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PolíticaBelarus

Por que oposicionistas de Belarus buscam o exílio

Ilya Koval
8 de setembro de 2020

Um DJ, um operário, um designer de móveis: em comum, o fato de terem se erguido contra o governo Lukashenko. À DW, falam dos métodos das forças de repressão bielorrussas, e como veem o futuro do movimento de protesto.

Manifestantes alinhados ao longo de rua na Lituânia
Lituanos mostram solidariedade com ativistas bielorrussosFoto: Reuters/I. Kalnis

Em Belarus, prosseguem os protestos contra Alexander Lukashenko. Porém cada vez mais opositores do governo abandonam o país por medo de ser detidos e processados, as vizinhas Lituânia e Polônia lhes concedem asilo. Ativistas do movimento de protesto narram à DW por que tiveram que deixar seu país, se querem retornar e se lamentam ter protestado.

DJ Vlad Sokovsky (esq.) e um colegaFoto: DW/A. Boguslawskaya

DJ Vlad: "Nós vamos deixar vocês aleijados"

O DJ Vlad Sokolovsky foi mantido por dez dias no famigerado presídio Okrestina, na capital Minsk, só por ter tocado numa festa municipal a canção de Viktor Tsoi Change, que se transformou em símbolo do movimento de protesto bielorrusso. Em 22 agosto, ele foi forçado a sair do país, e hoje se encontra na Lituânia.

"Espero que isso só seja passageiro. A embaixada lituana nos ofereceu ajuda já em 17, 18 de agosto. Mas aí parecia que tudo tinha passado, e nós recusamos" conta. Em 21 de agosto, porém, veio o telefonema de um policial, querendo interrogar o DJ pelas entrevistas dadas após ser posto em liberdade, ao que ele se recusou.

Apenas horas mais tarde, a polícia batia a sua porta para levá-lo à delegacia, onde foi interrogado, também sobre sua entrevista à DW. Nela, Vlad narrava como o vice-ministro do Interior, Alexander Barsukov, o visitara na cela, ameaçando-o com uma longa pena de prisão, e lhe dera pancadas nas costas. Por isso, a polícia o ameaçava com um processo por calúnia e difamação.

"Aí Barsukov entrou na sala pessoalmente, com alguns acompanhantes. Um deles filmava tudo com o celular. Barsukov é que falava mais, muito emocional, eu praticamente não pude dizer uma palavra. Ele perguntou se alguém tinha me pagado. A ideia da coisa toda era: ou eu me desculpava, ou ele apresentava queixa por difamação. Eu me desculpei e assinei o papel. Agora vou manter essa posição, pois tenho parentes em Belarus, e não sei que consequências isso pode ter para eles."

Ao finalmente deixar a cela acompanhado por dois funcionários, Vlad, encontrou um homem com que dividira a cela em Okrestina, ao que tudo indica um informante secreto da polícia. "Então ficou claro que a coisa não ia acabar aí, e que eu precisava sair do país."

A embaixada da Lituânia expediu seu visto em poucas horas, ONGs providenciaram uma moradia para o período obrigatório de quarentena, e "muita gente já me ofereceu emprego".

A época mais difícil na prisão foram os cinco dias em que ele não tinha ideia do que se passava no país. "Aí escutei um guarda dizer no corredor: 'A gente vai deixar vocês aleijados, vocês não vão mais poder andar.' A noite toda eu ouvia gritos, sem parar. Todo mundo tinha medo que alguém entrasse pela porta. Isso foi o pior, nesse tempo todo."

Durante os protestos contra o governo, 7 mil cidadãos foram temporariamente presos, muitos sofreram torturas na prisão. Contudo, Vlad está confiante: "Nós vamos retornar a Belarus, tão logo seja seguro. Depois da minha volta, quero poder trabalhar sem ter medo."

Yuri Rovovoy ajudou a organizar grevesFoto: Privat

Líder grevista Yuri: "Sou mais útil aqui do que escondido"

Yuri Rovovoy, empregado da fabricante de fertilizantes Grodno Azot, era líder do comitê de greve local. Juntamente com seus colegas, ele exigiu que a produção fosse suspensa, em sinal de protesto. Em 24 de agosto viu-se obrigado a escapar para a Polônia.

"A decisão de ir embora foi espontânea. Depois do turno da noite, eu me deitei, e fui acordado por uma batida na porta. A supervisora do plantão, visivelmente nervosa disse: 'Eles espalharam areia aqui no corredor e na escada.'" Yuri entendeu imediatamente: se descesse para varrer a areia, agentes à paisana iriam apanhá-lo na saída de emergência, arrastá-lo para dentro de um carro e levá-lo embora. Nesse momento, ele decidiu fugir: um amigo o levou de carro, através da fronteira, até a Polônia, onde Yuri pediu asilo.

"Amigos me ajudaram a alugar um apartamento onde eu pudesse ficar os 14 dias de quarentena prescritos. Sei o que quero fazer em seguida: ganhar dinheiro com minha própria cabeça e as minhas próprias mãos. Mas não quero criar raízes aqui, nos meus pensamentos estou em Belarus. Assim que alguma coisa mude, pego logo o primeiro ônibus para Grodno."

Ele não lamenta ter liderado a greve, muitos a seu redor de início estavam inertes, embora quisessem o mesmo. "É gente que quer melhorar o país, mesmo fazendo greve. Todo mundo sabe que isso é necessário. Vai doer, mas não por muito tempo", crê Yuri, e acrescenta: "Acho que posso ser mais útil a partir de Varsóvia do que me escondendo no campo ou na casa de amigos."

Andrei Voronin foi acusado de corrupção ao se tornar politicamente incômodoFoto: Privat

Empresário Andrei: "O aparato de repressão é bem pensado"

Andrei Voronin é conhecido por seus móveis de designer de madeira. Em agosto, filiou-se ao conselho de coordenação oposicionista em Brest, no entanto, em breve também ele teve que abandonar o país, como escreveu em 26 de agosto no Facebook. Ele não quer revelar onde se encontra.

"Quando entrei para o conselho de coordenação, eu e outros membros fomos intimados a comparecer ao Ministério Público. Eles também vieram à minha oficina, onde estão máquinas e aparelhos, fotografaram e selaram tudo, interrogaram meus funcionários e revistaram a casa dos meus pais, que é meu endereço oficial."

O empresário foi ameaçado com uma pena de prisão de cinco anos por suposta sonegação de faturamento, uma quantia bem grande. "Ficou claro para mim que precisava ir embora de Belarus, para não acabar como preso político." Em duas horas, empacotou seus pertences e deixou o país com a esposa, de carro. Não houve problemas na fronteira.

"O aparato de repressão todo de Lukashenko é bem pensado. Não são só métodos como as torturas no presídio de Okrestina, também amigos e familiares são colocados sob pressão. Há muitas formas de reprimir uma pessoa." Apesar de tudo, tampouco ele lamenta ter se erguido contra o sistema.

"Tão logo Lukashenko e a gente dele tenham desaparecido – não duvido disso por um minuto – vou voltar imediatamente, porque amo Belarus, os bielorrussos, meus amigos e minha família. É preciso que reja o Estado de direito, e os direitos humanos devem ser garantidos. Não é o caso no momento: agora o que rege em Belarus são chicotes e espingardas de balas de borracha."

Andrei não crê que o protesto vá amainar: "Acho que todos que tiveram que deixar o país tentarão ajudar os que ficaram." Para a população, não há mais como voltar atrás politicamente.

Adaptação: Augusto Valente

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