Guerra de exaustão em trincheiras cheias de lama, com poucos avanços e elevadas perdas de ambos os lados, faz especialistas traçarem comparação entre os dois conflitos.
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Uma batalha longa e exaustiva, muitas vezes em trincheiras cheias de lama e água da chuva. Soldados de infantaria de ambos os lados trocando tiros ou lançando granadas, acompanhados pelo fogo pesado da artilharia. E tudo isso com pequenos ganhos de terreno e pesadas baixas de ambos os lados.
Muitos analistas já observaram que a atual dinâmica da Guerra da Ucrânia lembra cada vez mais o que aconteceu na Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918 – e que muitas pessoas hoje conhecem das imagens mostradas no filme Nada de novo no front.
Os analistas se referem ao que, no jargão militar, é conhecido como guerra de exaustão e que também tem os nomes de guerra de posições, guerra de desgaste ou guerra de atrito. Frequentemente é também uma guerra de trincheiras.
Ao contrário da guerra de movimento, a guerra de exaustão transcorre num local fixo, no qual o front permanece por um longo tempo inalterado, enquanto se busca impor pesadas perdas materiais e de pessoal ao inimigo, ao ponto da exaustão e do consequente colapso.
A emblemática Batalha de Verdun
O caso mais conhecido de guerra de exaustão ocorreu justamente na Primeira Guerra Mundial, no front ocidental, quando as duas partes permaneceram durante anos em trincheiras, defendendo posições, sem grandes avanços.
O chefe do Estado-maior alemão, general Erich von Falkenhayn, diria, anos depois, que o principal objetivo dele não era tomar Verdun, mas destruir a força militar francesa, ainda que muitos historiadores duvidem dessa versão.
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Bakhmut tem alto valor simbólico
Nas últimas semanas são cada vez mais frequentes as comparações entre Verdun e a batalha pela cidade ucraniana de Bakhmut, na região de Donetsk – também esta, longa e sangrenta.
Embora a pequena cidade ucraniana, assim como a pequena Verdun em 1916, não tenha grande importância estratégica, ambos os lados lutam ferrenhamente por ela, com custos elevados de pessoal e material.
A liderança ucraniana afirma que há sete russos mortos para cada ucraniano morto na batalha. Especialistas da Otan calculam que a proporção seja de 5 para 1.
Os ucranianos estão defendendo Bakhmut desde o verão europeu do ano passado. Os relatos mais recentes dão conta de que os russos estão avançando, ainda que muito lentamente.
Como Verdun, Bakhmut se transforma cada vez mais num símbolo – para ambos os lados.
Para os ucranianos, Bakhmut é um símbolo de resistência, uma demonstração de que é possível conter e vencer os russos. Para os russos, tomar Bakhmut seria a primeira vitória digna de nota desde a tomada de Lysychansk, em julho de 2022.
E devido aos meses de batalha e bombardeios, o front em Bakhmut também se assemelha à paisagem devastada pela guerra de Verdun na Primeira Guerra Mundial, com prédios destruídos, árvores reduzidas aos troncos e trincheiras cheias de lama.
Nem tudo é parecido
Mas, se a dinâmica no terreno se assemelha ao que aconteceu há mais de cem anos, as proporções são outras. Estimativas recentes indicam que as forças ucranianas usam menos de 10 mil projéteis de artilharia por dia, e os militares russos, algumas dezenas de milhares. Na Primeira Guerra Mundial o total diário podia passar de 1 milhão.
Também os contingentes militares envolvidos na Guerra da Ucrânia são muito menores do que na Primeira Guerra Mundial, e as perdas, ainda que elevadas de ambos os lados, não chegam nem perto dos 9 milhões de militares mortos – sem falar num número equivalente de civis.
Em entrevista à DW, o historiador australiano Christopher Clark, autor de The sleepwalkers: How Europe went to war in 1914 (Os sonâmbulos: Como a Europa foi à guerra em 1914), também rejeitou uma comparação com o início da Primeira Guerra Mundial. Ele lembra que, em 1914, o conflito não começou com o ataque frontal de um país ao outro, mas com o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro.
Para ele, o início da Guerra da Ucrânia tem paralelos com o século 19, ou como o czar Nicolau 1º, em 1848, justificou a intenção de invadir e ocupar a Valáquia, na atual Romênia. "Acho que Vladimir Putin encara a Ucrânia como um território [da Rússia]", observou. "Estamos de volta ao mundo do século 19 e não ao mundo em 1914."
Bakhmut: a "fortaleza do Donbass" na linha de frente da guerra
Antes da invasão russa, Bakhmut tinha 70 mil moradores. Intensos combates entre tropas russas e ucranianas causaram mortes e destruição na estratégica cidade do Donbass, mas nem todos os civis a abandonaram.
Foto: LIBKOS/AP Photo/picture alliance
A cidade antes da destruição
Esta foto, tirada na primavera europeia de 2022, mostra murais com o tema "Família e Crianças" em Bakhmut. Em maio, a linha de frente da guerra chegou à cidade, e os tiros e bombardeios aéreos começaram. Muitas casas foram seriamente danificadas.
Foto: JORGE SILVA/REUTERS
"Você se sente um sem-teto"
Blocos de apartamentos no leste de Bakhmut foram os primeiros a serem atingidos por ataques russos. Hoje, os bairros se assemelham aos da cidade portuária destruída de Mariupol. "Você se sente um sem-teto, perdemos tudo. Não há para onde voltar", disse uma moradora chamada, Halyna, retirada de Bakhmut e cuja casa foi totalmente destruída.
Foto: Aris Messinis/AFP/Getty Images
Escola em ruínas
Dois professores de Bakhmut se abraçam em frente às ruínas de sua escola. Ela foi bombardeada pelo exército russo em 24 de julho de 2022. O prédio ficou bastante danificado. Não houve mortos ou feridos no ataque.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Patrimônio cultural em pedaços
O bombardeio russo causou a destruição de muitos prédios históricos importantes em Bakhmut, incluindo o Palácio da Cultura, a antiga casa particular do comerciante Polyakov da década de 1880 e o antigo ginásio para meninas. Edifícios mais modernos, que já foram o "cartão de visitas" de Bakhmut, também foram destruídos.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Preparativos para a retirada
Oleksandr Hawrys faz os preparativos finais para transferir a esposa e dois filhos de Bakhmut para Kiev. Em 7 de março de 2023, menos de 4 mil pessoas ainda estavam na cidade, que antes da guerra tinha 73 mil habitantes.
Foto: Metin Aktas/AA/picture alliance
Só ficaram os solteiros e os mais fracos
Mais de 90% dos residentes deixaram Bachmut e arredores. Por meses, algumas lojas e uma farmácia ainda funcionaram durante momentos de trégua. Instituições de caridade e voluntários levaram ajuda humanitária aos moradores da cidade.
Foto: ANATOLII STEPANOV/AFP/Getty Images
Eles resistem, apesar de tudo
A grávida Olha e seu marido, Wlad, em 28 de janeiro de 2023 em frente a um abrigo antiaéreo em Bakhmut. O casal está entre os poucos civis que permaneceram na cidade, apesar dos violentos combates. Atualmente, para entrar em Backmut é preciso um passe especial.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Viver sob medo constante
A aposentada Valentyna Bondarenko, de 79 anos, olha pela janela de seu apartamento em Bakhmut, em agosto de 2022. Por causa dos bombardeios sem fim e do perigo constante, muitos moradores de Bakhmut permanecem em porões e abrigos de emergência por meses.
Foto: Daniel Carde/Zumapress/picture alliance
O dia a dia num porão
"Estamos acostumados aos zumbidos e explosões", disse Nina, de Bakhmut, à DW. Suas filhas foram "para a Europa", mas ela e o marido pretendem ficar enquanto o exército ucraniano estiver na cidade. Se a situação piorar, eles querem deixar a cidade "para não perturbar os militares quando o inimigo se esconder atrás das casas".
Foto: Oleksandra Indukhova/DW
Na fila pela ajuda humanitária
A situação humanitária na cidade piorou, principalmente nos últimos meses de 2022, depois da ofensiva das tropas russas de 1º de agosto. A rede elétrica foi danificada pelos ataques e bombardeios. O abastecimento de alimentos se tornou difícil, e a telefonia móvel entrou em colapso. Até voluntários foram atacados.
Foto: Diego Herrera Carcedo/AA/picture alliance
Batalhas de artilharia pesada
As principais batalhas por Bakhmut são travadas entre unidades de artilharia. Segundo estimativas militares, quase toda a gama de artilharia e morteiros fica nesta área. Bakhmut é fortemente atacada por unidades do exército privado russo Grupo Wagner. Os militares ucranianos continuam resistindo aos ataques.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Bandeira ucraniana de Bakhmut no Congresso dos EUA
Em 20 de dezembro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou soldados ucranianos perto de Bakhmut. De lá, ele levou uma bandeira ucraniana, que deu à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, dois dias depois, durante sua visita ao Congresso dos Estados Unidos. A bandeira traz as assinaturas de soldados que defendem a soberania da Ucrânia nas linhas de frente.
Foto: Carolyn Kaster/AP Photo/picture alliance
Tratamento dos feridos em Bakhmut
As principais tarefas dos médicos militares no front são estabilizar os feridos, prevenir mortes por perda de sangue e choque e, em casos graves, garantir o transporte para hospitais de áreas mais seguras no interior do país.
Foto: Evgeniy Maloletka/AP Photo/picture alliance
Cidade está 80% em ruínas
A foto é dos últimos dias de dezembro de 2022. A fumaça sobe sobre as ruínas de casas nos arredores de Bakhmut. De acordo com as autoridades locais, em março de 2023 os violentos combates já haviam destruído mais de 80% da área habitacional da cidade.
Foto: Libkos/AP/picture alliance
Destruição registrada por satélite
Uma imagem de satélite divulgada pela Maxar em 4 de janeiro de 2023 mostra a extensão da destruição em Bakhmut. "A cidade tem sido o centro de intensos combates entre as forças russas e ucranianas nos últimos meses, e as imagens mostram danos significativos em prédios e infraestrutura", informou a empresa aeroespacial.
Foto: Maxar Technologies/picture alliance/AP
Cidade-fantasma
Esta foto de 13 de fevereiro de 2023, tirada por um drone da agência de notícias AP, mostra a extensão da destruição causada pelos combates. Fileiras inteiras de casas foram destruídas, apenas as paredes externas e as fachadas danificadas ainda estão de pé. Telhados, tetos e pisos desmoronaram, e a neve se acumula dentro das ruínas.
Foto: AP Photo/picture alliance
"Fortaleza Bakhmut"
Um soldado ucraniano diante de uma pichação no centro da cidade que diz "Bakhmut ama a Ucrânia". Embora a liderança política e militar da Ucrânia tenha decidido continuar defendendo o lugar, a Otan não descarta que Bakhmut possa cair, embora isso não signifique necessariamente uma virada na guerra.