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Posições de extrema direita avançam na Alemanha

21 de setembro de 2023

Estudo indica aumento de visões extremistas de direita entre os alemães. Pesquisa revela ainda que 7% dos entrevistados apoiam uma ditadura no país europeu.

Multidão tenta invadir o prédio do Parlamento alemão, em Berlim, em agosto de 2020
Tentativa de invasão do Reichstag, em Berlim, durante a pandemia , em agosto de 2020, simboliza o risco da democracia alemã Foto: JeanMW/imago images

Uma em cada 12 pessoas na Alemanha tem uma visão de mundo de extrema direita, segundo um estudo da Universidade de Bielefeld encomendado pela Fundação Friedrich Ebert (FES), que é ligada ao Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD). Realizada a cada dois anos desde 2002, a atual pesquisa, que foi divulgada nesta quinta-feira (21/06), ouviu cerca de 2 mil pessoas com idades entre 18 e 90 anos entre janeiro e fevereiro.

Dos entrevistados, 8% têm uma clara orientação política de extrema direita. Em estudos anteriores, o percentual oscilava entre apenas 2% e 3%. No atual levantamento, 7% dos alemães entre 18 e 64 anos apoiam uma ditadura de partido único forte e com um líder para a Alemanha. Isso é o dobro do que se verificava alguns anos atrás. Entre os maiores de 65 anos, o percentual cai para 5%.

DW Revista: A ascensão da ultradireita na Alemanha

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No prefácio do estudo, a pesquisadora Franziska Schröter, que lidera o projeto contra o extremismo de direita na Fundação Friedrich Ebert, credita a crescente simpatia a atitudes autoritárias às inúmeras crises recentes e atuais.

"As consequências da pandemia de covid-19 ainda não foram superadas, a crise climática está em pleno andamento e, depois de fevereiro de 2022, a invasão da Ucrânia pela Rússia trouxe mais incertezas e receios em relação à segurança energética ou aos aumentos de preços", disse.

Declínio de confiança no Estado

O estudo intitulado O centro distanciado foi publicado por um trio de pesquisadores liderado pelo psicólogo social Andreas Zick. Ele salienta que, quanto menor o salário dos indivíduos, maior a difusão de posições de extrema direita.

"As crises são percebidas por cada vez mais pessoas como crises nacionais. E essas afetam mais duramente aqueles que têm menos dinheiro. Entre os consultados com rendimentos mais baixos, uma em cada duas pessoas (48%) vê-se pessoalmente afetada pelas crises; esse é o caso de 27,5% dos consultados com rendimentos médios e de apenas 14,5% daqueles com rendimentos mais elevados."

Essa situação é acompanhada de um declínio na confiança nas instituições do Estado e no funcionamento da democracia, embora uma clara maioria apoie essa forma de governo. Mas pelo menos 38% assumem posições de teorias da conspiração, 33% adotam posições populistas e 29% têm atitudes etnonacionalistas-autoritárias-rebeldes.

Trata-se de um aumento médio de cerca de um terço em comparação com a pesquisa feita durante a pandemia, em 2020/21.

O ceticismo perante os meios de comunicação tradicionais, ou mesmo a rejeição deles, também aumentou: 32% acreditam num conluio da mídia com os políticos, em comparação com 24% há dois anos.

"Tempos de crise são momentos em que as pessoas se movem politicamente e se reposicionam. E esse posicionamento pode passar do centro para a direita", afirma Zick. "Quando pessoas do centro, que nem mesmo se veem ou se organizam como extremistas de direita, adotam atitudes da extrema direita da sociedade, aí então a democracia está em perigo."

Zick diz que esse é um fenômeno difícil de avaliar e menciona o estudo sobre autoritarismo da Universidade de Leipzig de 2022. Segundo ele, as atitudes de extrema direita diminuíram no segundo ano da pandemia, mas a insatisfação com a democracia ainda era elevada e muitos preconceitos misantropos eram amplamente difundidos.

"Sabe-se hoje que um grande número de extremistas de direita procurou a unidade organizacional com outros radicais de direita e outros grupos conspiratórios e antidemocráticos", comenta Zick. Muitas pessoas se aproximaram dos chamados cidadãos do Reich e até formaram células terroristas.

Para ele, o atual estudo faz parte do que na Alemanha se chama de cultura da memória, nome dado a todas as ações e iniciativas que servem para relembrar os horrores da ditadura nazista e ao mesmo tempo servir de alerta para que eles não se repitam.

"O nazismo surgiu no centro da sociedade e foi apoiado por ele, ainda que a ideologia e a implementação da sociedade fascista, incluindo a propaganda, a agitação e o terrorismo de Estado, tenham sido desenvolvidas e aplicadas por uma organização nazista."

O presente estudo também questiona como a sociedade deveria responder às muitas crises. O resultado: 53% são a favor de um regresso a valores nacionais. Eles defendem o isolamento do mundo externo e consideram os valores, virtudes e deveres supostamente alemães como essenciais para lidar com as crises.

Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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