Remédio 70 vezes mais potente que a morfina passou a ser consumido como entorpecente e pode provocar morte: bastam dois miligramas.
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Como medicamento, o fentanil reduz a dor, mas a ingestão deve ser rigorosamente monitorada. Tomado de forma descontrolada como entorpecente, pode comprometer a percepção, reduzir o ritmo respiratório, provocar estados de coma e, no pior dos casos, morte. Só nos Estados Unidos, em 2021 houve mais de 70 mil vítimas da substância que provoca dependência em pouco tempo tempo.
Que aplicação tem o fentanil?
O fentanil é mais forte e eficaz do que outros analgésicos opioides, como, por exemplo, morfina, oxicodona e hidromorfona. É ministrado para câncer em estágio terminal ou após um procedimento cirúrgico mais grave. Pertencente à classe dos opioides sintéticos, é conhecido por sua potência excepcionalmente alta, sendo 50 vezes mais forte que a heroína e 70 vezes do que a morfina.
Como atua no sistema nervoso central, o fentanil e também é utilizado na medicina como anestésico: coloca o paciente em estado de sono profundo, em que não sente dor e relaxa. A dosagem depende do estado geral e da gravidade e duração da intervenção.
A ministração deve ser cuidadosamente monitorada por profissionais de medicina ou outros. Eles devem garantir que o paciente receba oxigênio suficiente, porque mesmo pequenas quantidades de fentanil podem causar depressão respiratória, com risco de vida por falta de oxigenação, sobretudo do cérebro e do coração.
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Em que forma se vende fentanil?
O fentanil pode ser administrado por via intravenosa. Dessa forma, age muito rápido, pois vai direto para a corrente sanguínea. Consumido de forma descontrolada como entorpecente, há risco de overdose e consequente morte.
A substância também é vendida em pó, que muitos dependentes inalam, ou ingerem comprimidos, feitos a partir do pó prensado em fábricas clandestinas de medicamentos, especialmente na América Latina. A dosagem também é difícil, e mesmo dois miligramas podem ser letais.
Os adesivos da droga, também conhecidos como fentanil transdérmico, são usados na medicina para proporcionar alívio contínuo da dor por um longo período. Clínicas, consultórios médicos e farmácias agora costumam prestar muita atenção ao descarte adequado e seguro dos adesivos de fentanil, porque dependentes continuam tentando obter unidades descartadas na lata de lixo.
O fentanil também pode ser vaporizado e inalado. Essa forma de ministração também pode facilmente resultar em overdose.
Qual é a origem do fentanil?
O fentanil apareceu como droga já nos anos 1970. A produção ilícita aumentou rapidamente de 1980 a 1990, atingindo proporções alarmantes na década de 2000. À medida que se tornou mais difundido, também cresceu o número dos dependentes e das mortes, especialmente nos Estados Unidos.
Muitas substâncias necessárias a fabricar o composto sintético vêm da China. De lá, são exportadas para a América Latina, onde são processadas em fábricas clandestinas e vendidas no mercado negro.
De acordo com a americana Drug Enforcement Agency (DEA), de combate ao narcotráfico, nos EUA foram apreendidos em 2022 mais de 50,6 milhões de comprimidos e mais de 4.500 quilogramas de fentanil em pó. A agência afirma que isto equivale a "mais de 379 milhões de doses potencialmente letais de fentanil" –o suficiente para matar quase toda os 333 milhões de habitantes dos Estados Unidos.
Drogas com passado alemão
Muitos entorpecentes produzidos hoje em laboratórios clandestinos espalhados pelo mundo são criações de cientistas, militares e empresas da Alemanha.
Na Segunda Guerra
Nas campanhas na Polônia, em 1939, e na França, em 1940, Hitler enviou soldados drogados para o front. Na ocupação da França, teriam sido dados às tropas 35 milhões de comprimidos de Pervitin, que tinha o apelido de "chocolate de tanque" ou "pílula de Hermann Göring". A substância ativa, metanfetamina, é um estimulante do sistema nervoso central. Mas também os Aliados dopavam seus soldados.
Foto: picture-alliance/dpa-Bildarchiv
Alerta, destemido e sem fome
A droga foi produzida por um japonês, inicialmente em forma líquida. Químicos da fábrica berlinense Temmler aperfeiçoaram o produto e o patentearam em 1937. Um ano mais tarde o medicamento era lançado no mercado. Ele era usado contra cansaço, sensação de fome e sede e medo. Hoje em dia, o Pervitin é comercializado ilegalmente sob novo nome: Crystal Meth.
High Hitler?
Historiadores divergem se Adolf Hitler era dependente de Pervitin. Nas anotações de seu médico pessoal, Theodor Morell, aparece um "X" com frequência. Nunca foi esclarecido o que ele significa. Sabe-se, no entanto, que Hitler recebia medicamentos fortes, a maioria provavelmente muito aquém das atuais leis de combate às drogas.
Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
"Milagrosa" heroína
A criatividade dos produtores de drogas na Alemanha já havia começado muito mais cedo. "Fim à tosse graças à heroína", era o slogan da fabricante alemã Bayer no final do século 19 para o seu sucesso de vendas. Em pouco tempo, a heroína passou a ser prescrita contra epilepsia, asma, esquizofrenia e doenças cardíacas, mesmo em crianças. Como efeito colateral, a Bayer apontava prisão de ventre.
Pai da aspirina e da heroína
O químico e farmacêutico Felix Hoffmann é celebrado especialmente como o inventor da aspirina. Sua segunda grande descoberta aconteceu quase por acaso, enquanto experimentava com ácido acético. Ele resolveu combinar este ácido com morfina, obtido do suco da papoula usada para produzir ópio, criando assim a heroína. O produto só se tornaria ilegal na Alemanha em 1971.
Cocaína para oftalmologistas
Já desde 1862, a alemã Merck fabricava cocaína, usada na época pelos oftalmologistas como anestésico local. Ao pesquisar folhas de coca da América do Sul, o químico Albert Niemann havia isolado um alcaloide, que chamou de cocaína. Niemann morreu pouco depois de sua descoberta, vítima de um problema pulmonar.
Foto: Merck Corporate History
Freud e cocaína
Sigmund Freud consumia cocaína para fins científicos. Em seus "Escritos sobre a cocaína", o pai da psicanálise escreveu que ela não traz inconvenientes. Segundo ele, a substância transmite euforia, energia para viver, e motiva a trabalhar. Seu entusiasmo, no entanto, acabou com a morte de um amigo por causa da droga. Naquele tempo, a cocaína era prescrita contra dor de cabeça e dor no estômago.
Foto: Hans Casparius/Hulton Archive/Getty Images
O barato do Ecstasy
Embora o americano Alexander Shulgin seja considerado o inventor da pílula Ecstasy, a receita para sua produção estava em mãos da fabricante alemã Merck. Em 1912, foi dada entrada para a patente de uma substância oleosa sem cor chamada metilenodioximetanfetamina (MDMA ). Na época, os químicos consideraram que ela não teria valor comercial.
Foto: picture-alliance/epa/Barbara Walton
Efeitos de longo prazo
Os efeitos destas descobertas são implacáveis. As Nações Unidas calculam que em 2013 morreram 190 mil pessoas no mundo devido ao consumo de drogas ilegais. Em relação a bebidas alcoólicas, que não são proibidas, os números são mais impressionantes: a Organização Mundial da Saúde estima que em 2012 5,9% de todos os casos de morte no mundo (3,3 milhões) foram uma consequência do consumo de álcool.