Possível Caravaggio quase foi a leilão a preço irrisório
9 de abril de 2021
Espanha suspende leilão após suspeitas de se tratar de obra-prima perdida do mestre italiano. Cena bíblica tinha lance inicial de 1.500 euros. Se autoria for confirmada, ela pode valer até 100 mil vezes mais.
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O governo espanhol bloqueou o leilão de um quadro bíblico do século 17 nesta quinta-feira (08/04), sob a suspeita de que se possa tratar de uma obra-prima perdida do pintor italiano Michelangelo Caravaggio (1571-1610). Intitulada Coroação com espinhos, a pintura a óleo mostra Jesus logo antes da crucifixão. No catálogo da casa de leilões Ansorena ela era atribuída ao "círculo de José de Ribera", a um lance inicial de 1.500 euros (8.350 reais).
No entanto, apenas horas antes do início da venda pública, o ministro espanhol da Cultura, José Manuel Rodríguez Uribes, declarou que a obra "não é para exportação [...] por suspeita de se tratar de um Caravaggio" e, portanto, muito valiosa.
A casa de leilões de Madri acatou a decisão, complementando, através de uma porta-voz: "Quanto a quem a pintou, diferentes especialistas estão estudando a obra, e no momento não temos mais informações."
Segundo o jornal espanhol El Mundo, os proprietários (não identificados) tiveram dúvidas no último momento. Uma fonte do ministério relata que Uribes fora alertado na terça-feira, pelo Museu do Prado, de que haveria "suficientes evidências documentais e estilísticas para considerar que [....] possa ser uma obra original de Caravaggio".
O Ministério da Cultura também espera que as autoridades regionais da capital espanhola estendam maior proteção à peça, sob as leis relativas ao patrimônio espanhol. "Pedimos ao governo de Madri para declará-la interesse cultural, dobrando assim a garantia de que a pintura fique na Espanha", explicou Uribes.
Debate no mundo da arte
Peritos em artes plásticas estão divididos quanto a se a autoria é realmente do mestre natural de Milão. "É ele", afirmou ao jornal La Repubblica Maria Cristina Terzaghi, historiadora de arte da Universidade Roma Tre: a tela teria uma "conexão profunda" com outras do início da fase napolitana de Caravaggio.
Telas de Caravaggio são encenadas por atores na Itália
04:25
Segundo a italiana, o vermelho do manto de Jesus é o mesmo da tela Salomé com a cabeça de João Batista. Além disso, a imagem de Pôncio Pilatos em primeiro plano seria "reminiscente do São Pedro martirizado na Madona do Rosário", do Museu de História da Arte de Viena.
Para seu colega Vittorio Sgarbi, a confusão com o espanhol José de Ribera (1591-1652) é compreensível, já que ele era um "caravaggista". O perito está convencido de que se trata de um Caravaggio, com preço "entre 100 milhões e 150 milhões, se vendido a um colecionador privado", comentou ao jornal El Mundo.
O especialista francês Eric Turquin discorda. "Não vi o quadro, mas não fiquei nem um pouco convencido pela foto. Não podemos ter certeza, mas não acho que seja de Caravaggio", disse à agência de notícias AFP. Turquin "não vê" a mão do artista entre o Renascimento e o Barroco, embora a temática seja certamente própria dele. Em sua opinião, "foi provavelmente pintado entre 1600 e 1620 por um bom pintor, mas não por Caravaggio".
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Outro Caravaggio perdido
Não é a primeira vez que um possível Caravaggio agita os meios artísticos europeus. Em 2014, foi encontrada debaixo de um velho colchão, durante consertos no porão de uma casa em Toulouse, na França, uma cena bíblica. Após meses de exames, foi identificada como de autoria do mestre do claro-escuro.
Judite e Holofernes mostra a viúva hebreia decapitando o general assírio adormecido. Ela deveria ir à venda em junho de 2019, com valor estimado em mais de 140 milhões de euros. Porém um colecionador estrangeiro anônimo comprou a obra-prima perdida apenas dois dias antes do leilão.
av/ek (AFP, DPA)
Os mais espetaculares roubos de obras de arte da história
Armados, disfarçados de policiais ou de turistas, ladrões entraram para a história ao roubar valiosas pinturas e objetos de museus – da "Mona Lisa" a uma moeda de ouro de 100 quilos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Van Weel
Quando o sorriso de Mona Lisa desapareceu
Em 1911, o retrato feminino mais famoso do mundo – "Mona Lisa", de Leonardo da Vinci – foi roubado. Um jovem italiano, Vincenzo Peruggia, furtou a imagem do Louvre depois de se vestir como um empregado do museu parisiense e esconder a obra debaixo do casaco. A pintura reapareceu em 1913, após um comerciante de arte denunciar Peruggia à polícia.
Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
A pintura mais roubada
O retrato de "Jacques 3º de Gheyn", de Rembrandt, foi roubado quatro vezes da Dulwich Picture Gallery, no Reino Unido, em 1966, 1973, 1981 e 1986. Por isso, a pintura também é conhecida como "o Rembrandt para viagem". Também após o último roubo, a obra de arte felizmente foi recuperada.
Foto: picture-alliance/akg-images
Misterioso roubo em Boston
Em 1990, o roubo de 13 pinturas do Museu Isabella Steward Gardner, em Boston, nos EUA, atraiu a atenção internacional. Dois homens disfarçados de policiais invadiram o prédio e roubaram, entre outras obras de arte, "Chez Tortoni", de Édouard Manet, e "O Concerto" (foto), de Jan Vermeer. Até hoje, as molduras, sem os quadros, permanecem penduradas no local.
Foto: Gemeinfrei
O roubo espetacular de pinturas de Van Gogh
Em 1991, sem ser notado, um homem se fechou num banheiro do Museu Van Gogh, em Amsterdã, e roubou 20 pinturas com a ajuda de um supervisor. Entre elas, estavam o "Autorretrato diante do cavalete" (foto). No entanto, a polícia conseguiu recuperar as obras roubadas apenas uma hora depois, no veículo usado na fuga. Depois de alguns meses, os ladrões foram presos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Van Weel
"Virgem do fuso" desaparecida
A pintura de Leonardo da Vinci, avaliada em até 70 milhões de euros, foi roubada em 2003 de um castelo na Escócia. Dois ladrões, que entraram na exposição como turistas, dominaram o guarda do Castelo de Drumlanrig e fugiram com a obra. A imagem ficou desaparecida por quatro anos. Somente em 2007 ela foi recuperada após uma batida policial realizada em Glasgow.
Foto: picture-alliance/dpa
Roubo armado no Museu Munch
Em 2004, "O grito" e "Madonna", do expressionista Edvard Munch, foram roubadas em Oslo. Dois criminosos armados invadiram o Museu Munch e furtaram as obras diante de várias testemunhas. Durante uma busca, a polícia recuperou as duas pinturas. Porém, o estado de "O grito" era tão ruim que o quadro não pôde ser totalmente restaurado.
Foto: picture-alliance/dpa/Munch Museum Oslo
Roubo milionário na Suíça
Em 2008, ladrões armados roubaram quatro pinturas no valor de 180 milhões de francos suíços do museu privado Fundação Coleção Emil G. Bührle, em Zurique: "Rapaz de colete vermelho", de Paul Cézanne; "Conde Lepic e suas filhas", de Edgar Degas; "Amendoeira em flor", de Vincent Van Gogh; e "Campo de papoulas perto de Vétheuil" (foto), de Claude Monet. Todos foram recuperados.
Foto: picture-alliance/akg-images
Moeda de ouro de 100 quilos em Berlim
Em março de 2017, uma moeda de ouro de 100 quilos, com valor nominal de 1 milhão de dólares, foi roubada do Museu Bode, em Berlim. Os ladrões provavelmente usaram uma escada para entrar no edifício. A moeda, chamada de "Big Maple Leaf", é originária do Canadá, tem 53 centímetros de diâmetro e três centímetros de espessura. Na parte frontal, ela traz o retrato da rainha Elizabeth 2ª.
Foto: picture-alliance/dpa/F.May
2019: Roubo na Abóbada Verde em Dresden
Três conjuntos de joias foram roubados no museu Grünes Gewölbe (Abóbada Verde), no Palácio Real em Dresden, em 25 de novembro de 2019. Investigações iniciais apuraram que os ladrões entraram por uma janela e quebraram as vitrines, como mostra um vídeo.