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"Posição de Merkel deixa de considerar relações entre alemães e árabes"

Ibrahim Mohamad (ca)8 de agosto de 2006

Devido à atitude predominantemente não crítica do governo alemão perante Israel na crise do Oriente Médio, a Alemanha perde em reputação e influência no mundo árabe, opina Ibrahim Mohamad, da redação árabe da DW-WORLD.

Chanceler é solidária à Israel, opina jornalista da redação árabe da DW-WORLDFoto: AP

A chanceler federal Angela Merkel não tem escondido sua quase completa solidariedade com Israel. Ela lembrou o que deu origem à atual escalada numa região já instável como o Oriente Médio e instou o governo do primeiro-ministro israelense Olmert a manter as proporções nos meios de combate a utilizar. Mas ao mesmo tempo, exigiu do Hisbolá que liberte os soldados israelenses e dê um fim ao lançamento de mísseis contra Israel, antes que um cessar-fogo se torne possível. Há poucas dúvidas de que isto possa vir a significar uma carta branca para Israel continuar suas atividades bélicas.

Pouco sentimento com o mundo árabe

Ao contrário de seu antecessor, o ex-chanceler federal Gerhard Schröder, que tinha uma ampla consideração pela importância das relações árabe-alemãs, fazendo grande esforço para aprofundá-las, Angela Merkel tem mostrado pouco interesse nessa questão. As posições que ela toma em relação à guerra no Oriente Médio denotam indiferença quanto à importância e significado das relações entre a Alemanha e o mundo árabe.

'Schröder tinha consideração pelas relações árabe-alemãs'Foto: AP

Nos últimos dez anos, as relações comerciais entre a Alemanha e os países árabes vivenciaram um verdadeiro boom, aumentando entre 10% e 15% e atingindo um valor de 29 bilhões de euros em 2005. Para se ter uma idéia, em 2001, este volume comercial não chegou a 22 bilhões de euros. Além disso, investimentos árabes foram transferidos dos Estados Unidos para a Alemanha por conta das restrições norte-americanas após os atentados terroristas de 11 de setembro.

A repulsa à guerra do Iraque, que viola o direito internacional, em 2003, trouxe certamente um novo prestígio para a Alemanha como ator neutro – não somente no mundo árabe. Além disso, Schröder iniciou uma série de visitas a países árabes, principalmente no Golfo, o que levou firmas alemãs a muitos contratos de comércio e investimento naquela região. Estas visitas também contribuíram para uma aproximação das perspectivas de ambas as partes sobre o conflito no Oriente Médio.

Merkel se distancia da Europa

Apesar de o acordo de coalizão do governo na Alemanha estabelecer a continuidade da política para o Oriente Médio, politicamente Merkel se orienta pelo rumo estabelecido por Bush e Blair, o que levou a um enfraquecimento do eixo franco-alemão e, conseqüentemente, também com a Europa, cujo papel na política mundial parece hoje mais do que nunca enfraquecido, principalmente no que diz respeito ao Oriente Médio.

A política de Merkel para esta região se aproxima mais e mais, desde que ela assumiu o poder, da posição de Washington, o que se evidenciou com a eclosão da guerra no Líbano. Em seu primeiro comentário sobre a guerra, Merkel repetiu simplesmente a declaração de Bush sobre o direito de autodefesa de Israel, sem mencionar que civis não deveriam ser mortos e que as relações árabe-européias não deveriam ser prejudicadas.

E enquanto o responsável pelas Relações Exteriores da União Européia tentava chegar a um acordo sobre uma declaração conjunta exigindo um cessar-fogo imediato, Frank-Walter Steinmeier, ministro alemão das Relações Exteriores, apoiava Londres e exigia somente a suspensão das hostilidades.

Discrepância entre as elites e a opinião popular

A opinião popular e de políticos, cujo número aumenta cada vez mais com a clareza da dimensão da catástrofe humana provocada pelos bombardeios israelenses, difere da de Merkel, que até agora não visitou nenhum país árabe.

Ataque israelense em Khiam, no sul do LíbanoFoto: AP

Entre estes políticos, encontra-se a ministra alemã da Cooperação Econômica, Heidemarie Wieczorek-Zeul, que condena as violações do direito internacional por parte do governo israelense. Helmut Schäfer, antigo vice-ministro das Relações Exteriores, exige que Israel seja condenado da mesma forma que outros países quando infringem a Convenção de Genebra sobre a proteção da população civil. Este seria o caso na Faixa de Gaza e no Líbano.

Schäfer adverte que a política alemã ainda se encontra sob o cabresto do passado ao aceitar a perspectiva israelense, na convicção de que assim estaria ajudando a trazer a paz para o Oriente Médio. Ele acrescentou que, se a situação continuar assim, em breve a opinião pública alemã não fará distinção alguma entre o passado e a responsabilidade histórica, ao observar o conflito no Oriente Médio. A posição de Schäfer é compartilhada por dezenas de deputados e políticos, que em primeira linha pertencem à oposição e ao Partido Social Democrata (SPD).

Prejuízo para os interesses alemães

As posições da maioria dos líderes políticos na Alemanha quanto às ações de Israel no Líbano não só divergem da opinião pública, mas também prejudicam a boa reputação da Alemanha no mundo árabe, pondo em riscos seus interesses. Não só por suas dimensões econômicas, mas também pelas geográficas e históricas, estes interesses parecem ser, hoje em dia, mais importantes do que nunca.

Acrescente-se a isso o agravamento da situação no Iraque após a ocupação do país por norte-americanos e britânicos. Concomitantemente, o fato de a política alemã se orientar pelos Estados Unidos e Reino Unido enfraquece a União Européia, obstruindo suas tentativas de desenvolver uma política externa unificada quanto à questão do Oriente Médio, principalmente no que diz respeito ao conflito árabe-israelense.

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