Potências trocam acusações e elevam tom sobre a Síria
10 de abril de 2018
Supostos ataque com armas químicas executado pelo regime Assad e bombardeio de base militar síria por Israel estimulam retórica de guerra entre Estados Unidos, Rússia, França, China, Turquia e Irã.
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A China advertiu nesta terça-feira (10/04) os Estados Unidos contra uma opção militar na Síria e defendeu um acordo político como solução, após o presidente Donald Trump ter prometido uma decisão nas próximas horas sobre uma resposta militar ao alegado ataque químico em Duma.
Já a Rússia, aliada do regime do presidente Bashar al-Assad e que tem negado acusações de um ataque químico contra civis, advertiu os Estados Unidos contra as "graves consequências" de uma ação militar.
"Pedimos aos ocidentais que desistam da retórica de guerra", disse o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, no início de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para abordar o ataque em Duma, nesta segunda-feira. Ele afirmou que não houve ataque químico e que não há provas.
Nesta terça-feira, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, disse que seu país vai apresentar um projeto de resolução na ONU exigindo um inquérito conduzido por peritos independentes da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) sobre o alegado ataque químico em Duma.
Já o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, adversário de Assad, condenou o suposto ataque e afirmou que os seus autores vão "pagar caro". A Turquia, segundo maior Exército da Otan, conduz uma operação militar no norte da Síria contra as milícias curdas.
O Irã, aliado de Assad, alertou por sua vez que um ataque conduzido por Israel contra uma base militar síria, nesta segunda-feira, não ficará sem resposta. A agência de notícias oficial Tasnim afirmou que sete iranianos morreram no ataque.
Segundo a Rússia, Israel bombardeou na noite de segunda-feira a base militar síria T4, no centro do país, provocando a morte de 14 pessoas. Embora Israel não tenha confirmado o ataque, a imprensa americana informou que o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu compartilhou seus planos com os EUA antes de dois aviões israelenses lançarem oito projéteis, desde o território libanês, contra o base aérea.
Na Europa, a França afirmou nesta terça-feira que haverá uma resposta se for provado que as forças leais a Assad são responsáveis por um ataque com armas químicas. Trump conversou por telefone com o presidente Emmanuel Macron, e analistas avaliam que os EUA estudam uma resposta internacional coordenada.
Diante da troca de ameaças e acusações, a China pediu que se aguarde o resultado de uma investigação "exaustiva e imparcial, baseada em métodos científicos e provas sólidas que determine que se tratou de um ataque químico".
A Opaq anunciou nesta segunda-feira que investiga as informações sobre um alegado ataque químico à cidade de Duma, então o último reduto rebelde na região de Ghouta Oriental, mas que seu inquérito ainda está em fase preliminar.
Segundo os Capacetes Brancos, uma organização dedicada ao resgate de vítimas da guerra civil síria, o ataque causou mais de 40 mortos e é de responsabilidade das forças leais a Assad.
As forças do governo sírio estão de prontidão depois de Trump ter advertido, nesta segunda-feira, que não exclui a possibilidade de uma intervenção militar na Síria, afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos, uma ONG baseada em Londres.
AS/lusa/efe/ap/afp/rtr
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Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.