação, o conservador Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), como o novo chanceler federal do país Ele é o terceiro membro da CDU a chefiar o governo alemão desde a reunificação do país, em 1990. O conservador conseguiu o feito inédito de não conseguir se eleger na primeira rodada de votação (06/05).
Foto: Lisi Niesner/REUTERS
Israel se prepara para ampliar ofensiva militar em Gaza
O gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para expandir as operações militares em Gaza, incluindo a "conquista" do território palestino e a pressão para que residentes se desloquem para o sul. No domingo, militares israelenses já haviam iniciado uma convocação em massa de reservistas para ampliar a ofensiva contra o Hamas na Faixa de Gaza. (05/05)
Foto: Omar Ashtawy/ZUMAPRESS.com/picture alliance
Míssil disparado do Iêmen cai perto do aeroporto de Tel Aviv
O Aeroporto Internacional de Ben Gurion, na região de Tel Aviv, foi alvo de um ataque de míssil. Os rebeldes Houthis, do Iêmen, grupo aliado do Hamas, reivindicaram a autoria do ataque, que causou interrupção no tráfego aéreo. O exército israelense reconheceu que não conseguiu interceptar o míssil. (04/05)
Foto: Ohad Zwingenberg/AP/dpa/picture alliance
Austrália: esquerda reelege premiê em meio a onda anti-Trump
O primeiro-ministro da Austrália, o trabalhista Anthony Albanese, proclamou a vitória de seu partido nas eleições gerais. Ele se tornou, assim, o primeiro chefe de governo a conquistar um segundo mandato consecutivo de três anos em 21 anos. "Os australianos escolheram enfrentar os desafios globais do jeito australiano, cuidando uns dos outros e construindo o futuro", disse Albanese. (03/05)
Foto: Rick Rycroft/AP Photo/picture alliance
Inteligência alemã classifica AfD como extremista de direita
A inteligência interna da Alemanha classificou sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma "organização comprovadamente extremista de direita" que ameaça a democracia e viola a dignidade humana ao tentar excluir grupos populacionais, como os imigrantes. A medida permite às agências de segurança monitorarem de forma mais incisiva o partido. (02/05)
Foto: dts Nachrichtenagentur/IMAGO
Trabalhadores ao redor do mundo protestam no 1º de Maio
Redução de jornada, garantia de direitos e melhoria do ambiente de trabalho foram algumas das reivindicações de manifestações em todo o mundo no Dia do Trabalhador, como nesta em Daca, capital de Bangladesh. A data remonta ao início de uma greve em Detroit ocorrida em 1886, que resultou na prisão e morte de trabalhadores. (01/05)