Porto Rico eleva para 2.975 número de mortos por furacão
29 de agosto de 2018
Com base em estudo, governo porto-riquenho corrige número oficial de mortes decorrentes do furacão Maria, de 2017, antes estimado em 64. Pesquisadores criticam falta de preparo da ilha para enfrentar desastres naturais.
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O número de mortos nos meses subsequentes ao furacão Maria, que atingiu Porto Rico no ano passado, foi elevado oficialmente pelo governo local de 64 para 2.975 pessoas nesta terça-feira (28/08).
O número de mortos foi alterado após estimativas divulgadas pela Escola de Saúde Pública do Instituto Milken, da Universidade George Washington. Os pesquisadores realizaram uma comparação entre a mortalidade prevista em circunstâncias normais e as mortes contabilizadas depois da passagem do furacão Maria, em setembro de 2017, e nos cinco meses subsequentes, até fevereiro de 2018.
"Falta-nos uma cultura de preparação", afirmou Carlos Santos-Burgoa, professor de saúde global e principal autor do estudo. Os ventos de 240 quilômetros por hora varreram a ilha e causaram danos materiais estimados em 90 bilhões de dólares. Grande parte de Porto Rico ficou sem eletricidade por meses.
"A preparação e o treinamento inadequados de funcionários para comunicação em situações de crise e emergência, somados a inúmeras barreiras a informações precisas e fatores que aumentaram a geração de rumores, diminuíram a percepção de transparência e credibilidade do governo de Porto Rico", observou o relatório.
"Os entrevistados disseram que não receberam informações sobre como atestar mortes durante ou em condições criadas por um desastre", afirmou o estudo.
Santos-Burgoa acrescentou que a instabilidade financeira e uma infraestrutura frágil deixaram a ilha caribenha particularmente vulnerável a eventos climáticos.
O governador de Porto Rico, Ricardo Rossello, anunciou imediatamente o aumento da contagem oficial do número de mortos com base no estudo da Universidade George Washington.
"Embora seja uma estimativa, estamos oficialmente mudando o número de mortos", disse. "Vamos considerar o número de 2.975 como a estimativa oficial do excesso de mortes como resultado do furacão."
O estudo também concluiu que o risco de morte era 45% maior para pessoas que viviam em "municípios de baixo desenvolvimento socioeconômico" e que os homens com mais de 65 anos apresentavam um risco elevado contínuo de morte.
Rossello afirmou que pretende formar uma comissão para implementar as recomendações do relatório e criar um registro das pessoas mais vulneráveis a tempestades futuras – como idosos, pacientes em hospitais ou em hemodiálise.
Um estudo anterior realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard estimou o número de mortes subsequentes ao furacão Maria em 4.645. Por outro lado, o relatório de Harvard refletiu a opinião do estudo da Universidade George Washington ao notar que os números "enfatizam a desatenção do governo dos EUA à frágil infraestrutura de Porto Rico".
Com ventos de mais de 240 quilômetros por hora, ciclone foi chamado de a "tempestade do século" pelas autoridades. “A vida como a conhecemos mudou”, disse a prefeita da capital San Juan.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Pilha de destroços
As ruas do centro histórico na capital, San Juan, ficaram repletas de destroços de varandas, telhados, aparelhos de ar condicionado, postes, linhas de transmissão derrubadas e pássaros mortos. Um homem morreu na região de Bayamón após ser atingido por uma tábua que usava para cobrir suas janelas.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Árvores caídas
Poucas árvores permaneceram sem danos após a tempestade, que trouxe ventos de mais de 240 quilômetros por hora. Moradores e motoristas tinham que achar seu caminho em meio a um labirinto de árvores caídas e ruas inundadas que bloqueavam muitas passagens.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Enchentes relâmpago
As ruas foram transformadas em correntes, e vastas partes da ilha ficaram alagadas após inundações repentinas. As autoridades descreveram as enchentes como "catastróficas". Na imagem, moradora do bairro de Puerto Novo, em San Juan, caminha em rua inundada.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
No escuro
A ilha toda ficou sem energia elétrica, e a rede de telefonia foi em partes desativada com a passagem do furacão. O chefe da agência do governo federal dos EUA para emergências Fema disse que pode levar dias até que a energia seja restaurada em Porto Rico e nas Ilhas Virgens Americanas.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Saques e prisões
Após o governo anunciar um toque de recolher para o período da noite, casos isolados de saques foram relatados na ilha e dez suspeitos foram presos. A tempestade deixou telhados de casas e lojas, como o supermercado na foto, danificados.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Busca por abrigo
O governo disponibilizou 500 abrigos de emergência para 67 mil pessoas. Dezenas de milhares de habitantes da ilha tiveram que buscar proteção. Na imagem, equipes de resgate ajudam uma idosa a ir para um centro de operações de emergência. Pelo menos dez pessoas morreram na região do Caribe.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Pertences para trás
Moradores de Porto Rico tiveram que deixar seus pertences para trás enquanto buscaram proteção em abrigos. Na imagem, homem busca itens de valor em casa danificada de um parente na área de Guayama.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
“Nossa vida como a conhecemos mudou”
A prefeita de San Juan, Carmen Ulin Cruz, caiu em lágrimas ao falar sobre a devastação provocada pela tempestade. “Nossa vida como a conhecemos mudou”, disse ela a jornalistas em um abrigo, cujo teto tremia enquanto Cruz dava a entrevista.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Danos totais são desconhecidos
O tamanho dos danos ainda é desconhecido, já que partes da ilha permanecem isoladas e sem comunicação. Na baía de San Juan, 80% das casas em uma pequena comunidade de pescadores ficou destruída.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Recuperação lenta
O governador da ilha, Ricardo Rosselló, chamou o fenômeno de “tempestade mais destruidora do século”. Segundo ele, pode levar meses até que os danos sejam reparados. Porto Rico atravessa no momento uma série de problemas financeiros, com a maior crise de dívida municipal na história dos EUA. O governo e empresas de serviços públicos pediram proteção judicial em meio a disputas com credores.
Foto: Reuters/A. Baez
Pior que Irma
Porto Rico também foi atingida pelo furacão Irma em 6 de setembro. Apesar de 1 milhão de pessoas terem ficado sem energia, não houve mortes ou sérios danos como em ilhas vizinhas. O Maria, porém, além de destruir inúmeras casas, arrancou janelas de hospitais e estações de polícia na ilha norte-americana.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Mudanças climáticas
Muitos cientistas estimam que tempestades severas como Maria, Irma e Harvey estejam ganhando intensidade como consequência das mudanças climáticas, embora sejam consideradas essencialmente fenômenos naturais.