Portugal homenageia diplomata que salvou milhares do nazismo
20 de outubro de 2021
Aristides de Sousa Mendes ganha placa no Panteão Nacional em Lisboa. Na Segunda Guerra, cônsul enfrentou a ditadura de Salazar e concedeu vistos para pessoas escaparem dos nazistas. Depois foi punido e morreu pobre.
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Portugal prestou homenagem na terça-feira (19/10) ao ex-diplomata Aristides de Sousa Mendes, que desafiou a ditadura de Salazar para emitir vistos a milhares de judeus e outros refugiados durante a Segunda Guerra Mundial.
Para homenageá-lo, uma placa foi colocada nas paredes do Panteão Nacional em Lisboa, que abriga os túmulos de figuras importantes da história portuguesa.
Em discurso na cerimônia, o presidente do Parlamento português, Eduardo Ferro Rodrigues, afirmou que as ações de Sousa Mendes honram Portugal. "São raras as pessoas que, no momento decisivo, colocam em risco a sua segurança e a de sua família em nome do bem maior. Sousa Mendes foi uma dessas pessoas", disse.
Vistos permitiram fugas através de Portugal
Um dos diplomatas mais famosos de Portugal do século 20, Sousa Mendes enfrentou seus superiores para conceder vistos a muitas pessoas que temiam ser caçadas pelos nazistas, quando ele trabalhava como cônsul em Bordeaux, na França.
Os vistos permitiam que as pessoas que fugiam do Holocausto escapassem, via Portugal, para os Estados Unidos e outros países, por transporte aéreo ou marítimo.
Acredita-se que Sousa Mendes tenha salvado 30 mil pessoas, incluindo 10 mil judeus. Como resultado de suas ações, ele foi julgado e destituído de seu título diplomático, e morreu pobre em um hospital de Lisboa com 69 anos de idade, em 1954.
Ele tem sido frequentemente comparado a Oskar Schindler, que teria salvado mais de mil judeus durante o Holocausto. Sousa Mendes recebeu o título póstumo de "Honrado entre as Nações" conferido pelo Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, em 1966, em nome do governo de Israel – foi o primeiro diplomata a receber a honraria.
Em 1986, Portugal concedeu postumamente a Sousa Mendes a Cruz do Mérito, e restabeleceu seu título diplomático. Em 2023, um museu será inaugurado na mansão abandonada de sua família, na freguesia de Cabanas do Viriato, perto de Coimbra.
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Cidades francesas também homenageiam diplomata
As cidades de Bordeuax, Bayonne e Hendaia, na França, também prestaram homenagem a Sousa Mendes nesta semana, com a presença da ministra francesa delegada à Memória e aos Antigos Combatentes, Geneviève Darrieussecq.
"Milhares de pessoas salvas por Aristides de Sousa Mendes tinham nacionalidade francesa e, por isso, é a França que homenageia este feito. A presença da ministra é o reconhecimento deste fato, e as autoridades francesas sempre homenagearam o diplomata português. É constante", disse Manuel Dias, vice-presidente do Comitê Aristides de Sousa Mendes em Bordeaux.
Houve uma cerimônia no domingo na sinagoga de Bordeaux e, na segunda, uma missa na catedral Saint André de Bordeaux, celebrada pelo arcebispo Jean-Paul James. Também na segunda, foram inauguradas duas placas na cidade, uma na rua Aristides de Sousa Mendes e outra na escola Aristides de Sousa Mendes, ambas situadas em um novo bairro da cidade.
"O que se tem lembrado é a ação extraordinária do cônsul Aristides de Sousa Mendes, as pessoas que ele pôde salvar e o papel de Portugal na Segunda Guerra Mundial, que acolheu cerca de 500 mil refugiados, sendo lugar de trânsito para muitos", disse Dias.
Em Bayonne, onde o diplomata emitiu parte dos vistos que salvaram cerca de 30 mil pessoas, haverá uma cerimônia no antigo consulado português na cidade. Já em Hendaia, uma outra cerimônia está prevista junto à placa em homenagem ao cônsul português, que fica em uma ponte na fronteira entre França e Espanha.
bl/ek (AP, Reuters, AFP, Lusa)
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.