Passagem crucial para o comércio marítimo entre o Atlântico e o Pacífico foi construída pelos EUA no início do século 20, que a controlou até o final da década de 1970. Taxas desagradam ao novo presidente americano.
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Com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ameaçando repetidamente assumir o controle do Canal do Panamá, e o governo panamenho insistindo que sua soberania sobre a hidrovia é "inegociável", os olhos do mundo mais uma vez se voltam para a passagem naval estratégica entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
Quem construiu o Canal do Panamá?
Trump está ansioso para lembrar ao mundo que os Estados Unidos construíram o canal há mais de um século e revolucionaram a navegação global a um custo enorme em vidas humanas. Antes de 1914, os navios que queriam ir do Atlântico para o Pacífico faziam uma viagem arriscada, de meses, pela América do Sul. Até mesmo os navios modernos levam cerca de duas semanas para concluir a viagem, enquanto a travessia do canal leva apenas de oito a dez horas.
Custo exagerado?
Trump afirmou recentemente que 35 mil ou 38 mil "homens americanos" morreram na construção do Canal do Panamá entre 1904 e 1914. E, embora milhares de vidas tenham sido de fato perdidas durante a construção para a malária, a febre amarela, acidentes industriais e outros fatores, a matemática precisa por trás da estimativa fornecida por Trump não está clara.
O número oficial de mortos no esforço de construção americano é de cerca de 5,6 mil pessoas e, embora o número real possa ser maior, a maioria esmagadora dos trabalhadores no local era de Barbados. O número de americanos que morreram durante a construção foi provavelmente em torno de 300, de acordo com Matthew Parker, autor do livro Febre do Panamá.
É possível que Trump esteja confundindo as vidas perdidas durante o esforço dos EUA para construir a hidrovia com um esforço anterior e fracassado da França. O projeto francês na década de 1880 custou a vida de 20 mil a 25 mil trabalhadores, embora quase nenhum deles fosse americano.
Por que o Panamá assumiu o canal?
Os EUA continuaram a operar o canal após sua abertura por muitas décadas. Em 1977, no entanto, o presidente Jimmy Carter concordou em passar gradualmente o controle da zona para o governo panamenho. O tratado estipulava que a hidrovia permaneceria neutra e aberta a embarcações de todas as nações. Os Estados Unidos também mantiveram o direito de defendê-la de qualquer ameaça.
Em 1999, os EUA concluíram sua retirada do Panamá. Desde então, o canal tem sido administrado pelo governo da Cidade do Panamá. Agora, Trump está acusando "os maravilhosos soldados da China" de operá-lo ilegalmente. O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, descartou essas alegações como absurdas.
"Não há soldados chineses no canal, pelo amor de Deus", disse Mulino há alguns dias.
Embora não haja nenhuma indicação da presença militar da China na área, alguns observadores dos EUA levantaram preocupações sobre dois portos que há muito tempo são administrados por uma subsidiária da CK Hutchison Holdings, com sede em Hong Kong, e sobre possíveis vazamentos de dados. Além disso, a cooperação do Panamá com Pequim no financiamento de uma nova ponte sobre o canal também levantou suspeitas em Washington.
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Por que o Canal do Panamá é importante?
Entre 13 mil e 14 mil navios cruzam a hidrovia de 82 quilômetros em um ano médio, de acordo com seus administradores. O sistema lida com dezenas de navios por dia, usando comportas, eclusas e reservatórios alimentados por um lago artificial para elevar as embarcações a cerca de 26 metros e trazê-las novamente para o nível do mar.
Os navios são cobrados pela travessia com base em seu tamanho.
Os Estados Unidos – seguidos pela China e pelo Japão – são os principais clientes do Canal do Panamá. Quase 72% da carga que passa por ali são provenientes ou destinados aos portos americanos.
Recentemente, a autoridade do canal foi forçada a reduzir o número de travessias devido à seca e, ao mesmo tempo, aumentar os preços. O canal gerou um lucro líquido de 3,45 bilhões de dólares (R$ 21 bilhões) no ano fiscal de 2024.
Como o comércio dos EUA é responsável por grande parte do tráfego do canal, seus negócios também sofreram o impacto dos custos elevados. Em dezembro, Trump acusou o Panamá de cobrar taxas "ridículas" e "exorbitantes", classificando-as como "roubo".
Os EUA podem retomar o canal ou reduzir os preços?
Os termos do tratado de 1977 assinado por Carter especificam que o Panamá deve preservar a neutralidade, impedindo seu governo de cobrar menos dos navios que transportam mercadorias dos EUA. No entanto, é possível que a pressão do governo Trump possa reduzir os preços em geral ou forçar a autoridade do canal a renunciar a taxas mais altas durante a próxima crise.
Outra opção menos provável é que os EUA assumam o controle militar do canal invadindo o país centro-americano. Washington fez isso no final de 1989, quando suas tropas foram enviadas para destituir o ditador e ex-funcionário da CIA Manuel Noriega.
Após a invasão americana, o governo do Panamá, apoiado pelos EUA, aboliu as Forças Armadas. O país de cerca de 4,5 milhões de habitantes mantém atualmente uma pequena força paramilitar.
Em declarações recentes, Trump não descartou a possibilidade de usar meios militares para resolver a disputa.
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Foto: MATTHEW HINTON/AFP
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