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CatástrofeTurquia

Por que o terremoto na Turquia e Síria foi tão devastador?

7 de fevereiro de 2023

Socorristas correm contra o tempo para localizar possíveis sobreviventes nos escombros. Terremoto provavelmente será um dos mais mortais desta década.

Imagem aérea de ruínas de vila na Síria após terremoto
Na Síria, terremoto devastou vilas inteirasFoto: OMAR HAJ KADOUR/AFP

O terremoto que deixou um enorme rastro de destruição na Turquia e Síria nesta segunda-feira (06/02) provavelmente será um dos mais mortais desta década, segundo especialistas. O número de mortos nos dois países já passa de 5 mil e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pode chegar a 20 mil nos próximos dias.

Socorristas continuam buscando soterrados nos escombros, mas as chances de encontrar sobreviventes diminuem a cada hora. Em seus esforços, eles precisam enfrentar baixas temperaturas e muita neve em alguns locais.

Para especialistas, a dimensão da tragédia pode ser explicada por uma combinação de fatores, como horário do tremor, magnitude, localização e estrutura precária de edifícios construídos na região.

Intensidade do terremoto

O tremor atingiu uma magnitude de 7,8, sendo o terremoto mais forte registrado na Turquia desde 1939. Apenas três terremotos com magnitude maior do que 6 foram registrados na área desde 1970, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

Em agosto de 1822, um abalo de magnitude 7 deixou cerca de 20 mil mortos na região. Esse terremoto foi tão forte, que provocou tremores secundários até junho do ano seguinte.

Em Kahramanmaras, na Turquia, prédios desabaramFoto: IHA/REUTERS

O mais recente tremor liberou 250 vezes mais energia do que o terremoto de 6,2 que atingiu o centro da Itália em 2016 e deixou cerca de 300 mortos, segundo Joanna Faure, diretora do Instituto para Risco e Redução de Desastres do University College London (UCL).

Em média, há menos de 20 tremores com magnitude acima de 7 por ano no mundo. Entre 2013 e 2022, apenas dois dos terremotos mais mortais do período foram da mesma magnitude que o desta segunda.

O epicentro ocorreu a uma profundidade de 18 quilômetros – que é relativamente rasa – na Falha Oriental da Anatólia, localizada ao longo do limite leste da placa tectônica de mesmo nome. Segundo especialistas, quanto mais próximo da superfície for o abalo, mais severo ele é em comparação a um da mesma magnitude ocorrido a profundidades maiores.

Horário e localização

O epicentro se localizou próximo à capital da província de Gaziantep, um importante centro industrial no sudeste da Turquia. O terremoto irradiou para o nordeste, trazendo devastação para o centro da Turquia e norte da Síria – uma região bastante populosa.

Das mais de 20 milhões de pessoas que a OMS estima que podem ter sido afetadas pelo terremoto, cerca de 5 milhões estariam em situação de vulnerabilidade. Somente na Turquia, 13,5 milhões de habitantes vivem na região atingida pelo abalo sísmico.

Além disso, o tremor ocorreu às 4h17 (horário local), o que significa que as pessoas estavam dormindo e "ficaram presas quando suas casas desabaram", afirma Roger Musson, pesquisador do Serviço Geológico Britânico.

Outro fator que diminui as chances de sobrevivência é o clima frio do inverno, acrescenta.

Qualidade das construções

O especialista britânico pontua ainda que os edifícios construídos na região não são adequados para uma área suscetível a grandes terremotos. Isso pode se dever em parte ao fato de que a falha tectônica onde o terremoto ocorreu se manteve relativamente estável nos últimos tempos, aponta.

A Turquia está situada numa das zonas sísmicas mais ativas do mundo. Em 1999, um terremoto na Falha Setentrional da Anatólia deixou mais de 17 mil mortos. No entanto, o tremor desta segunda-feira ocorreu do outro lado do país.

Condições climáticas dificultam trabalho de resgasteFoto: Umit Bektas/REUTERS

A Falha Oriental da Anatólia não registrou um terremoto de magnitude 7 por mais de dois séculos, o que pode significar que pode ter havido uma "negligência em relação ao quão perigosa" ela é, afirma Musson.

A vulcanologista Carmen Solana, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, ressalta que edifícios resistentes a tremores são fundamentais em regiões suscetíveis a terremotos. "A infraestrutura resistente é infelizmente desigual no sul da Turquia e particularmente na Síria", acrescenta.

Em resposta ao terremoto de 1999, o governo turco aprovou uma lei em 2004 que exige padrões modernos à prova de terremotos em todas as novas construções do país. Faure, do University College London, afirmou que Ancara precisa controlar se a legislação está sendo cumprida e verificar a possibilidade de melhorar a segurança de prédios mais antigos.

Tragédia se soma à guerra

Em relação à Síria, o vulcanologista Bill McGuire, da UCL, lembra que muitas estruturas de construções na região já estavam abaladas devido à guerra civil que assola o país há 12 anos.

As províncias sírias mais atingidas foram Hama, Aleppo e Latakia. A zona devastada se divide entre o território controlado pelo regime de Damasco e o último enclave nas mãos da oposição, que está cercado por forças do governo, apoiadas pela Rússia.

Os impactos do terremoto se somam à crise humanitária provocada pela guerra, com o país enfrentando graves problemas econômicos e um surto de cólera.

cn/lf (Reuters, AFP)

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