1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Pouso da Odysseus leva EUA novamente à Lua em 50 anos

23 de fevereiro de 2024

Pela primeira vez, espaçonave de empresa privada toca o solo lunar. Missão sucede outros lançamentos fracassados e êxitos de países como China, Índia e Japão. Relembre as recentes aterrissagens no satélite.

Ilustração de módulo na Lua e planeta Terra ao fundo
Intuitive Machines é a primeira empresa privada a conseguir pousar na LuaFoto: Intuitive Machine/abaca/picture alliance

Um módulo espacial dos Estados Unidos aterrissou nesta quinta-feira (22/02) na superfície da Lua pela primeira vez em mais de 50 anos desde a missão Apollo 17 – que encerrou o programa Apollo –, em 1972, e também se tornou a primeira espaçonave de construção privada a chegar ao satélite natural.

Após uma viagem de mais de um milhão de quilômetros, o módulo Odysseus, da Intuitive Machines, pousou com sucesso por volta das 17h23, horário central dos EUA (20h24 em Brasília), à beira da cratera Malapert – a cerca de 300 quilômetros do polo sul lunar, e após algumas alterações no horário de chegada.

Siga a DW Brasil no WhatsApp

"Houston, Odysseus encontrou seu novo lar", confirmou o diretor da missão, Timothy Crain, depois de alguns minutos durante os quais a comunicação foi perdida e os controladores não recebiam sinal da espaçonave.

"Hoje, pela primeira vez em mais de meio século, os Estados Unidos retornaram à Lua", disse o administrador da Nasa, Bill Nelson, logo após a confirmação do pouso de Odysseus.

Contratempos

O processo de pouso não foi isento de contratempos. Conforme relatado durante a transmissão, a ferramenta da Intuitive Machines que deveria ser usada para orientação durante a descida não funcionou, e a empresa foi forçada a usar um instrumento da Nasa.

A agência espacial dos EUA pagou 118 milhões de dólares (R$ 585,8) para transportar instrumentos científicos e tecnológicos contidos em seis cargas úteis, que fazem parte das 12 cargas transportadas dentro do módulo da série Nova-C da empresa.

A espaçonave, de 4,3 metros de altura e 675 quilos, decolou levada por um foguete Falcon 9 da Space X na madrugada de 15 de fevereiro do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, de onde fez uma viagem de quase sete dias.

Na quarta-feira, a Odysseus fez uma inserção bem-sucedida na órbita lunar e permaneceu a uma altitude de cerca de 90 quilômetros, onde permaneceu até a descida desta quinta-feira, mas não antes de compartilhar uma imagem da cratera Bel'kovich K, "nas terras altas equatoriais do norte da Lua", como observou a Intuitive Machines.

Para o processo de aterrissagem, que levou cerca de uma hora, Odysseus precisou de cerca de dez minutos para acender seu motor principal, que usa oxigênio líquido e propulsores de metano, e girar em posição vertical para pousar sobre seis pernas.    

Em Malapert A, onde as temperaturas diurnas ultrapassam 100 graus Celsius, a Odysseus permanecerá por aproximadamente sete dias até que a noite caia nessa região e o equipamento se torne inoperante.

Programa prepara pouso tripulado

A missão, chamada IM-1, faz parte da iniciativa Commercial Lunar Payload Services (CLPS) da Nasa, que também integra o programa Artemis, com o qual a agência espacial dos EUA planeja retornar às viagens tripuladas à Lua.

Parte desse programa foi o módulo de carga Peregrine, que decolou com sucesso em janeiro, mas a espaçonave sofreu um vazamento de combustível e acabou fazendo uma viagem de retorno à atmosfera da Terra para destruição controlada.

No caso da Odysseus, além dos instrumentos da Nasa, o módulo transporta encomendas de clientes particulares, incluindo a empresa de roupas e acessórios esportivos Columbia, que testará material isolante, e do artista Jeff Koons, que colocou 125 pequenas esculturas das fases da lua na espaçonave.

Lançamento do foguete Falcon 9, da SpaceX, que levou o Odysseus, no Cabo CanaveralFoto: Gregg Newton/AFP/Getty Images

Entre os diversos instrumentos da Nasa levados pela Odysseus estão alguns para melhor medição de combustível, assim como câmeras para capturar sons e imagens estáticas da coluna de poeira produzida pelo módulo de pouso ao iniciar sua descida à superfície lunar.

A área onde o módulo pousou nesta quinta-feira é uma das 13 regiões candidatas para a missão de pouso lunar tripulada Artemis III da Nasa, programada para setembro de 2026. A agência espacial acredita que essa região inexplorada pode conter depósitos de água congelada.

A missão da Intuitive Machines tem como objetivo consolidar um caminho para levar instrumentos científicos da Nasa à Lua, assim como cargas comerciais, e, dessa maneira, abrir caminho para uma presença humana sustentável no satélite natural.

Tentativas fracassadas

Tentativas de alcançar a Lua não são novas. O satélite natural está repleto de destroços de aterrissagens fracassadas. Recentemente, porém, houve grandes sucessos. Já algumas missões nem chegaram tão longe. Outra empresa dos EUA, a Astrobotic Technology, tentou enviar um módulo de pouso à Lua no mês passado, mas não chegou lá devido a um vazamento de combustível. O módulo de aterrissagem caiu de volta na atmosfera, queimando sobre o Pacífico.

Confira um resumo dos vencedores e perdedores na Lua:

Primeiras vitórias

A Luna 9 da União Soviética pousa com sucesso na Lua em 1966, depois que suas antecessoras caíram ou sequer conseguiram chegar ao satélite. Os EUA seguem quatro meses depois com a Surveyor 1. Ambos os países conseguem mais aterrissagens não tripuladas, enquanto a corrida se acirra para o pouso tripulado.

Apollo vence corrida

A Nasa vence a corrida espacial contra os soviéticos em 1969 com o pouso na Lua de Neil Armstrong e Buzz Aldrin, da Apollo 11. Doze astronautas exploram a superfície em seis missões, até o programa terminar com a Apollo 17, em 1972. Ainda o único país a enviar seres humanos à Lua, os EUA esperam levar tripulações de volta à superfície do satélite natural até o final de 2026, um ano depois de um voo tripulado sobrevoar a Lua.

Módulo Yutu-2 chegou ao lado oculto e inexplorado da LuaFoto: China National Space Administration/Xinhua News Agency/picture alliance

China entra na disputa

Em 2013, a China se torna o terceiro país a pousar com sucesso na Lua, ao lançar um veículo espacial chamado Yutu, que significa coelho de jade em chinês. Em 2019, a China realiza um segundo pouso, com o veículo especial Yutu-2, dessa vez chegando ao lado oculto e inexplorado da Lua, numa impressionante estreia.

Uma missão de coleta de amostras no lado próximo da Lua em 2020 recolhe quase 1,7 quilo de rochas e sujeira lunares. Outra missão de coleta de amostra deve ser lançada em breve, mas desta vez no lado oculto do satélite.

Vista como a maior rival da Nasa em relação à Lua, a China pretende colocar seus astronautas no satélite natural até 2030.

Rússia tropeça

Em 2023, a Rússia tenta fazer seu primeiro pouso lunar em quase meio século, mas a espaçonave Luna 25 se choca contra a Lua. O módulo de pouso anterior do país, o Luna 24 de 1976, não só pousou, mas trouxe rochas lunares à Terra.

Triunfo da Índia

Depois que seu primeiro módulo de aterrissagem se chocar contra a Lua em 2019, a Índia lança o Chandrayaan-3 (nave lunar, em hindi) em 2023. A nave aterrissa com sucesso, tornando a Índia o quarto país a conseguir um pouso lunar. A vitória ocorre apenas quatro dias após a queda da nave da Rússia.

Japão pousa no lado errado

O Japão se torna o quinto país a pousar com sucesso na Lua, com sua espaçonave aterrissando em janeiro. Mas a nave aterrissa do lado errado, comprometendo sua capacidade de gerar energia solar. Mesmo assim, consegue produzir imagens e ciência antes de silenciar quando começa a longa noite lunar.

Tentativas privadas

Um módulo de pouso com financiamento privado de Israel, chamado Beresheet, que em hebraico significa "no início", cai na Lua em 2019. Uma empresa japonesa, a ispace, lança um módulo de pouso lunar em 2023, mas ele também fracassa.

A Astrobotic Technology, uma empresa americana de Pittsburgh, lança seu módulo de pouso em janeiro, mas um vazamento de combustível impede o pouso e condena a nave. A Astrobotic e a Intuitive Machines planejam mais lançamentos à Lua.

md/cn (EFE, AP)