Por que os populistas europeus não precisam de Trump
16 de maio de 2019Donald Trump é provavelmente o populista mais poderoso do mundo e, nitidamente, é o que mais concentra a atenção da imprensa. Mas isso não significa que ele é o responsável pela introdução desse conceito na política global moderna.
Muito antes da surpreendente ascensão de Trump a presidente dos Estados Unidos, populistas europeus já haviam se acomodado em escritórios políticos em todo o continente.
Na Áustria dos anos 1990, o Partido da Liberdade (FPÖ) ganhou popularidade e colocou o sistema partidário do país de ponta cabeça. Ao mesmo tempo, na Itália, o ex-magnata da mídia Silvio Berlusconi se transformou no primeiro líder populista moderno europeu quando assumiu o posto de primeiro-ministro, há 25 anos.
"Berlusconi foi meio que um canário na mina de carvão", diz Anna Grzymala-Busse, professora de estudos internacionais com enfoque em populismo na Universidade de Stanford. "Ele mostrou que era possível governar como um populista durante um governo caótico e que não tinha um programa muito coerente como base", recorda.
Entre os líderes populistas europeus pré-Trump, também estava Viktor Orbán, da Hungria, que foi recebido pelo presidente americano na Casa Branca no início desta semana (13/05). Orbán assumiu o poder pela primeira vez em 1998 e, logo em seguida, começou a atacar as instituições liberais democráticas do país, numa agenda que ele manteve e exacerbou desde o início de seu segundo mandato como primeiro-ministro, em 2010.
A cronologia mostra que populistas europeus existem de maneira completamente independente de Trump. Eles não precisavam nem precisam de seu apoio para serem bem-sucedidos, explica Grzymala-Busse. "Eles fizeram um trabalho muito bom de conquista da popularidade interna, sozinhos", acrescenta.
Esse populismo europeu é, em grande parte, de origem doméstica, e costuma ser alimentado por queixas específicas de cada país. Por isso, é difícil internacionalizá-lo. Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, aprendeu essa lição da pior maneira, quando tentou criar um grupo europeu de populistas de direita antes das eleições para o Parlamento Europeu, no final deste mês.
O esforço foi um amplo fracasso – o que não surpreende, segundo Mabel Berezin, socióloga da Universidade de Cornell e atualmente no Instituto de Estudos Avançados em Princeton. "Eles não precisam de Bannon", constata, referindo-se aos populistas europeus. "Eles estão se virando muito bem sozinhos."
Por isso, seria prematuro esperar que uma derrota potencial de Trump na tentativa de se reeleger em 2020 signifique necessariamente a derrocada do populismo na Europa, argumenta Grzymala-Busse.
Porém, apesar de haver poucas ligações concretas entre Trump e populistas europeus, os dois campos defendem uma posição política de base, mesmo que ampla e vaga. "Acho que eles compartilham muito da mesma ideologia, no sentido de que são céticos em relação a alianças internacionais, à democracia liberal e por simplesmente reivindicarem representar a população como um todo", define.
Além dessas posições ideológicas indefinidas, o elo mais comum entre Trump e populistas europeus é sua afinidade conjunta com a Rússia. "Eles também compartilham um apoio comum na Rússia e do fato de que a Rússia está muito ativa no suporte a movimentos na Europa e, como indicado pelo relatório Mueller, tem conexões com o presidente Trump também", diz Grzymala-Busse.
Apesar de populistas europeus não precisarem do apoio de Trump para ter sucesso, eles veem com bons olhos o fato de o presidente americano convidá-los para a Casa Branca, como ele fez com Orbán. "Sua capacidade de dar, de certa forma, um selo americano de autenticidade a personalidades como Orbán é profundamente perturbador", afirma Berezin, da Universidade de Cornell.
"Definitivamente, isso legitima Orbán e sua turma", assinala Grzymala-Busse. "O que Trump dá a eles é um brilho adicional de legitimação internacional. E ser aceito pelo maior populista entre eles torna Orbán mais poderoso e mais legítimo não apenas internamente, mas em toda a Europa", comenta.
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