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Por que o Brasil se vende tão barato?

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
14 de abril de 2021

Ministro do Meio Ambiente quer US$ 1 bilhão da comunidade internacional para preservar a Amazônia. Parece muito, mas é uma bagatela diante do que a floresta e sua proteção poderiam valer. Um atestado de miopia.

Ministro Ricardo Salles (dir.) foi indicado por Bolsonaro para representar o Brasil na Cúpula dos Líderes sobre o ClimaFoto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil

Supostamente o ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se achou muito esperto ao anunciar que pretende exigir "1 bilhão de dólares" na cúpula do Dia da Terra, em 22 de abril. Em troca, o Brasil desmataria 40% menos mata amazônica do que atualmente. Com isso, ele quer dizer: se os gringos estão exigindo que a gente preserve a Amazônia, então vão ter que pagar.

Salles está seguro do aplauso dos que apoiam sua "política ambiental". No gabinete, o presidente Jair Bolsonaro e alguns generais o teriam congratulado pela demonstração do tipo "Davi contra Golias". Até porque grande parte do dinheiro iria para os militares e unidades policiais que pretendem proteger a mata tropical. Como declarou, o ministro considera os órgãos ambientais existentes, como o Ibama e o ICMBio, burocráticos e engessados demais.

O problema é que, por 1 bilhão de dólares, o Brasil estará se vendendo mais barato do que nunca numa cúpula ambiental. A quantia é uma bagatela diante do que poderiam valer a Floresta Amazônica e sua preservação. Pouco refletida e mesquinha, a ideia mostra toda a miséria da atual política ambiental do país.

A caminho da COP26

O presidente Bolsonaro indicou Salles como chefe de negociações da assim chamada Cúpula dos Líderes sobre o Clima, relegando a segundo plano todos os membros do gabinete que teriam algo para dizer sobre o assunto. E há muito em jogo: o novo presidente americano, Joe Biden, convidou para o encontro 40 chefes de Estado e de governo.

Trata-se de uma reunião preparatória para a cúpula do clima COP26 de novembro em Glasgow. Os Estados Unidos querem obter desde já, dos grandes causadores de gases do efeito estufa, comprometimentos quanto a suas emissões de CO2. Aí, na conferência na Escócia, seria possível finalmente aprimorar as metas do Acordo de Paris de 2015.

E agora, com sua exigência bilionária, Salles quer que a comunidade mundial pague ao Brasil antecipadamente pela floresta existente, ou seja, por dióxido de carbono capturado.

Pelo Fundo Amazônia, criado pela Noruega e também pela Alemanha para proteção da floresta, verbas fluiriam anualmente a posteriori caso o Brasil reduzisse comprovadamente o desmatamento. Como o governo Bolsonaro não pode ou não quer fazer isso, as transferências foram suspensas.

Reivindicar em vez de passar o pires

E no entanto o sistema "dinheiro em troca de proteção florestal" poderia funcionar bem: diversos Estados, conglomerados privados e doadores multilaterais, como o Banco Mundial, seguramente estariam dispostos a investir muito para apoiar o Brasil.

O país só teria que provar, ou assegurar de forma confiável, que pode e quer preservar a Floresta Amazônica. Em vez disso, o atual governo desmonta todas as instituições e corta verbas, de modo que a destruição da Amazônia se acelera cada vez mais.

Ao pedir 1 bilhão de dólares, é como se o ministro do Meio Ambiente quisesse que o corpo de bombeiros lhe desse uma gorjeta para que este apagasse o fogo na própria casa dele. O governo tenta lucrar com o impedimento da própria catástrofe: "A estratégia ambiental do governo é equivocada, míope e de curto prazo", criticou o ex-ministro da Agricultura Pedro de Camargo Neto, ao jornal O Estado de S. Paulo.

Pois, com sua matriz energética sustentável, de hidrelétricas e biocombustíveis, o Brasil poderia se apresentar de forma bem diferente no Dia da Terra, impondo condições, não como solicitante. O país deveria exigir dos Estados que mais produzem gases do efeito estufa – União Europeia, China, Rússia Índia – que reduzam suas emissões.

Camargo Neto aponta o caminho: "Nós, que podemos sofrer o desastre que eles estão provocando e podemos pagar o pato. Nós teríamos de estar numa posição de força, pressionando, não querendo passar o pires."

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.