Dois anos após roubo, denúncia anônima ajuda polícia a encontrar na Noruega portão de ex-campo de concentração nazista. Objeto tem quase dois metros de altura e 108 quilos.
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A polícia anunciou nesta sexta-feira (02/12) que encontrou na Noruega o portão com a inscrição Arbeit macht frei (o trabalho liberta), que foi roubado há dois anos do antigo campo de concentração nazista de Dachau, localizado nos arredores de Munique.
"O portão está em boas condições e será devolvido às autoridades alemãs o mais rápido possível", afirmou a polícia da cidade norueguesa de Bergen, em comunicado.
A polícia chegou ao portão após uma denúncia anônima, mas não deu detalhes sobre a operação que localizou o objeto, somente declarou que ele estava ao ar livre. Uma fonte afirmou que ninguém foi preso. As autoridades norueguesas divulgaram duas fotografias do portão.
"É um alívio saber que essa evidência original do cinismo nazista e de seu desprezo para com os humanos foi encontrada", afirmou o diretor da Fundação de Memoriais da Baviera, Karl Freller.
O portão de 1,87 metros de altura e 108 quilos foi roubado na madrugada do dia 2 de novembro de 2014. Na época, a polícia alemã ofereceu 10 mil euros de recompensa por informações que levassem ao objeto.
Como o roubo aconteceu sem que fosse percebido é um mistério. Para levar o objeto, antes de arrancar a peça e carregá-la até um veículo, os ladrões tiveram que escalar o portão principal do complexo, que é guardado por seguranças, mas não possui alarmes.
Portão volta a Dachau
Depois do roubo, autoridades alemãs fizeram uma réplica do portão, que foi instalada em Dachau no ano passado para marcar os 70 anos da libertação do campo por tropas americanas, no fim de abril de 1945.
A diretora do memorial de Dachau, Gabriele Hammermann, afirmou que, depois que as autoridades concluírem as investigações e após uma restauração, o portão roubado será novamente exposto ao público. Ainda não foi decidido se ele será recolocado no seu local original.
Estabelecido pelos nazistas em março de 1933, apenas algumas semanas depois de Adolf Hitler tomar o poder, o campo de concentração de Dachau era destinado a prisioneiros políticos e foi o primeiro a ser construído na Alemanha, servindo de modelo para todos os outros campos de concentração.
Durante a Segunda Guerra Mundial, mais de 206 mil judeus, homossexuais, oponentes políticos, deficientes e prisioneiros de guerra foram presos em Dachau, sendo que mais de 41 mil foram mortos ou executados até 29 de abril de 1945, quando as tropas americanas libertaram os prisioneirosd o local. Hoje o memorial do campo de concentração atrai anualmente 800 mil visitantes.
CN/rtr/afp/lusa/ap
A arte e os horrores de Auschwitz
Exposição em Berlim mostra a obra de artistas que sobreviveram aos campos de concentração nazistas. Além de documentar atrocidades, eles fizeram arte.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Os artistas esquecidos
Enquanto a chamada "arte degenerada" dos artistas perseguidos pelo nazismo desperta atenção, quase ninguém conhece o trabalho dos artistas que estavam em campos de concentração. Pintores como Waldemar Nowakowski (foto) estão quase esquecidos. Por isso a importância do livro e da exposição "A morte não tem a última palavra", a ser aberta no prédio do Bundestag em Berlim, a partir de 27 de janeiro.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Horrores de Theresienstadt em gravura
Por mais de 15 anos, o autor, curador e historiador de arte Jürgen Kaumkötter se dedicou à arte dos perseguidos entre 1933 e 1945. Para isso, não considerou apenas quadros que surgiram nessa época, mas também aqueles que tematizaram os acontecimentos em retrospecto. Leo Haas executou esta gravura sobre Theresienstadt em 1947. Mas há também obras feitas no campo de concentração.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else-Lasker-Schüler- Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Pinturas no "museu do campo"
É sabido que artistas pintaram em Theresienstadt. Mas também em Auschwitz 1 houve um "museu do campo". Lá havia lápis, papel, pincéis à disposição dos artistas, para que executassem encomendas para a SS. Outros motivos surgiram secretamente. Em contrapartida, praticamente não há obras de arte oriundas de Auschwitz 2. Na foto: "Autorretrado de Marian Ruzamski", de 1943/44.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Imagem de sonhos em Auschwitz
O artista Jan Markiel criou esse retrato, em 1944, sem os materiais que tinha oficialmente à disposição em Auschwitz 1. A filha do padeiro do vilarejo próximo de Jawiszowice ajudou o prisioneiro trazendo pão e intermediando mensagens para a resistência. A têmpera utilizada pelo artista veio de pigmentos raspados da parede. O tecido grosso dos colchões de palha serviu como tela.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Testemunha dos crematórios
Em 1942, aos 13 anos, Yehuda Bacon (na foto, à dir.) veio para Theresienstadt e, em dezembro de 1943, para Auschwitz-Birkenau. Ele foi utilizado como mensageiro – podendo se aquecer nos fornos dos crematórios no inverno. O que testemunhou, ele relatou não somente durante o célebre Julgamento de Auschwitz em Frankfurt, mas também expressou nos desenhos que executou após a guerra.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else- Lasker-Schüler-Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Símbolo da morte
Yehuda Bacon mostrou esse desenho aos juízes em Frankfurt, como prova dos crimes cometidos em Auschwitz: chaminés retangulares dos crematórios, um chuveiro, pessoas que são apenas esboços. Para o historiador da arte Kaumkötter, esse desenho é um símbolo da morte nas câmaras de gás e da sepultura nos céus. Trata-se não somente de um testemunho, mas também de uma grande obra de arte.
Foto: Yehuda Bacon
A segunda geração
Michel Kichka é um dos cartunistas mais influentes de Israel. Em 2014, ele publicou a novela gráfica "Segunda geração – o que o meu pai nunca me contou", sobre o menino Kichka e o seu pai, sobrevivente de Auschwitz. Os traumas do pai passaram para o filho. Somente quanto ouve o pai contar piadas sobre o campo, Kichka consegue superar seus pesadelos.
Foto: Egmont Graphic Novel
Metáforas do Holocausto
Também os pais da artista israelense Sigalit Landau são sobreviventes do Holocausto, e o professor de desenho dela foi Yehuda Bacon, que trabalha até hoje como artista e professor de arte em Israel. Os trabalhos de Landau são repletos de alusões metafóricas ao Holocausto, como estes sapatos, que logo lembram a montanha de calçados que ainda hoje pode ser vista na exposição permanente de Auschwitz.
Foto: Sigalit Landau
A morte não tem a última palavra
Sigalit Landau coletou cem pares de sapatos em Israel e os afundou no Mar Morto. O mar os envolveu com uma camada de sal curativa – eles se tornaram símbolo da vida, em vez da morte. O desejo da artista era mostrá-los em Berlim, como sinal de que a esperança derrota o desespero. A mostra "A morte não tem a última palavra" está em cartaz até o dia 27 de fevereiro no prédio do Bundestag, em Berlim.