Não é só a magnitude de um sismo que determina sua destrutividade. Profundidade, características do solo e os métodos e materiais de construção usados também são determinantes.
Vilarejo na província de Kunar destruído pelo terremoto de agosto de 2025 no AfeganistãoFoto: Wahidullah Kakar/AP Photo/dpa/picture alliance
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Escalas como a Richter, que medem a magnitude de um terremoto, são importantes por permitirem uma comparação entre as energias liberadas, mas dizem pouco sobre os danos causados. Estes dependem também da profundidade do sismo e das condições locais.
O recente terremoto no Afeganistão, que atingiu com mais força as províncias de Kunar e Nangarhar, teve magnitude 6 na escala Richter. Embora isso não seja extremamente forte, três outros fatores ampliaram a devastação: a baixa profundidade do sismo, as condições do solo e o uso disseminado de materiais de construção rudimentares.
Terremotos superficiais
O epicentro do terremoto foi localizado a uma profundidade de apenas 8 quilômetros. Terremotos que ocorrem a profundidades inferiores a 70 quilômetros são chamados de superficiais e têm um elevado poder de destruição porque a energia liberada atinge a superfície de forma direta e repentina.
No caso de terremotos superficiais, a probabilidade de danos graves aumenta nas zonas de subducção, como são chamadas as áreas geológicas onde uma placa tectônica é empurrada para debaixo de outra, o que frequentemente causa fortes terremotos.
Embora o Afeganistão não esteja localizado numa zona de subducção oceânica, ele está localizado numa zona de colisão, onde um antigo remanescente da placa indiana, nas profundezas do Hindu Kush, afunda lentamente no manto terrestre, desencadeando fortes terremotos.
Composição do solo
Em muitas regiões do Afeganistão, os solos têm baixa coesão ou são constituídos por sedimentos ou camadas de argila. Solos argilosos ou arenosos saturados de água podem se liquefazer durante um terremoto e, em consequência, perdem sua capacidade de suportar cargas. Isso pode fazer com que edifícios afundem ou deslizem. Em paralelo, especialmente após chuvas fortes, a umidade reduz a estabilidade das construções.
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Métodos e materiais de construção
As casas afegãs são frequentemente construídas com argila, pedras e tijolos de barro cru, em geral sem estruturas metálicas de apoio ou fundações de concreto. Esse método de construção é considerado particularmente vulnerável a terremotos, pois as paredes mal conseguem suportar vibrações e podem facilmente desabar.
Nas áreas rurais, há uma completa ausência de normas de construção e de estruturas resistentes a terremotos. Nas áreas urbanas, até mesmo casas de tijolos são construídas sem vigas de aço. Estimativas científicas mostram que mesmo terremotos moderados podem causar danos graves nessas condições.
Falta de estações sísmicas
Os terremotos devastadores de 2023 em Herat já haviam destacado a necessidade urgente de medições científicas no Afeganistão, dizem especialistas do centro alemão de pesquisa em geociências GFZ, de Potsdam, depois de décadas de instabilidade no país.
"Há apenas um número limitado de estações sísmicas e nenhuma medição adicional por satélite GNSS na extremidade oeste da falha geológica de Herat", declarou o GFZ após o terremoto de Herat. "Isso representa um desafio significativo para a modelagem precisa desses terremotos afegãos e para a obtenção de conclusões confiáveis."
Quando um terremoto se torna perigoso?
Além da magnitude na escala Richter, o perigo representado por um terremoto depende decisivamente da resistência das construções e da natureza do solo.
Somente a partir da magnitude 3,5 as pessoas começam a perceber tremores em áreas povoadas: elas sentem vibrações e leves movimentos. A partir da magnitude 5, móveis e objetos soltos tremem, e rachaduras visíveis surgem nas paredes de edifícios mal construídos.
A partir da magnitude 6, casas mal construídas desabam, pontes podem quebrar, pessoas são soterradas ou feridas por objetos que caíram. A partir da magnitude 7, mesmo edifícios robustos desabam, e bairros inteiros podem ser destruídos. A partir da magnitude 8, a destruição é muito grande e mesmo a centenas de quilômetros do epicentro pode-se ter por certo que houve muitas mortes.
Os terremotos mais fortes dos últimos 100 anos
Sismo de 6 graus de magnitude no Afeganistão causou morte de mais de 800 pessoas em agosto de 2025. No último século foram registrados tremores ainda mais fortes.
Foto: Toru Hanai/REUTERS
Chile teve o terremoto mais forte
O terremoto mais forte já registrado, de magnitude 9,5 graus na escala Richter, atingiu Valdívia, na costa sul do Chile, por 10 minutos, em maio de 1960. Foram destruídas cidades inteiras e a geografia da região foi alterada. Quase 6 mil pessoas morreram. E o tsunami gerado pelo sismo causou a morte de 130 pessoas no Japão e de 61 no Havaí. Na foto, ruínas do porto de Corral.
Foto: Getty Images/AFP
Grande Terremoto do Alasca
O terremoto que abalou o Alasca em 27 de março de 1964 também é conhecido como "o grande terremoto do Alasca". Ele segue sendo o mais forte já registrado nos Estados Unidos, com magnitude de 9,2. O movimento sísmico e o posterior tsunami mataram 139 pessoas. Na foto, a destruição causada no pequeno povoado de pescadores na ilha de Kodiak.
Foto: Getty Images/Central Press
Megaterremoto submarino no Oceano Índico
O megaterremoto submarino de 26 de dezembro de 2004 no Oceano Índico teve magnitude de 9,1. Ele desencadeou uma série de tsunamis devastadores, que causaram a morte de 280 mil pessoas em 14 países e inundaram cidades costeiras com ondas de até 30 metros de altura. Foi um dos desastres naturais mais mortíferos de que se tem registro. Na foto, a destruição em Sumatra, na Indonésia.
Foto: Getty Images/P.M. Bonafede/U.S. Navy
Terremoto seguido de tsunami no Japão
Um membro da equipe canina de resgate busca vítimas após o terremoto que causou destruição no noroeste do Japão em 11 de março de 2011, que atingiu 9,1 na escala Richter e foi seguido de um terrível tsunami. Eles causaram a morte de cerca de 18,5 mil pessoas e afetaram a planta nuclear de Fukushima.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
O terremoto de Kamchatka
Em 4 de novembro de 1952, foi registrado um tremor de magnitude 9 na costa da península de Kamchatka, no leste da Rússia. O tsunami que se seguiu causou destruição e mortes nas ilhas Kurilas. Mais de 2,3 mil pessoas morreram.
Mais uma vez no Chile
O tremor de magnitude 8,8 que afetou a costa do Chile em 27 de fevereiro de 2010 também está entre os mais fortes do século. Ele não causou tantas mortes como o tsunami posterior, que varreu várias localidades costeiras, elevando a cifra de mortos para 530. O sismo danificou o porto de Talcahuano e provocou perdas milionárias aos pescadores e à indústria local.
Foto: Getty Images/AFP/M. Bernetti
Sismo de 1906 atingiu Equador e Colômbia
Em 31 de janeiro de 1906, um terremoto também de magnitude 8,8 na escala Richter causou destruição e cerca de mil mortes no Equador e na Colômbia. O terremoto se deu devido ao choque das placas de Nazca e a Sul-Americana, causando um tsunami de vários metros de altura. O epicentro localizou-se no Oceano Pacífico diante da fronteira entre os dois países.
De novo o Alasca
O sismo de 4 de fevereiro de 1965 atingiu 8,7 de magnitude e teve seu epicentro nas Ilhas Rat, muito propícias a sismos porque se localizam entre as placas tectônicas do Pacífico e da América do Norte. Elas são um grupo vulcânico de ilhas integradas nas ilhas Aleutas, no sudoeste do Alasca. Na foto, a destruição causada pelo terremoto em Anchorage, maior cidade do Alasca.
Foto: U.S. Army
Em 1950, entre Índia e China
O terremoto de Assam-Tibete, entre Índia e China em 15 de agosto de 1950, atingiu a magnitude de 8,6 graus na escala Richter. O sismo causou destruição tanto na região de Assam, na Índia, quanto no Tibete, e foi fatal para cerca de 4,8 mil pessoas.
Alasca é área propícia a terremotos
O sul do Alasca fica na fronteira entre a Placa Tectônica Norte-Americana e a Placa do Pacífico. Em 9 de março de 1957, aconteceu nas ilhas Aleutas um terremoto de magnitude 8,6 na escala Richter.
Turquia e Síria: luto e indignação
Milhares de pessoas morreram no terremoto que atingiu a Turquia e a Síria em 6 de fevereiro de 2023, com uma magnitude de 7,8 na escala Richter. As cifras assustam: pelo menos 50 mil mortos, 214 mil prédios desabados ou em estado precário, milhões perderam suas moradias. Ao luto dos sobreviventes, juntou-se a indignação de constatar que, em muitos casos, não foram cumpridas normas de construção.
Foto: Diego Cupolo/NurPhoto/picture alliance
Terremoto deixa quase 3 mil mortos no Marrocos
O sismo de magnitude 6,8 teve epicentro próximo à cidade turística de Marrakech e foi o mais forte em 120 anos da história do país. O abalo também foi sentido na vizinha Argélia e até em Portugal. Mais de 2.900 pessoas ficaram feridas. Pessoas que foram deslocadas para abrigos nos arredores de Marrakech se diziam indignadas com a falta de planos de curto e longo prazo para realocá-las.
Foto: Mosa'ab Elshamy/AP
Mais de 800 morrem após tremor no Afeganistão
Mais de 800 pessoas morreram e pelo menos 2.800 mil ficaram feridas depois que um forte terremoto de 6 graus de magnitude e várias réplicas atingiram o leste do Afeganistão no final de agosto de 2025, segundo autoridades locais. O país governado pelo Talibã é propenso a terremotos mortais, especialmente na cordilheira Hindu Kush, onde as placas tectônicas da Índia e da Eurásia se encontram.