Ao se referir a ataque na Síria, Sean Spicer afirma que nem mesmo alguém "tão desprezível" como o ex-líder nazista lançou mão desse tipo de arma. Após polêmica, comunicado à imprensa rejeita negação do Holocausto.
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O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, gerou polêmica nesta terça-feira (11/04) ao afirmar que nem mesmo o ex-líder nazista Adolf Hitler usou armas químicas na Segunda Guerra Mundial, como supostamente fez agora o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Spicer estava tentando abordar o horror do ataque químico ocorrido na semana passada na Síria, pelo qual Washington responsabiliza o regime de Assad.
"Nós não usamos armas químicas na Segunda Guerra Mundial", disse Spicer, acrescentando que "alguém tão desprezível como Hitler não se rebaixou ao ponto de usar armas químicas".
Minutos depois, Spicer defendeu suas declarações, tentando diferenciar as ações de Hitler do recente ataque com gás tóxico no norte da Síria, que deixou mais de 80 mortos. Segundo o Ministério da Saúde turco, gás sarin foi usado.
"Acho que quando se trata de gás sarin, ele [Hitler] não usava gás contra seu próprio povo da maneira como Assad está fazendo", disse Spicer.
Após o pronunciamento à imprensa, Spicer enviou um comunicado a repórteres se retratando. "De maneira alguma eu estava tentando atenuar a natureza horrenda do Holocausto", escreveu. "Eu estava tentando traçar uma distinção com a tática de usar aviões para jogar armas químicas em centros populacionais. Qualquer ataque a pessoas inocentes é repreensível e imperdoável."
Apesar de nunca ter utilizado armas químicas no campo de batalha durante a Segunda Guerra, Hitler utilizou gases letais para exterminar milhões de judeus em câmaras de gás. Estima-se que o regime nazista tenha executado até 6 mil judeus por dia somente no campo de concentração de Auschwitz.
Duras críticas
Os comentários sobre Hitler logo causaram repercussão na comunidade judaica nos EUA. O Centro Anne Frank por Respeito Mútuo, em Nova York, pediu que o presidente Donald Trump despeça Spicer, afirmando que o porta-voz negou que Hitler tenha usado gás contra judeus durante o Holocausto.
"Spicer se envolveu na negação do Holocausto, a forma mais ofensiva de 'fake news' que se pode imaginar", disse Steven Goldstein, diretor-executivo da instituição.
Esta não é a primeira vez que o governo Trump é criticado por declarações relacionadas ao Holocausto e ao antissemitismo. No Dia Internacional da Lembrança ao Holocausto, em 27 de janeiro, a Casa Branca emitiu um comunicado sem fazer qualquer referência aos judeus.
LPF/ap/efe
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.