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Por que tantos adultos sofrem de coqueluche?

27 de outubro de 2015

Nada de "doença de criança": negligenciados nas campanhas de vacinação, jovens e adultos viram alvo fácil da infecção. Regularidade de vacinas e reforços e registro dos casos são fundamentais para controle da coqueluche.

Foto: Fotolia/Lisa F. Young

Tosse convulsa prolongada por semanas ou meses, às vezes acompanhada de náusea. Se, além desses sintomas, a criança apresentar chiado na respiração, são grandes as chances de que esteja com coqueluche. Contudo a ideia de "doença infantil" ficou para trás. O patógeno tem atingido principalmente os adultos – que nem sempre apresentam a tosse característica, dificultando o diagnóstico inicial dos médicos.

Na Alemanha, a proteção contra a doença – ligeiramente mais frequente no outono e no inverno do que no resto do ano – não parece estar sendo suficiente: "As taxas de vacinação precisam melhorar", reivindica Wiebke Hellenbrand, especialista em doenças infecciosas do Instituto Robert Koch (RKI), em Berlim.

Cerca de 95% das crianças alemãs em idade pré-escolar são vacinadas contra a coqueluche, mas a taxa é bem menor entre adolescentes e adultos. Erradicar a doença por completo é improvável: mesmo quem já foi infectado uma vez não se torna definitivamente imune, como no caso do sarampo. E, como já se constatou há alguns anos, a vacina protege por no máximo dez anos.

Mas justamente os adultos tendem a esquecer de renovar a vacinação. "Onde não houve vacinação ou reforço, veem-se claramente mais casos diagnosticados entre adultos do que antes", diz o pneumologista Thomas Voshaar, da Sociedade Alemã de Pneumologia e Medicina Respiratória.

Ataques incômodos

A coqueluche é causada por bactérias, mas não são elas em si que fazem mal, e sim uma substância tóxica que secretam. Até agora, os antibióticos não têm "nenhuma influência comprovada" sobre o curso da doença, explica Voshaar. Se forem administrados no prazo de duas semanas após a infecção, encurtam o período em que o paciente pode transmitir a doença, "e mesmo isso não é uma certeza científica plena".

Segundo Hellenbrand, o diagnóstico precoce não é simples, especialmente entre fumantes ou alérgicos, que costumam ter tosses frequentes. Quando a coqueluche é detectada, porém, os médicos pouco podem fazer além de tornar a tosse suportável. "Não é fácil para o paciente, já vi gente com os sintomas por três a seis meses", relata Voshaar.

Um paciente de coqueluche não vacinado, que deseja permanecer anônimo, conta que a combinação de 16 dias de febre e ataques violentos de tosse colocou o médico da família na pista do diagnóstico. Ele não apresentou a violenta tosse convulsa característica, mas, desde agosto, persistia uma tosse que o acompanhava no metrô, no escritório e até na hora de dormir.

Adultos também precisam ser vacinados regularmente contra coqueluche

"Atrapalha socialmente a pessoa", reclama. Rir ou subir escadas desencadeavam os ataques, "e nada ajudava". Sua postura até então relaxada em relação à vacina mudou completamente desde que se infectou, possivelmente no metrô.

Controle e vacinação

Segundo Hellenbrand, os adultos nem sempre recebem a vacina combinada, que protege tanto contra o tétano quanto contra a coqueluche. Para jovens e adultos, a "tosse de cem dias" pode parecer apenas irritante. Em bebês não vacinados, ela pode causar apneia e, nos casos extremos, levar a complicações fatais. Estudos recentes mostram que, na maioria das vezes, os irmãos infectam os bebês, diz a epidemiologista.

Na Alemanha, as taxas de vacinação entre adolescentes e adultos são, em geral, maiores nos estados do Leste – pertencentes até 1990 à Alemanha sob regime socialista – do que no Oeste, aponta Hellenbrand. Lá a atenção é maior também porque já há um bom tempo é obrigatório notificar os casos de coqueluche.

Como em nível nacional essa obrigatoriedade só foi introduzida em 2013, os dados disponíveis são pouco representativos. Foram notificados ao RKI cerca de 10.450 casos em 2013, e 12.300 em 2014 – número significativamente maior do que a onda de sarampo de 2015, com 2.445 casos.

Além disso, os números provavelmente não cobrem todos os pacientes de coqueluche nas cidades do Oeste: "Costuma levar tempo até as pessoas reagirem a uma nova obrigação de notificação", justifica Hellenbrand.

Coqueluche no Brasil

Pelo menos para os bebês, anuncia-se uma nova alternativa de proteção indireta: nos Estados Unidos e no Reino Unido também foram vacinadas as grávidas, o que reduz significativamente o risco de as crianças de colo contraírem coqueluche. Contudo ainda não foram finalizadas todas as observações necessárias, ressalva Hellenbrand.

O Brasil também iniciou a vacinação de grávidas em novembro de 2014 pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além da coqueluche, a vacina protege o bebê também contra a difteria e o tétano. Na mesma época, o Instituto Oswaldo Cruz anunciou que conseguiu sequenciar o genoma da Bordetella pertussis, bactéria que vem causando a coqueluche no Brasil.

A informação pode ajudar a entender por que a ocorrência da doença aumentou tanto no Brasil, nos últimos anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2013 os casos de coqueluche saltaram de 605 para 6.368, e os óbitos passaram de 18 para 109.

AF/dpa/ots

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